sábado, 6 de setembro de 2025

Missão do Japão 07/09/2025: 23º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 14,25-33) Homilia


 

Homilia: O Custo do Discipulado

Caros irmãos e irmãs em Cristo,

A liturgia da Palavra deste 23º Domingo do Tempo Comum nos coloca diante de uma verdade desafiadora e, talvez, desconfortável: o seguimento de Jesus tem um custo. Não é um caminho fácil, nem um passeio tranquilo. É uma jornada que exige de nós uma decisão radical, uma renúncia, um "deixar tudo" por amor a Ele.

Na primeira leitura, do livro da Sabedoria, somos convidados a refletir sobre a nossa capacidade de compreender a vontade de Deus. O autor sagrado nos diz que "o que está no céu, quem pode perscrutar? E o que vós quereis, quem pode conhecer, se vós não lhes derdes a Sabedoria?" (Sb 9, 13-14). A sabedoria de que fala o texto não é a inteligência humana, mas sim o dom do Espírito Santo que nos permite enxergar o mundo e a nossa vida com os olhos de Deus. É essa sabedoria que nos capacita a discernir e a abraçar a proposta de Jesus.

A segunda leitura, da carta de São Paulo a Filêmon, nos apresenta um exemplo concreto de renúncia e de perdão. Paulo pede a Filêmon que receba Onésimo, um escravo fugitivo, não mais como escravo, mas como um irmão muito amado. Paulo, que está preso, renuncia ao seu próprio direito e se coloca no lugar de Onésimo, pedindo a Filêmon que "receba-o como se fosse a mim mesmo" (Fm 12,17). É um ato de amor radical, de identificação com o outro, de esvaziamento de si. Paulo nos mostra que a renúncia de que fala Jesus não é uma negação de nós mesmos, mas uma entrega, um "dar-se" por amor aos outros.

O evangelho de Lucas é o ápice desta reflexão. Jesus fala abertamente sobre o que é preciso para ser seu discípulo: "Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lc 14, 26). A palavra "odiar" usada por Jesus, em grego, tem um sentido hiperbólico. Não significa um sentimento de aversão, mas sim uma prioridade absoluta. Jesus nos diz que, para segui-lo, Ele precisa ser o primeiro, o mais importante de tudo em nossa vida, acima de qualquer laço familiar, amizade ou até mesmo da nossa própria vontade.

A seguir, Jesus nos convida a "tomar a sua cruz e segui-lo" e a "renunciar a todos os bens" (Lc 14, 27.33). Ele nos coloca diante de um desafio: o de calcular o custo. Ele usa a imagem de quem quer construir uma torre ou de um rei que vai para a guerra. É preciso planejamento, é preciso saber se temos os recursos necessários para a empreitada. No nosso caso, o recurso principal é a nossa total entrega a Ele.

O que significa "renunciar a todos os bens"?

A renúncia de que fala Jesus não é uma negação do mundo, mas uma priorização. Não se trata de abandonar nossos bens, nossa família, nossa vida, mas de colocá-los sob a perspectiva de Cristo. Ele deve ser o centro de tudo. A renúncia não é um fim em si mesma, mas um meio para um fim maior: a plena comunhão com Deus.

Quando Jesus nos pede para renunciar a tudo, Ele não está pedindo para que vivamos na miséria ou que sejamos insensíveis aos nossos familiares. Pelo contrário, Ele nos convida a nos libertarmos das amarras que nos impedem de amá-lo e de amar o próximo de forma genuína e desinteressada.

A renúncia é um ato de liberdade. É dizer "sim" a Jesus, mas para isso, é preciso ter a coragem de dizer "não" a tudo que nos afasta d'Ele. É ter a sabedoria de que fala o livro da Sabedoria: a sabedoria que nos permite discernir e escolher o que realmente importa.

O desafio de hoje

Neste 23º Domingo do Tempo Comum, somos convidados a olhar para a nossa própria vida e a nos perguntarmos: O que ocupa o primeiro lugar no meu coração? A quem eu estou servindo? Minha vida é um reflexo do Evangelho ou das lógicas do mundo?

Que a Virgem Maria, a primeira e a mais perfeita discípula, nos ajude a abraçar a cruz de Cristo, a renunciar a tudo que nos impede de segui-lo e a caminhar com coragem na construção do Reino de Deus. Amém.

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