Queridos irmãos e irmãs,
As leituras deste domingo nos colocam diante
de duas grandes imagens: a universalidade da salvação, que Deus deseja
estender a todos os povos, e a porta estreita, que exige esforço e
fidelidade para ser atravessada. Essas duas imagens iluminam de maneira muito
especial a nossa vocação como discípulos de Jesus, e hoje quero convidar a
refletirmos sobre a vocação laical, tão essencial para a vida da Igreja.
No livro do profeta Isaías (Is 66,18-21), o
Senhor anuncia que reunirá todas as nações e línguas, e que todos verão a sua
glória. É uma visão de esperança: ninguém está excluído do convite de Deus. O
próprio Senhor suscita missionários, pessoas comuns, vindas de diferentes
povos, que serão enviados para anunciar sua glória até os confins da terra.
Aqui já vemos que a missão não é privilégio apenas de alguns, mas é tarefa de
todos os batizados. Cada leigo e leiga, com sua vida, é chamado a ser sinal da
presença de Deus no mundo.
A carta aos Hebreus (Hb 12,5-7.11-13) nos
recorda que seguir Jesus não é caminho de facilidades. É um caminho que exige
disciplina, perseverança e confiança no Pai que nos corrige por amor. Para o
leigo e para a leiga, isso se concretiza na fidelidade no cotidiano: no
trabalho, na família, no estudo, no cuidado com os filhos, na honestidade
diante das tentações da corrupção, na solidariedade diante das necessidades dos
mais pobres. É ali, na vida comum, que se passa pela porta estreita.
E no evangelho (Lc 13,22-30), Jesus nos alerta
que entrar no Reino não depende apenas de palavras ou de aparência de
religiosidade. Muitos dirão: “Comemos e bebemos contigo, e tu ensinaste em
nossas praças”. Mas Jesus responde: “Não sei de onde sois”. O que decide é o
compromisso real com a vida nova do Evangelho. A porta é estreita porque exige
coerência, conversão, amor que se traduz em atitudes.
Irmãos e irmãs, essa mensagem fala diretamente
da vocação laical. A Igreja não é feita só de padres, religiosos ou
bispos. O Concílio Vaticano II nos lembrou que a maior parte da Igreja é
formada pelos leigos e leigas, e que sua missão é “consagrar o mundo a Deus a
partir de dentro”. São vocês, leigos e leigas, que estão no coração das
realidades humanas — na política, na economia, na educação, na cultura, na
saúde, na vida das famílias — e que ali podem testemunhar Cristo, sendo sal,
luz e fermento.
A porta estreita, para o leigo, não está em
deixar o mundo, mas em viver o mundo segundo o Evangelho. É ser
empresário com honestidade, trabalhador com dignidade, estudante com dedicação,
mãe e pai com amor generoso, jovem que não se deixa seduzir pelas falsas
promessas de sucesso fácil, idoso que transmite a fé com sabedoria. A santidade
laical não está em fazer coisas extraordinárias, mas em viver com fidelidade as
pequenas coisas de cada dia, unidas a Cristo.
Queridos irmãos, se a Igreja deseja ser
realmente missionária, deve valorizar e formar cada vez mais os seus leigos e
leigas. Vocês não são meros ajudantes do padre, mas protagonistas da missão.
Como ouvimos em Isaías, Deus envia “a uns como sacerdotes e levitas”, mas envia
a todos, em sua diversidade, como missionários do Reino.
Peçamos hoje ao Senhor a graça de sermos fiéis
à nossa vocação batismal. Que os leigos e leigas, fortalecidos pela Eucaristia,
iluminem com o Evangelho os espaços onde os padres e religiosos não conseguem
chegar. E que, juntos, possamos atravessar a porta estreita, confiando que
Aquele que nos chama é também Aquele que nos sustenta.
Amém.
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