quinta-feira, 17 de abril de 2025

Sermão do Encontro: "Encontros que Transformam"



Leitura inspiradora: Lc 2,34-35; Lc 7,11-17; Lc 19,1-10; Jo 4,1-42; Jo 19,25-27

Meus irmãos e minhas irmãs em Cristo,

Hoje somos chamados a mergulhar profundamente no mistério dos encontros que Jesus viveu — encontros que não foram apenas acontecimentos casuais, mas revelações do amor de Deus que transforma, cura e salva.

Desde o início da sua missão, Jesus caminhou entre nós como alguém que se aproxima, que olha nos olhos, que toca as feridas, que escuta com o coração. Encontros que marcaram vidas. Encontros que continuam acontecendo ainda hoje.

1. Jesus e os encontros que curam e restauram

Lembremos o encontro de Jesus com a viúva de Naim (Lc 7). Uma mulher que chorava a morte do seu único filho. Jesus se comoveu. Tocou o caixão. Devolveu-lhe o filho vivo. Não foi apenas uma ressurreição física — foi a ressurreição da esperança. Quantas vezes nós também caminhamos em cortejos de morte — morte da fé, da alegria, da coragem — e o Senhor vem ao nosso encontro, com compaixão, para nos levantar!

E que dizer do encontro com Zaqueu, o cobrador de impostos (Lc 19)? Jesus não o julgou. Chamou-o pelo nome. Entrou em sua casa. E ali houve conversão, partilha, justiça. Um encontro que restaurou uma história ferida.

Jesus também se encontrou com a Samaritana no poço de Jacó (Jo 4). Uma mulher marginalizada, marcada por julgamentos. Jesus a escutou, a valorizou, revelou-se a ela como o Messias. E aquele encontro transformou a vida dela a tal ponto que ela se tornou missionária entre os seus.

Todos esses encontros nos revelam algo essencial: Jesus quer se encontrar conosco. Não como juíz distante, mas como amigo próximo. Não para nos acusar, mas para nos libertar. Não para nos humilhar, mas para nos erguer com dignidade.

2. O encontro mais doloroso: Maria e Jesus no caminho da cruz

Mas há um encontro que nos toca de forma especial nesta reflexão: o encontro de Jesus com sua Mãe, Maria, no caminho do Calvário.

Imaginemos aquela cena: Jesus carregando o peso da cruz. Sangue no rosto. O corpo exausto. E, no meio da multidão hostil, o olhar de Maria.

No Silêncio do Coração de Maria abre-se um Diário de Amor e Dor

Ali estava Ele.
O Filho amado de Maria.
Carregando o peso de um madeiro que não era d’Ele.
Pisando o caminho estreito da dor, da humilhação, da injustiça.
E ela… ela O seguia com os olhos cheios de lágrimas e o coração transpassado.

Como doía ver Aquele que Maria havia gerado com tanto amor,
A quem embalou nos braços, agora caído sob o peso da cruz.

Maria se lembrava do dia em que tudo começou.
Era ainda tão jovem…
Um anjo apareceu e lhe disse: “Alegra-te, Maria, o Senhor está contigo” (Lc 1,28).
E ela disse SIM. Um sim que ecoa até hoje.
Ali, nasceu a promessa: Ele seria chamado Filho do Altíssimo.

Maria se recordava da gruta fria de Belém, do choro d’Ele enchendo o silêncio da noite,
e de como seu coração se aquecia ao ter o Deus Menino em seus braços.
Viu pastores ajoelhados, viu reis de longe trazendo presentes.
E guardava tudo no silêncio do seu coração (Lc 2,19).

Na fuga para o Egito, o medo os acompanhava,
mas a presença do Menino lhe dava força.
Na volta a Nazaré, os dias eram simples,
mas cada gesto d’Ele lhe revelava algo do Céu.

Ela se lembrava do Templo, quando o perdeu por três dias…
A angústia da procura. O alívio ao encontrá-Lo.
E as palavras que ainda ecoavam em sua alma:
“Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49)

Maria viu seu Filho crescer, trabalhar com José, sorrir, ajudar os vizinhos.
Depois O viu partir para anunciar o Reino.
Curas, milagres, palavras que despertavam esperança.
Ele se doava a todos…

E agora, Ele se entregava ao sofrimento.

O sangue que escorria de Suas feridas lhe fazia lembrar o sangue do parto.
As mãos que curaram tantos estavam agora machucadas.
A boca que ensinou o amor estava seca de sede.
O rosto que ela tantas vezes beijara… agora estava desfigurado.

Ah, quanto doía para Maria ver tanta dor no Inocente!
Mas no mais profundo do seu ser, ela sabia:
Ele cumpria a vontade do Pai.
Ele era o Cordeiro. Ele era a oferta. Ele era o amor que se dava até o fim.

Se Maria pudesse, tomaria aquela cruz em seu colo,
como um dia acolheu o Menino em seus braços.
Mas agora, tudo o que podia fazer era caminhar com Ele.
Estar ali. Presente. Mesmo sem palavras.

Maria era a Mãe.
E mesmo sem entender tudo, continuava dizendo o seu “sim”.
Agora mais dolorido, mais pesado…
Mas ainda assim: um sim de fé.

Porque mesmo no escuro do Calvário,
ela acreditava que a luz viria.
E mesmo diante da morte,
ela continuava a crer na vida.

Naquela hora, a dor de Maria se unia à de Jesus.
Seu coração sangrava com o d’Ele.
Mas o amor dela por Ele era mais forte do que nunca.

E enquanto caminhava ao lado do Filho,
ela se lembrava de tudo,
e guardava tudo,
no silêncio profundo do seu coração”.

Não houve palavras. Mas a troca de olhar, entre Jesus e Maria, foi mais forte que qualquer discurso. Foi um encontro de dor e amor, de silêncio e presença. Uma mãe que sofre com o filho. Um filho que, mesmo em agonia, se fortalece no olhar da mãe.

Ali, no meio do sofrimento, nos é revelado o rosto de uma fé firme, que permanece de pé mesmo diante da cruz. Um encontro que nos mostra que não estamos sozinhos em nossos calvários. Maria caminha conosco. E Jesus, mesmo ferido, continua nos olhando com ternura.

3. Hoje, Jesus quer se encontrar comigo e com você.

Meus irmãos e irmãs, Jesus continua desejando encontros transformadores. Ele quer encontrar-se comigo e com você — não apenas em momentos extraordinários, mas no cotidiano da nossa vida, nas nossas dores, angústias, alegrias, dúvidas e esperanças.

Ele quer nos encontrar na oração, na Palavra, na Eucaristia. Ele se revela no irmão necessitado, na criança, no idoso, no estrangeiro, na ecologia, na casa comum, naqueles que mais precisam de amor.

O Senhor nos chama pelo nome e nos convida: “Hoje quero estar contigo, na tua casa, na tua história”. Mas, para que esse encontro aconteça, é preciso abrir o coração. É preciso sair da indiferença, do medo, da pressa.

Conclusão

Que este momento de espiritualidade que vivemos hoje não seja apenas mais um momento bonito, mas um encontro verdadeiro com Jesus. Um encontro que nos leve à conversão, ao compromisso, ao amor concreto.

E que, como Maria, saibamos estar de pé junto às cruzes do mundo, oferecendo ao Senhor o nosso amor fiel, mesmo na dor.

Que os encontros que Jesus teve ao longo da vida e aquele que Ele deseja ter conosco hoje sejam pontes de transformação, sementes de uma fé viva e esperança renovada. Amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário