sexta-feira, 30 de abril de 2021

Regras Comuns da Congregação da Missão

 


 

“Jesus Cristo é a Regra da Missão”

São Vicente de Paulo, XII, 130

 

O estudo sobre a fundamentação bíblica nas Regras Comuns da Congregação da Missão, tem área de pesquisa junto à vida, obra e missão de São Vicente de Paulo por sua relação com as ciências bíblicas e jurídicas.

A análise das Regras Comuns, e por ela, aspectos relevantes das atuais Constituições e Estatutos da Congregação da Missão motivou-nos a, como sugeriu Mc Cullen (CCEE p. 6), não nos contentarmos em deixar no papel tal projeto, mas imprimi-lo em nossos corações e expressar em nossa vocação de pregar o Evangelho aos pobres. Uma vez que, de fato, as Constituições são um instrumento a nos capacitar para, mais efetivamente, amarmos o que São Vicente amou e praticarmos o que ensinou.

A Congregação da Missão foi fundada por São Vicente em 25 de janeiro de 1617, em Paris, França. O Santo colocando-se à disposição para responder o chamado de Deus em sua vida, colaborou significativamente para o exercício da missão e da caridade na Igreja de Cristo, doando-se todo como missionário do Pai, evangelizador dos pobres, formador do clero e organizador de obras caritativas e sociais, fundando também outras instituições eclesiais que existem  até os dias de hoje e inspirando, em todos os continentes, o surgimento de novas fundações que atuam como presença de Deus junto aos mais pobres e necessitados.

Detendo-nos um pouco mais nas Regras Comuns descobriremos a riqueza do texto e sua importante colaboração para as atuais Constituições e Estatutos da Congregação da Missão.

Primeiro, porque Vicente de Paulo, autor das mesmas, apesar dos limites próprios de sua época, tem estreita relação com a Palavra de Deus. De fato, se lançamos um olhar sobre a históra desde o século I até a época que viveu o Santo, século XVII, observamos que o acesso a Bíblia, nesse período, dava-se de forma tímida e com bastante limitação. Mesmo o cristianismo se tornando religião do Império Romano e a fé cristã deixando de ser perseguida, o acesso à Palavra continua restrito apenas ao clero ou a pessoas ricas e cultas, uma vez que os livros eram raros e estavam apenas em Latim. Em 1517 Lutero empreende a Reforma Protestante, criando uma nova religião e traduzindo a Bíblia para o Alemão, tempo em que a Igreja aplica a Contra-reforma com o Concílio de Trento (1545). São Vicente viveu na época da Igreja Tridentina. Ele lia diariamente as Sagradas Escrituras e motivava os missionários a também fazer o mesmo. São Vicente, com uma leitura encarnada da Palavra de Deus, não apologética e dogmática – como era comum da época, evangelizou os pobres, formou o clero e aplicou a revelação bíblica em sua própria vida.   

Depois identificamos a inspiração bíblica de São Vicente nas Regras Comuns. Vemos que as Regras tardaram quase trinta e três anos para serem redigidas e entregues aos missionários. Segundo São Vicente assim foi feito, “tanto para imitar a Cristo nosso Salvador, em ter começado primeiro a fazer antes de ensinar, como também para precaver muitos inconvenientes, que sem dúvida poderiam nascer da precipitada publicação das mesmas Regras.” (RC p. 101). As referidas regras estão reunidas em doze capítulos a saber:

Capítulo I - Fim e instituto da Congregação

Capítulo II - Máximas Evangélicas

Capítulo III - Pobreza

Capítulo IV - Castidade

Capítulo V - Obediência

Capítulo VI - Do que diz respeito aos enfermos

Capítulo VII - Modéstia

Capítulo VIII - Da mútua conversação dos nossos

Capítulo IX - Da conversação com os externos

Capítulo X - Dos pios exercícios que hão de observar-se na Congregação

Capítulo XI - Das missões e outras funções da Congregação em favor do próximo

Capítulo XII - De alguns meios e adjutórios requeridos para bem e frutuosamente se fazerem as sobreditas funções.

Todos esses capítulos estão permeados pela Palavra de Deus que fundamenta o defendido por São Vicente nos ensinamentos, orientações e deliberações do documento, que se centram nos Textos Sagrados e na pessoa de Nosso Senhor, a ponto de São Vicente sintetizar: “Jesus Cristo é a Regra da Missão” (SV XII, 130). Logo, a observância fiel das Regras Comuns é um dos melhores meios que Deus proporcionou aos missionários de conseguir a perfeição na caridade e a perseverança na vocação.     

O atual texto das Constituições e Estatutos tem sua origem nas Regras Comuns escritas, rezadas e vividas por São Vicente de Paulo. A última publicação, datada de 27 de setembro de 1984, procura responder os apelos da Igreja atualizando sua atividade apostólica sob a inspiração do Concílio Vaticano II.

Entendemos que o documento, além do valor jurídico normativo - mais presente nos Estatutos, e espiritual e fraterno próprio das Constituições, não se encerra nisso, uma vez que não se desfez das Regras Comuns, sendo nelas, segundo Rybolt (2008, p. 240) onde São Vicente expressa o “mais alto de sua reflexão espiritual e teológica sobre a vida do Missionário”. Tanta riqueza não poderia se limitar à Companhia, nem apenas as demais fundações que compõem os aproximadamente 160 ramos da Família Vicentina, já que segundo Flores (1995, p. 542) “mais de cem comunidades se orientam de perto ou de longe no ‘barquinho de São Vicente e observam sua estrela,’ tais como: Redentoristas, Salesianos e Missionárias da Imaculada Conceição”

As Constituições e Estatutos da Congregação da Missão não é um livro para ser esquecido na gaveta, limitar-se a estudo apenas na formação inicial, ou funcionar como um recurso que se recorre a ele sempre que se queira reclamar algum direito. Mas um manual que rege toda a vida do missionário, um livro de cabeceira que deve ser lido, rezado e vivenciado. 

Ideias de diversos autores nos ajudam a caminharmos, enquanto Congregação, rumo ao futuro sem esquecer do que sonhou São Vicente ao fundá-la, para tal, considera Braga (2000, p. 392-400) ser necessário observar algumas linhas essenciais: a) Viver o fim da Companhia, b) Fundamentar toda nossa ação em Cristo, c) Ser Igreja, d) Evangelizar e servir os Pobres.

Apesar da Companhia ser regida atualmente pelas Constituições e Estatutos publicados em 1984, o texto original das Regras Comuns, entregue por São Vicente aos missionários em 17 de maio de 1658, não perdeu seu sentido. O texto aparece na íntegra na edição vigente, entre os documentos Constituições e Estatutos, com a clara intenção que as Regras Comuns continuem também sendo lidas, rezadas e vividas em nossos dias e no futuro.

domingo, 25 de abril de 2021

MISSÃO DO JAPÃO – 25 ABR. 2021


Um lembrete importante neste domingo é a respeito do representante de Jesus, nesta geração. O rebanho atual de Jesus, a que chamamos Igreja, está confiado ao Papa. Ele é o pastor do rebanho desta geração. Junto com o Papa, estão os bispos das dioceses e os sacerdotes das paróquias e algumas comunidades, como eu. Agora, todos nós, o Papa, os bispos e os padres, somos os pastores da Igreja. Certamente, como seres humanos frágeis, não somos perfeitos e, portanto, não podemos realmente corresponder às qualidades perfeitas de Jesus, como o Bom Pastor.

Portanto, creio que este Domingo do Bom Pastor é também uma lembrança para as ovelhas de hoje, de seu papel e responsabilidades para com seus pastores. Que como membros da Igreja, sendo servidos por eles, seu papel é orar pela fidelidade desses pastores à sua missão e trabalho, para que cada um deles se torne um reflexo do Bom Pastor, Jesus.

Por fim, este domingo é uma lembrança de uma bela relação, entre o Amoroso Jesus e as pessoas que Ele tanto ama. Um lembrete da promessa de Cristo Ressuscitado de cuidado e preocupação contínuos para com todos. Amém.

domingo, 18 de abril de 2021

MISSÃO DO JAPÃO – 18 ABR.2021


Tendo recebido essa fé através dos esforços dos discípulos inspirados por Jesus, o que então devemos fazer com isso? Mantenho essa verdade de Jesus na privacidade de minha pessoa? Acredito que não seja isso que nosso Senhor quer que façamos. A boa notícia de nosso Senhor não poderia nos alcançar se ficasse guardada num lugar, se quem a tem, a mantivesse somente para si. Certamente, como aqueles que receberam esse primeiro anúncio e o transmitiram, Jesus também quer, que anunciamos, compartilhemos e demos testemunho de sua mensagem.

Mas como testemunharmos a Cristo em nossa vida cotidiana? Percebemos que muitos trapacearam ou entenderam errado a transmissão da mensagem. Não é ameaçando as pessoas com o fogo do inferno. Não é brigando com elas sobre versículos ou teorias bíblicas. Mas simplesmente, realizando o que os discípulos fizeram, anunciando a história de nosso próprio encontro pessoal com o Senhor.

Como, hoje, você está compartilhando com os outros, o seu modo de ser cristão?

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Filme Cobaias (Miss Evers' Boys) e a colaboração do Estudo Tuskegee para a Bioética

 



A sétima arte, mas especificamente ao filme “Cobaias” (Miss Ever’s Boys - 1997), “reflete muito bem os aspectos éticos envolvidos no projeto de pesquisa conhecido como Estudo Tuskegee, realizado em seres humanos no período de 1932 a 1972, pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos da América” (SILVA, 2007).

Nesse estudo um grupo de pessoas de aproximadamente 400 negras do Condado de Macon, Alabama, Estados Unidos, foi utilizado como cobaia num experimento sobre a evolução da sífilis não tratada. Essas pessoas não foram informadas que tinham sífilis e tiveram o tratamento negado mesmo depois do aparecimento da penicilina, que segundo Tauana Campos (2011), foi descoberta em 1928, por Alexander Fleming, mas utilizada como fármaco somente a partir de 1941. O Estudo Tuskegee foi patrocinado pelo governo americano e só foi interrompido quando a imprensa o revelou publicamente, causando protestos e indignação no povo americano.

Esse estudo somado ao “Estudo de Oslo”, citado no filme, e ao “Estudo de Rosahn”, bem como outras experiências desumanas, conforme  Campos (2011),  os realizados por Adolfo Hitler no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), onde prisioneiros de guerra, eram expostos a baixas temperaturas por períodos prolongados; infectados com diversas doenças (tifo, malária e outras) para testar drogas e vacinas; administração venenos para estudar seus efeitos letais; testes aplicando corantes químicos nos olhos de presos na tentativa de mudar suas cores, experiências com gêmeos, entre outros, serviram para abrir os olhos da sociedade sobre a criação de leis, no campo da bioética, que controlassem a pesquisa com seres humanos.

 Conforme Campos (2011), mesmo existindo documentos como o Código de Nuremberg (1947), que prevê o consentimento voluntário como pré­requisito essencial para a participação do ser humano em pesquisas médicas; a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), que defende o nascimento livre de todas as pessoas e igualdade em dignidade e direitos, e a Declaração Helsinque (1964), que configura-se como o primeiro esforço significativo da comunidade médica internacional para regulamentar a investigação em si; à comunidade negra do Condado de Macon foi negado esse direito, pois nunca lhe foi informado que estava sendo usada como sujeito de pesquisa. Conforme o filme, as pessoas ali estudadas acreditavam que estavam sendo tratadas da doença do “sangue ruim”. Como compensação, eram avaliadas periodicamente pelo médico, recebiam uma refeição quente no dia dos exames e o pagamento das despesas do funeral.

