sábado, 26 de julho de 2025

Missão do Japão 27/07/2025: 17º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 11,1-13) Homilia



Tema: O poder da oração, da intercessão e da perseverança diante de Deus Pai.


Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

A liturgia deste 17º Domingo do Tempo Comum nos convida a refletir sobre um dos grandes tesouros da vida cristã: a oração. Mas não qualquer oração; somos chamados hoje a compreender a força da intercessão, a importância da perseverança e a confiança na bondade do Pai que nos escuta sempre.

1. Abraão: um intercessor ousado e perseverante

Na primeira leitura (Gn 18,20-32), vemos uma cena impressionante: Abraão dialoga com Deus como um amigo, intercedendo pelo povo de Sodoma. Ele sabe da gravidade do pecado daquela cidade, mas intercede com coragem, humildade e insistência. De cinquenta justos, chega até dez. Essa passagem nos mostra que a oração pode mover o coração de Deus, porque o Senhor é justo, mas também é misericordioso.

Abraão nos ensina que a oração de intercessão é um ato de amor e de fé. Ele não pede nada para si, mas roga pelos outros. Ele acredita que a presença de poucos justos pode salvar muitos pecadores. Não é isso que Jesus fez por nós? E não é isso que somos chamados a fazer também — interceder pelo mundo, pelos pecadores, pelos nossos irmãos, até mesmo por aqueles que não conhecemos?

2. Jesus ensina a orar: com confiança, insistência e intimidade

No Evangelho (Lc 11,1-13), os discípulos pedem a Jesus: “Senhor, ensina-nos a orar”. E Ele ensina a oração do Pai-Nosso, que é mais do que uma fórmula: é um modelo de relação com Deus como Pai, com simplicidade e confiança.

Jesus nos convida a pedir, buscar, bater. Parece uma repetição? Sim! Porque a oração cristã não é mágica nem imediatismo. É perseverança, relação constante, intimidade que amadurece com o tempo.

E Ele garante: “Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”. Eis o segredo: Deus não nos dá qualquer coisa, Ele nos dá o melhor — o Espírito Santo, a força do amor, o dom maior!

3. A cruz: lugar da oração que nos redime

Na segunda leitura (Cl 2,12-14), São Paulo lembra que, pelo batismo, morremos com Cristo e ressuscitamos com Ele. E como isso aconteceu? “Deus vos deu a vida com Cristo, perdoando todos os pecados”. Essa é a resposta à oração de Abraão: Deus perdoou, não por causa de dez justos, mas por causa de um — Jesus Cristo, o Justo!

A cruz é o maior ato de intercessão. Ali, Jesus orou por nós, entregou-se por nós, perseverou até o fim por amor. A oração do cristão, portanto, não é vazia nem isolada — ela está unida à oração de Cristo, que intercede por nós junto do Pai.

Conclusão: Orai sem cessar

Queridos irmãos, somos chamados hoje a redescobrir o valor da oração na nossa vida.

  • Rezar é conversar com Deus como Abraão, com ousadia e confiança.

  • É pedir com insistência como Jesus ensinou, com fé e perseverança.

  • É viver em comunhão com Cristo, cuja oração na cruz nos deu a vida nova.

Rezemos por nós, mas também pelos outros. Pelos que perderam a fé, pelos que sofrem, pelos que não sabem mais o que pedir. E nunca deixemos de rezar. Porque quem bate, a porta será aberta; quem busca, encontrará; e quem pede, receberá. Deus é Pai, e Pai não decepciona seus filhos.

Amém.

sábado, 19 de julho de 2025

Missão do Japão 20/07/2025: 16º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 10,38-42) Homilia



Tema: “A melhor parte: escutar o Senhor”


Queridos irmãos e irmãs em Cristo,


Neste 16º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus nos conduz ao coração da verdadeira hospitalidade e da escuta atenta ao Senhor. As três leituras nos falam sobre acolhida, serviço e contemplação. Mas, sobretudo, o Evangelho nos provoca com uma cena conhecida, muitas vezes mal interpretada, entre as irmãs Marta e Maria. Não se trata de contrapor ação e oração, mas de mostrar o que deve ser o centro da vida cristã.

 

1. A hospitalidade de Abraão (Gn 18,1-10a)

Na primeira leitura, vemos Abraão acolhendo três homens misteriosos junto ao carvalho de Mambré. Ele se apressa, prepara alimento, oferece descanso... Essa atitude generosa revela um coração atento ao outro. Mais que isso, Abraão, sem saber, acolhe o próprio Deus. E a promessa de um filho, mesmo em idade avançada, brota dessa acolhida generosa. Quando abrimos nossa casa e nosso coração, Deus age e faz nascer o impossível.


2. O serviço missionário de Paulo (Cl 1,24-28)

São Paulo nos mostra que seguir Cristo implica sofrimento e doação. Ele não se gloria de si, mas da missão de anunciar Cristo, “esperança da glória”. Paulo é um homem de ação intensa, mas sabe que essa ação tem uma fonte: o mistério escondido em Deus e revelado em Cristo. Toda missão precisa brotar de uma experiência profunda de fé. Caso contrário, vira ativismo vazio.

 

3. Marta e Maria: duas atitudes, um chamado (Lc 10,38-42)

O Evangelho nos apresenta duas irmãs: Marta, ativa e preocupada com os afazeres da casa; Maria, sentada aos pés de Jesus, escutando sua palavra. Muitos já entenderam esse texto como um elogio à vida contemplativa e uma crítica à vida ativa. Mas o que Jesus diz a Marta não é uma rejeição de seu serviço, e sim uma correção de sua inquietação interior: “Marta, Marta! Andas agitada e preocupada com muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte”.

Maria representa o coração que para e escuta. Marta representa o coração ansioso que serve, mas que, por vezes, esquece para quem serve. A correção de Jesus não é contra o serviço, mas contra o serviço que perdeu o foco.


4. A mensagem central: servir a partir da escuta

Jesus nos ensina que o verdadeiro discipulado começa na escuta. Antes de fazer, é preciso estar com Ele. Antes de agir, é preciso silenciar o coração para discernir o que Ele quer. Marta não está errada por servir, mas por ter perdido a paz. E essa paz só vem quando colocamos a Palavra de Deus no centro da vida.

Em tempos de tanto barulho, correria e pressão, quantos de nós vivemos como Marta: agitados, sobrecarregados, tentando dar conta de tudo, até das coisas de Deus! Mas talvez estejamos esquecendo de ser Maria: de sentar, escutar, acolher a presença do Senhor.


Conclusão

Queridos irmãos, a Palavra de hoje nos convida a unir Marta e Maria dentro de nós. Precisamos servir, sim — como Abraão, como Marta, como Paulo. Mas esse serviço só será fecundo se nascer da escuta, da intimidade com Jesus, como Maria.

Não se trata de escolher entre uma ou outra, mas de encontrar o equilíbrio: ação com contemplação, serviço com oração. Que possamos hoje escolher “a melhor parte” — não para fugir das tarefas da vida, mas para realizá-las com mais sentido, mais paz e mais amor.

Amém.

sábado, 12 de julho de 2025

Missão do Japão 13/07/2025: 15º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 10,25-37) Homilia



A misericórdia que nos faz próximos

Meus irmãos e minhas irmãs,

A liturgia deste 15º Domingo do Tempo Comum nos convida a uma profunda reflexão sobre a caridade e a misericórdia como caminhos para alcançar a vida eterna. O centro da Palavra de hoje é a conhecida parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus em resposta à pergunta de um doutor da Lei: "Quem é o meu próximo?".

1. A Palavra está perto de ti

Na primeira leitura (Dt 30,10-14), ouvimos que a Lei de Deus não está longe nem inacessível. Ela está muito próxima, "em tua boca e em teu coração, para que a ponhas em prática". Essa Palavra é viva e ativa, e nos convida a colocá-la em ação, especialmente na forma como tratamos o nosso próximo. O seguimento a Deus não é feito de teorias distantes ou de mandamentos complicados, mas de atitudes simples e concretas, especialmente de amor ao próximo.

2. Cristo, rosto da misericórdia do Pai

Na segunda leitura (Cl 1,15-20), São Paulo nos apresenta um hino belíssimo sobre Jesus Cristo. Ele é o rosto visível do Deus invisível, aquele que reconciliou todas as coisas pelo sangue da cruz. Essa reconciliação é o gesto supremo de amor e misericórdia. Ao contemplar Cristo, vemos não só a grandeza de Deus, mas também o seu coração cheio de compaixão por todos os que sofrem. Jesus é o verdadeiro Bom Samaritano da humanidade, que se inclina sobre nós em nossas feridas, cuida de nós e nos oferece a salvação.

3. O bom samaritano e a caridade que nos identifica como cristãos

No Evangelho (Lc 10,25-37), Jesus não apenas responde à pergunta do doutor da Lei com uma parábola, mas inverte a lógica da pergunta. Em vez de definir "quem é o próximo", Ele mostra como ser próximo de quem sofre.

O sacerdote e o levita passaram ao largo. Eram homens religiosos, conhecedores da Lei, mas se omitiram diante da dor. Já o samaritano – alguém desprezado pelos judeus – foi quem teve compaixão. Ele não apenas sentiu misericórdia, mas agiu com misericórdia: aproximou-se, cuidou, tratou, conduziu, pagou, comprometeu-se.

