Leitura
inspiradora: Lc 2,34-35; Lc 7,11-17; Lc 19,1-10; Jo 4,1-42;
Jo 19,25-27
Meus irmãos e
minhas irmãs em Cristo,
Hoje somos
chamados a mergulhar profundamente no mistério dos encontros que
Jesus viveu — encontros que não foram apenas acontecimentos casuais, mas
revelações do amor de Deus que transforma, cura e salva.
Desde o
início da sua missão, Jesus caminhou entre nós como alguém que se
aproxima, que olha nos olhos, que toca as feridas, que escuta com o
coração. Encontros que marcaram vidas. Encontros que continuam acontecendo
ainda hoje.
1.
Jesus e os encontros que curam e restauram
Lembremos
o encontro de Jesus com a viúva de Naim (Lc 7). Uma
mulher que chorava a morte do seu único filho. Jesus se comoveu. Tocou o
caixão. Devolveu-lhe o filho vivo. Não foi apenas uma ressurreição física — foi
a ressurreição
da esperança. Quantas vezes nós também caminhamos em cortejos de morte — morte
da fé, da alegria, da coragem — e o Senhor vem ao nosso encontro, com
compaixão, para nos levantar!
E que dizer
do encontro com Zaqueu, o cobrador de impostos (Lc 19)?
Jesus não o julgou. Chamou-o pelo nome. Entrou em sua casa. E ali houve conversão,
partilha, justiça. Um encontro que restaurou uma história ferida.
Jesus também
se encontrou com a Samaritana no poço de Jacó (Jo 4). Uma
mulher marginalizada, marcada por julgamentos. Jesus a escutou, a valorizou,
revelou-se a ela como o Messias. E aquele encontro transformou a vida dela a
tal ponto que ela se tornou missionária entre os seus.
Todos esses
encontros nos revelam algo essencial: Jesus quer se encontrar conosco. Não como
juíz distante, mas como amigo próximo. Não para nos acusar, mas para nos
libertar. Não para nos humilhar, mas para nos erguer com dignidade.
2. O encontro mais doloroso: Maria e Jesus no
caminho da cruz
Mas
há um encontro que nos toca de forma especial nesta reflexão: o encontro de Jesus com sua
Mãe, Maria, no caminho do Calvário.
Imaginemos
aquela cena: Jesus carregando o peso da cruz. Sangue no rosto. O corpo exausto.
E, no meio da multidão hostil, o olhar de Maria.
No Silêncio do Coração de Maria abre-se um Diário
de Amor e Dor
Ali estava Ele.
O Filho amado de Maria.
Carregando o peso de um madeiro que não era d’Ele.
Pisando o caminho estreito da dor, da humilhação, da injustiça.
E ela… ela O seguia com os olhos cheios de lágrimas e o coração transpassado.
Como doía ver Aquele que Maria
havia gerado com tanto amor,
A quem embalou nos braços, agora caído sob o peso da cruz.
Maria se
lembrava do dia em que tudo começou.
Era ainda tão jovem…
Um anjo apareceu e lhe disse: “Alegra-te, Maria, o Senhor está contigo”
(Lc 1,28).
E ela disse SIM. Um sim que ecoa até hoje.
Ali, nasceu a promessa: Ele seria chamado Filho do Altíssimo.
Maria se
recordava da gruta fria de Belém, do choro d’Ele enchendo o silêncio da noite,
e de como seu coração se aquecia ao ter o Deus Menino em seus braços.
Viu pastores ajoelhados, viu reis de longe trazendo presentes.
E guardava tudo no silêncio do seu coração (Lc 2,19).
Na fuga
para o Egito, o medo os
acompanhava,
mas a presença do Menino lhe dava força.
Na volta a Nazaré, os dias eram simples,
mas cada gesto d’Ele lhe revelava algo do Céu.
Ela se lembrava do Templo,
quando o perdeu por três dias…
A angústia da procura. O alívio ao encontrá-Lo.
E as palavras que ainda ecoavam em sua alma:
“Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49)
Maria viu
seu Filho crescer, trabalhar
com José, sorrir, ajudar os vizinhos.
Depois O viu partir para anunciar o Reino.
Curas, milagres, palavras que despertavam esperança.
Ele se doava a todos…
E agora,
Ele se entregava ao sofrimento.
O sangue que escorria de
Suas feridas lhe fazia lembrar o sangue do parto.
As mãos que curaram tantos estavam agora machucadas.
A boca que ensinou o amor estava seca de sede.
O rosto que ela tantas vezes beijara… agora estava desfigurado.
Ah, quanto doía para Maria
ver tanta dor no Inocente!
Mas no mais profundo do seu ser, ela sabia:
Ele cumpria a vontade do Pai.
Ele era o Cordeiro. Ele era a oferta. Ele era o amor que se dava até o fim.
Se Maria pudesse, tomaria
aquela cruz em seu colo,
como um dia acolheu o Menino em seus braços.
Mas agora, tudo o que podia fazer era caminhar com Ele.
Estar ali. Presente. Mesmo sem palavras.
Maria era a Mãe.
E mesmo sem entender tudo, continuava dizendo o seu “sim”.
Agora mais dolorido, mais pesado…
Mas ainda assim: um sim de fé.
Porque mesmo no escuro do
Calvário,
ela acreditava que a luz viria.
E mesmo diante da morte,
ela continuava a crer na vida.
Naquela hora, a dor de Maria
se unia à de Jesus.
Seu coração sangrava com o d’Ele.
Mas o amor dela por Ele era mais forte do que nunca.
E enquanto caminhava ao lado
do Filho,
ela se lembrava de tudo,
e guardava tudo,
no silêncio profundo do seu coração”.
Não houve
palavras. Mas a troca de olhar, entre Jesus e Maria, foi mais forte que
qualquer discurso. Foi um encontro de dor e amor, de silêncio
e presença. Uma mãe que sofre com o filho. Um filho que, mesmo em agonia, se
fortalece no olhar da mãe.
Ali, no meio
do sofrimento, nos é revelado o rosto de uma fé firme, que permanece de pé
mesmo diante da cruz. Um encontro que nos mostra que não estamos
sozinhos em nossos calvários. Maria caminha conosco. E Jesus, mesmo ferido, continua nos
olhando com ternura.
3. Hoje, Jesus quer se encontrar comigo e
com você.
Meus
irmãos e irmãs, Jesus continua desejando encontros
transformadores. Ele quer encontrar-se comigo e com você — não apenas em momentos
extraordinários, mas no cotidiano da nossa vida, nas nossas
dores, angústias, alegrias, dúvidas e esperanças.
Ele quer nos
encontrar na oração, na Palavra,
na Eucaristia. Ele se revela no irmão necessitado, na criança,
no idoso, no estrangeiro, na ecologia, na casa comum, naqueles que mais
precisam de amor.
O Senhor nos
chama pelo nome e nos convida: “Hoje quero estar contigo, na tua casa, na tua
história”. Mas, para que esse encontro aconteça, é preciso abrir o coração.
É preciso sair da indiferença, do medo, da pressa.
Conclusão
Que
este momento de espiritualidade que vivemos hoje não seja apenas mais um
momento bonito, mas um encontro verdadeiro com Jesus. Um encontro
que nos leve à conversão, ao compromisso, ao amor concreto.
E
que, como Maria, saibamos estar de pé junto às cruzes do mundo, oferecendo ao
Senhor o nosso amor fiel, mesmo na dor.
Que
os encontros que Jesus teve ao longo da vida e aquele que Ele deseja ter
conosco hoje sejam pontes de transformação, sementes de
uma fé viva e esperança renovada. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário