quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Biografia de São Vicente de Paulo


 

Vicente de Paulo nasceu em 24 de abril de 1581, no seio de uma família de camponeses, na cidade de Pouy, região de Landes. (Observa-se no mapa da França, que a região de Landes fica ao sul e não muito longe da Espanha).

 

Vicente foi batizado alguns dias depois do nascimento, pois seus pais eram excelentes cristãos, e não desejavam retardar o momento de fazer da criança um verdadeiro filho de Deus através do batismo.

 

Landes, naquela época, não possuia ainda a bela floresta de pinheiros que atualmente faz a sua riqueza. O solo arenoso era pobre. Não dava mais do que centeio e milho. Precisava muita coragem para tirar de que viver, mas o trabalho, mesmo duro, jamais atemorizou o camponês da França.

 

É com esforço que João de Paulo, o pai de Vicente, se entrega à sua tarefa para sustentar a numerosa família.

 

Cedo Vicente, como seus cinco irmãos e irmãs, foi aproveitado nos trabalhos da fazenda. Muitas vezes ia às pastagens, tomar conta dos rebanhos.

 

Como aquela região de solo plano na época das chuvas se transformasse facilmente em pântanos, eram em cima de pernas de pau que o pequeno Vicente vigiava os animais, à moda do lugar.

 

Bom meio de nunca molhar os pés, mas à custa de muito equilíbrio !

 

Em casa as instalações eram muito rústicas. Naquele tempo o estábulo dos animais, o mais das vezes, era separado da habitação apenas por um tabique baixo de madeira, cujos painéis podiam ser removidos. Nisso havia dupla vantagem : No inverno servia de aquecedor central; depois não havia necessidade de sair para dar de comer aos animais; as vacas passavam a cabeça pela abertura e recebiam sua ração de palha cortada e milho.

 

No mais, inverno ou verão, a vida era bastante regular. Cada um tinha sua parte de trabalho e a ele se aplicava de bom humor, sob as vistas de Deus.

 

Tem-se mais emoção na obra quando se trabalha pensando n’Ele.

 

À noite, no verão, lia-se a vida dos santos, fazia-se a oração em comum, lembravam-se os falecidos da família e, antes de deitar, os meninos pediam a bênção a seus pais.

 

Sem serem muito ricos, os pais de Vicente não estavam na miséria, e de tempos a tempos eles lhe forneciam algum trocado para a coleta do domingo, ou para esmola aos pobres.

 

Vicente tinha muito bom coração. Um dia, tendo encontrado um pobre mendingo, deu-lhe, sem hesitar, tudo que tinha. Ele já sabia que quem dá aos pobres empresta a Deus.

 

Vicente amava muito a SS.Virgem. Sua mamãe lhe havia ensinado, quando era ainda pequenino, a falar com Ela de coração a coração, e a se dirigir a Ela em todas as circunstâncias.

 

Como todos os pequenos pastores cristãos, ele costumava construir em sua honra oratórios de ramos de folhagem. Uma ou duas vezes por ano, ia em peregrinação com sua família a Buglose, onde Nossa Senhora era particularmente venerada.

 

Voltava cada vez mais decidido a nada lhe recusar. E mesmo, quanto mais amava a Virgem, mais amava Jesus, e mais se sentia feliz.

 

A época de sua Primeira Comunhão se aproxima. No Catecismo, ele se mostrava tão estudioso e tão fervoroso, que o bom cura aconselhou insistentemente seus pais a enviá-lo à cidade, logo na primeira reabertura das aulas, para fazê-lo continuar os estudos.

 

Estudos e Ordenação

Um amigo da família, M. de Comet, advogado no Tribunal de Dax, também o havia notado e encorajou seus pais a fazê-lo entrar no colégio dessa cidade.

 

Vicente ficou aí três anos frequentando com sucesso o curso de gramática. Aí estudou também Latim.

 

Era para seus camaradas um exemplo tenaz, tanto que, passado pouco tempo, M. de Comet o convidou para preceptor de seus filhos.

 

Nessa atividade ele tomou gosto pelo apostolado. Fazer bem às almas, que há de mais belo ? E eis que nele cresceu o desejo de se tornar sacerdote de Jesus.

 

M. de Comet o encorajou. Para tanto faltava fazer longos estudos de teologia na Universidade mais próxima, que era a de Toulouse.

 

Bom cristão que era, o pai de Vicente vendeu uma junta de bois para lhe assegurar a despesa de hospedagem.

 

Aos 16 anos, pos ocasião de uma cerimônia em que o Bispo corta alguns cabelos aos futuros padres, Vicente recebeu a tonsura. Isto significava que ele entrava no clero e que, desde então devia usar a batina.

 

Durante cinco anos ainda, ele estudou as Ciência religiosas, continuando sempre a se ocupar com seus alunos, que gostavam muito da clareza de seu ensino e da jovialidade de seu caráter; o que não o impedia de ser rigoroso quando se fazia necessário !

 

Depois de ter recebido as ordens menores, o subdiaconato, depois o diaconato, ele foi ordenado padre a 23 de setembro de 1600. Não fizera ainda 21 anos. Era muito jovem. Hoje em dia é preciso ter ao menos 24 anos para receber a ordenação sacerdotal, mas naquela época havia menos severidade.

 

E em Buzet, numa capela solitária no fundo do bosque, onde muitas vezes rezava quando menino, que ele celebra com fervor sua primeira missa.

 

Viagem à Marselha

Seus estudos o interessavam muito. Ele desejava poder continuá-los ainda. Nunca se é bastante sábio quando se quer fazer o bem.

 

Vicente havia contraído algumas dívidas para terminar sua Teologia. Felizmente uma bondosa senhora, ao morrer, tinha-o feito seu herdeiro. Mas a herança consistia, sobretudo, numa importância em dinheiro que um credor desonesto devia à finada, o qual, para não pagar, havia fugido para Marselha.

 

Vicente não hesitou : Partiu imediatamente para Marselha. Ali, terminou por descobrir o caloteiro, cuja consciência doeu e que ofereceu 300 escudos para liquidar a dívida.

 

Muito menos do que lhe era devido mas, com seu bom senso, Vicente pensou : “Mais vale um toma lá do que dois te darei; um mau acordo é muitas vezes melhor que uma boa questão”. Por espírito de conciliação, Vicente aceitou. Esta soma lhe permitiu pelo menos pagar o que tomara emprestado.

 

Ele se dispunha a voltar a Toulouse em carruagem, quando um senhor gascão, hospedado no mesmo albergue, lhe propôs a viagem de navio até Narbonne. Representava uma economia de tempo e dinheiro, porque as viagens por diligência eram longas, penosas e caras.

 

Vicente aceitou o oferecimento. Um passeio de mar em tempo bom, que há de mais agradável ? Os dois companheiros, alegres e confiantes, embarcaram em Beaucaire para descer em Rhône.

 

Prisioneiro dos Corsários

O vento soprava em boa direção e o barco navegava sereno. No Mediterrâneo calmo, o sol brilhava, e tudo dia bem a bordo.

 

Mas, eis que no horizonte surgiram 3 navios piratas turcos, que por ali andavam tocaiando os barcos que regressavam da feira de Beaucaire.

 

Mais fortemente equipados, os corsários alcançaram o navio francês, aprisionaram-no e fizeram-no mudar de rota.

 

Durante a abordagem os marinheiros defenderam-se corajosamente, e Vicente lutou ao lado deles.

 

Três marinheiros foram mortos, e todos os demais saíram feridos da luta.

 

Vicente não escapou, recebeu uma flechada nas costas, e um ferimento de sabre na perna. O combate era muito desigual. Os turcos fizeram prisioneiros todos os tripulantes, além dos dois passageiros, para mais tarde vendê-los como escravos.

 

Após oito dias de viagem, chegaram à baía de Tunis.

 

Vicente havia sido despojado de tudo, e naturalmente de todo seu dinheiro.

 

Os piratas lhe deram uma roupa de pano grosseiro; um barrete de forçado e o obrigaram a caminhar cinco ou seis vezes por toda a cidade, junto com seus companheiros de infortúnio, para chamar a atenção dos compradores e, finalmente puseram-no à venda no mercado de escravos.

 

Vendido como Escravo

O mercado de escravos era semelhante a um mercado de animais. Os compradores faziam os prisioneiros abrir a boca, examinavam os dentes, apalpavam os músculos, e as costas, enfiavam o dedo nas feridas mal cicatrizadas procurando ver suas profundidades, e discutiam o preço, como se estivesse lidando com bois ou jumentos. Vemos então o que acontece quando os homens não trazem no coração a caridade por seus irmãos : Eles os tratam como animais de carga.

