Parafraseando Dom Pedro II, “só a ida ao Caraça, valeu a pena a viagem a Minas Gerais”, assim que não apenas nós, mas todos os apaixonados por história, natureza, tranquilidade, comida boa e paz de espírito podem ir ao local e desfrutar das maravilhas que o Complexo Santuário do Caraça encerra.
Eu já tive a sorte de estar no Caraça algumas vezes, cada retorno renova-se em mim planos de futuras visitas ao mesmo. O complexo, pertencente à Província Brasileira da Congregação da Missão (PBCM), o local leva esse nome pelo fato de reunir nos 11.233 hectares da Reserva Particular do Patrimônio Natural (IBAMA Portaria 32/96-N) um centro de espiritualidade e missão, cultura e educação, conservação e preservação ambiental de lazer e turismo somado às sugestões de atividades que o lugar oferece.
O Santuário localiza-se há 120 km da capital mineira Belo Horizonte, e já conta com mais de 240 anos de história, iniciada em 1768 quando Irmão Lourenço de Nossa Senhora - membro da Ordem Terceira de São Francisco, adquiriu a sesmaria do Caraça construiu ali uma ermida dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens. Ir. Lourenço faleceu em 1819 com o sonho de que o Caraça se tornasse uma Casa de Missão, desejo esse implícito no testamento onde também entregava todos os seus bens a D. João VI, rei de Portugal, que por desígnios da Providência, em 1820, entregou a herança aos padres da Congregação da Missão, recém-chegados ao Brasil, Leandro Castro e Antônio Viçoso*. Uma vez no local os missionários abriram um colégio com a ajuda do noviço João Garcez, que se tornaria o primeiro padre da CM do Brasil, logo ali foi instalado um seminário (1863), mas com o incêndio que sofreu em 1968, o local foi reaberto como Centro de Peregrinação, Cultura e Turismo, tal como segue hoje.
A atual estrutura foi sendo construída pouco a pouco no decorrer de todos esses anos, um destaque especial para o presente Templo do Complexo que substituiu a ermida. Em 1880, Pe. Jules Clavelin, CM começou sua construção, que traz um estilo gótico, e conserva dois altares da capela anterior localizados à direita e à esquerda de quem entra na igreja, seu pátio externo ocupa o lugar do antigo cemitério, passando os mortos a serem enterrados nas catacumbas debaixo da igreja; a torre tem 48 metros de altura construída de pedra tirada do Caraça; os sinos de até 180 kg datam de 1792; a imagem de Nossa Senhora das Graças no dorso frontal da torre foi colocada em 1880, 50 anos das aparições da Santíssima Virgem em Paris - França; as mãos cruzadas aludem a irmandade franciscana de Ir. Lourenço; a cruz no alto da torre traz uma relíquia da cruz de Cristo, o relógio tem mecanismo sofisticado. Vale salientar ainda que o altar principal sobrepõe a uma relíquia insigne (corpo inteiro) do soldado romano São Pio Mártir (Vindo de Roma, em 1797), que na lateral esquerda pode ser contemplada o famoso quadro da Santa Ceia, do Mestre Ataíde (1828), e cinco vitrais franceses, um deles, doado pelo imperador Dom Pedro II, que mostram passagens da vida de Cristo a fim de que inspirasse os jovens formandos que os contemplassem no santuário, e claro a imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens – peça única, vinda de Portugal, que quando restaurada em 1990 foi encontrada uma relíquia com a seguinte oração:
“Ó Maria Santíssima, Mãe da Misericórdia e dos pecadores, aqui está a vossos pés o menor de todos e o mais índigo filho – Alexandre – escravo vosso. Lançai, minha mãe e Senhora, sobre a alma desse enorme pecador, a vossa santíssima bênção e ponde-me os vossos piíssimos olhos e intercedei por nós a vosso Santíssimo Filho, meu Deus de Amor e Misericórdia”.
As atrações do Complexo do Santuário do Caraça são bastantes a ponto de não comportar nesse artigo, estas vão desde o museu, centro de visitantes, loja de conveniência, biblioteca, restaurante com o melhor da gastronomia mineira, os jardins, os aconchegantes aposentos, o clima próprio da serra, as trilhas, laboratório a céu aberto para instituições de ensino interessadas na biodiversidade encontrada na sua fauna e flora, e como não poderia faltar, o encontro com o lobo-guará que há 36 anos, cada noite, permite o Caraça assistir a um ritual mágico, quando o mesmo vem comer no adro da igreja.
*Vale salientar que os primeiros padres lazaristas a virem ao Brasil foram: Pe. Manoel de Brito que foi reitor do seminário São José do Rio Comprido - RJ de 1810 a 1813, Pe. José Cardoso de Brito seu sucessor de 1813 a 1814 e Pe. Alexandre Macedo, que autorizado pelos seus superiores, serviu como Procurador da Corte do então Príncipe Regente de Portugal, D. João VI, vindo ao Brasil fugido da ameaça de Napoleão Bonaparte, em 29 de novembro de 1807. (cf. SOUZA, Maria Rebouças de “Ir. Rosalie”. História das filhas da caridade da província do Rio de Janeiro – Brasil 1849 – 2003. Ed. Vozes, Petrópolis – RJ, 2016)
*Vale salientar que os primeiros padres lazaristas a virem ao Brasil foram: Pe. Manoel de Brito que foi reitor do seminário São José do Rio Comprido - RJ de 1810 a 1813, Pe. José Cardoso de Brito seu sucessor de 1813 a 1814 e Pe. Alexandre Macedo, que autorizado pelos seus superiores, serviu como Procurador da Corte do então Príncipe Regente de Portugal, D. João VI, vindo ao Brasil fugido da ameaça de Napoleão Bonaparte, em 29 de novembro de 1807. (cf. SOUZA, Maria Rebouças de “Ir. Rosalie”. História das filhas da caridade da província do Rio de Janeiro – Brasil 1849 – 2003. Ed. Vozes, Petrópolis – RJ, 2016)
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