Esse é o modelo de caridade cristã: um amor que se traduz em ação concreta. Caridade não é apenas dar algo; é doar-se. É ver o outro, parar por ele, comprometer-se com ele.

Jesus termina dizendo: "Vai e faze tu a mesma coisa." Eis o chamado que ecoa hoje para cada um de nós. A vida eterna não se conquista por palavras ou títulos, mas pelo amor colocado em prática. A caridade é a identidade dos cristãos, a marca do verdadeiro discípulo de Cristo.

4. Aplicações para nossa vida hoje

  • Quem são os feridos que encontramos hoje à beira do caminho? Pode ser um morador de rua, um idoso abandonado, uma criança sem atenção, um jovem sem direção, uma pessoa da nossa casa que sofre em silêncio...

  • Estamos mais parecidos com o samaritano ou com os que passam ao largo?

  • Nossa fé se traduz em ações concretas de cuidado, atenção, empatia?

5. Conclusão

Queridos irmãos e irmãs, hoje a Palavra de Deus nos chama a viver a misericórdia como estilo de vida. Não basta sabermos que devemos amar o próximo; é preciso fazer-nos próximos de quem mais precisa.

Que possamos, fortalecidos pela Eucaristia, nos tornarmos samaritano para os outros. Que nossa caridade não seja ocasional, mas cotidiana. E que sejamos reconhecidos como discípulos de Jesus pelo nosso amor.

"Vai e faze tu a mesma coisa." Amém.

domingo, 6 de julho de 2025

Missão do Japão 06/07/2025: 14º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 10,1-12.17-20) Homilia



"A missão da Igreja como instrumento de paz entre os povos"


Queridos irmãos e irmãs,


Hoje, o Evangelho de Lucas nos apresenta um Jesus que envia seus discípulos em missão, dois a dois, a todas as cidades e lugares aonde Ele mesmo queria ir. É uma cena profundamente missionária, que nos interpela diretamente como povo de Deus em movimento — especialmente a nós, imigrantes brasileiros vivendo aqui no Japão.

Jesus envia os discípulos com um recado claro: “A paz esteja nesta casa.” A missão começa com a paz. E essa paz não é apenas ausência de guerra ou conflito, mas a presença ativa de Deus no meio do seu povo, transformando corações, reconstruindo vínculos e curando feridas.


1. Ser missionário em terra estrangeira

Vocês, irmãos e irmãs, que vivem longe da pátria, já sabem, na carne, o que é se sentir estrangeiro. Muitos de vocês saíram do Brasil em busca de melhores condições de vida, enfrentando a saudade, a diferença cultural, o idioma, o cansaço do trabalho. Mas saibam: vocês não estão aqui por acaso. Deus também os enviou em missão.

Como os setenta e dois discípulos do Evangelho, cada um de vocês é um sinal de que o Reino de Deus quer chegar ao coração do povo japonês. Por meio do seu testemunho, da sua solidariedade, da sua alegria de fé, vocês anunciam que Jesus está vivo e quer habitar também neste povo.


2. A missão da Igreja é construir pontes

A missão da Igreja no mundo, especialmente em contextos de migração e diversidade cultural, é ser ponte entre os povos. Onde há muros de preconceito, a Igreja planta o diálogo. Onde há medo do diferente, a Igreja semeia o respeito. Onde há solidão e desconfiança, a Igreja oferece comunhão e acolhida.

Aqui no Japão, vocês são Igreja viva, são o rosto de uma fé que ultrapassa fronteiras. Sua comunidade pode ser instrumento de paz, aproximando brasileiros e japoneses, mostrando que é possível viver juntos, aprender uns com os outros, rezar juntos, e cuidar uns dos outros.


3. A alegria da missão

No final do Evangelho, os discípulos voltam felizes: “Senhor, até os demônios se nos submetem por causa do teu nome!” Jesus escuta, mas convida a ir mais fundo: “Alegrai-vos antes porque vossos nomes estão escritos no céu.”

Não é o sucesso da missão que nos define, mas o fato de sermos amados e conhecidos por Deus. Nossa missão nasce desse amor e volta para esse amor. Mesmo que as dificuldades apareçam — e elas aparecem —, mesmo que a missão pareça difícil — e muitas vezes é —, nada pode apagar o fato de que pertencemos a Deus.


Queridos irmãos e irmãs,

Vocês são discípulos e missionários aqui no Japão. Sejam sinais de paz, acolhimento e esperança. O mundo precisa de testemunhos que unam, e não dividam. Que a Igreja, por meio de vocês, continue sendo um farol de luz na noite da migração, uma ponte de fraternidade entre os povos.

E nunca se esqueçam: Jesus caminha com vocês. Ele os enviou, e Ele mesmo quer passar por onde vocês passam. Levem a paz. Levem o amor. Levem o Reino de Deus.


Amém.