No longa, outros detalhes não passaram despercebidos aos nossos olhos, como foi o caso do racismo explícito, com locais específicos para os brancos lavarem as mãos; a luta da enfermeira e médicos negros, que mesmo cientes das deficiências do experimento, apostaram no mesmo, para provar, ainda que pela doença, que também nisso, brancos e negros estão no mesmo pé de igualdade; a manobra do Senado Americano em querer culpar os funcionários negros pelo escandaloso experimento, e o desejo dos protagonistas negros de fazer o melhor na fidelidade ao juramento da profissão.

O filme mostra que os valores econômicos, de poder e sucesso estão acima das vidas humanas, especialmente, quando essas vidas são de negros, pobres e periféricos, algo infelizmente presente também em nossos dias em diversos espaços da sociedade. Itens estudados em sala, como o comportamento do médico que sabe, pode falar e fazer e do paciente que é leigo, deve apenas obedecer e se submeter aos procedimentos; a questão da linguagem técnica ou a acessível aos clientes, e o comportamento que fere os atuais quatro princípios da Bioética estiveram presentes nas cenas, até porque, como foi comentado em sala, os mesmos ainda não tinham sido elaborados, passo dado apenas em 1978, por meio do Relatório Belmont, instrumento produzido graças a experiências como o Estudo Tuskegee, que ganhou mais repercussão internacional, com a publicação, em 1981, do livro “Bad Blood: The Tuskegee Syphlis Experiment” e da estreia, em 1997, do filme: “Miss Evers' Boys / Cobaias”.

Hoje, em se tratando de ciência, quase tudo que se pode imaginar, poderia ser realizado ou criado nos laboratórios, porém graças ao desenvolvimento da Bioética e da cobrança pelo cumprimento do que rege os princípios do Relatório Belmont, a saber: Autonomia, Beneficência, Justiça e Não-Maleficência, pesquisas tendem ser realizadas no âmbito da ética respeitando as pessoas em seu consentimento livre e esclarecido, levando em consideração a relação custo-benefício, permitindo a igualdade de acesso à participação nos estudos e distribuição dos resultados, e determinando a obrigação de não infligir danos intencionalmente ao paciente.

Ver o filme na íntegra!
 

REFERÊNCIAS

CAMPOS, Tauana. Filme “Cobaias” e o Caso Tuskegee: onde estava a bioética?. Biosferas. Unesp - Rio Claro, 2011. Disponível em: <http://www.rc.unesp.br/biosferas/Art0036.html> Acesso em: 30 mar. 2021.

SARGENT, Joseph. Cobaias. Filme, Drama/Guerra, 1h 58min., Estados Unidos, 1997. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5H24-PHs3Us> Acesso em 29 mar. 2021.

SILVA, Inês Schmitz Wessling da. Ética na pesquisa: uma abordagem do filme “Cobaias”. Disponível em: <https://web.unifil.br/docs/Congresso_Multiprofissional_III/artigo63.pdf> Acesso em 31 mar. 2021

domingo, 11 de abril de 2021

MISSÃO DO JAPÃO – 11 ABR.2021


Com Sua ressurreição, Jesus prometeu vida eterna em Seu Reino. E não há absolutamente nenhuma razão para duvidar desta grande promessa do Senhor Ressuscitado. Por um lado, Jesus não quebra Sua promessa. Por causa de Seu amor e grande misericórdia, Jesus cumpre Sua promessa. O que Ele nos pede é só que trabalhemos duro, em dobro, se necessário, para nos tornarmos seu seguidores fiéis. E, como Seus seguidores, permite que nossas vidas se tornem um sinal da Ressurreição.

Vamos irradiar e manifestar em nossa vida cotidiana paz, alegria e amor. Sejamos agentes desses frutos genuínos da volta à vida de Jesus. Portanto, evite o tipo de vida que nega ou contradiz a verdade do Senhor Ressuscitado - uma vida atribulada, violenta e triste.

Neste tempo de incertezas, preocupações e medos devido a esta pandemia, Jesus, neste tempo pascal, saúda-nos e traz-nos a mesma paz que deu aos seus discípulos. A mesma paz que nos levará a confiar na Sua Divina Misericórdia. E a mesma paz que nos levará a uma fé e otimismo mais profundos.