 

Vicente foi, finalmente, comprado por um pescador que tinha necessidade de um companheiro para seu barco de pesca. Mas Vicente, ainda mal refeito dos ferimentos enjoava muito durante as pescarias, e como estava sempre doente, seu dono pensou em livrar-se dele, e o levou novamente para o mercado de escravos.

 

Desta vez, Vicente foi comprado por um ancião que era ao mesmo tempo médico e alquimista. Chamavam de alquimistas os sábios que procuravam uma fórmula capaz de transformar qualquer metal em ouro.

 

Vicente aprende medicina

O ancião era muito humano, pagou um bom preço por Vicente e o levou para casa. Logo se deu conta de que ele ia dar para o serviço.

 

Não o maltratou, ao contrário, procurou interessá-lo no seu trabalho e em suas pesquisas.

 

Mas a tarefa confiada a Vicente era penosa : num país onde o calor já é sufocante, devia ativar o fogo de 12 grandes fornos necessários à fusão dos metais.

 

Cumprindo conscientemente suas obrigações, Vicente não cessava de orar à Virgem Santíssima, rogando pela sua liberdade. Ele tinha confiança que um dia seria ouvido.

 

Enquanto esperava corajosamente, aproveitava-se da experiência do velho sábio, que o tomou como amigo, ensinando-lhe a medicina e a química. Dizia a si mesmo – e a continuação mostrará que ele tinha razão – tudo pode servir.

 

O renome do velho médico se estendia por muito longe. Falava-se dele até em Constantinopla. O grande sultão desejou conhecê-lo e convidou-o a vir a sua corte. Este era um convite que, apesar da sua idade não podia recusar.

 

Antes de deixar Tunis, o ancião confiou Vicente a seu sobrinho. Infelizmente, durante a viagem, o bom velho ficou muito doente e em poucos dias morreu. Isto foi em agosto de 1606, quando completava quase um ano que Vicente estava em sua companhia.

 

Vendido a um novo Senhor

O sobrinho herdou tudo que pertencia ao tio, porém, não haveria de continuar suas pesquisas científicas. Preferiu vender todos os bens e ficar com o dinheiro

 

Como corria um boato de que o Embaixador da França na Turquia tinha obtido autorização de libertar os escravos cristãos, e que logo estaria em Tunis, ele remeteu depressa Vicente ao mercado para ser vendido, sem lhe perguntar sua opinião, é claro.

 

Vicente continuava a orar a Nossa Senhora, sem jamais perder a coragem. Desta vez, ele foi comprado por um homem de Nice que, para escapar à sorte miserável do cativeiro, havia renegado sua religião, tornando-se maometano.

 

O renegado recebeu do Sultão de Tunis, como recompensa de sua apostasia, uma pequena fazenda nas montanhas, mas não seria ali que poderia encontrar a felicidade.

 

Ninguém pode ser feliz quando é um covarde.

 

O Escravo converte o Senhor

Na casa deste homem, Vicente foi destinado ao duro trabalho de cultivar terras imprestáveis, numa região quente e árida. Vicente não era maltratado, porém alimentava-se mal e vivia miseravelmente alojado. Ele oferecia seu sofrimento pela conversão de seu algoz, e para ter coragem de enfrentar suas tarefas não parava de entoar cânticos à Santa Virgem. Sabia muito bem que ela não o abandonaria.

 

Esta inabalável confiança será um dia recompensada.

 

O renegado era casado com uma mulher árabe que orava a Deus e tinha bom coração. Ela notou o espírito piedoso de Vicente, e se emocionava até às lágrimas ao escutá-lo cantando louvores divinos com tão bela voz.

 

Certo dia pediu que ele traduzisse seus cânticos, especialmente a Salve Rainha.

 

Vicente satisfez, aquele desejo com todo o ardor de sua fé, e a impressionou de tal forma, que ela pediu-lhe maiores explicações sobre a religião de Cristo.

 

Vicente contou-lhe então a mais bela das Históricos : a Histórico de Cristo vindo à Terra para salvar todos os homens e para ensiná-los a se amarem uns aos outros. Escutando Vicente, as horas pareciam minutos.

 

À noite, ela contou ao marido como estava maravilhada com tudo aquilo que havia ouvido. No auge do entusiasmo chegou mesmo a reprová-lo por ter abandonado uma religião tão bela.

 

Ela o repreendeu com tanto ardor, que o renegado, caindo em si, decidiu voltar para Cristo. Efetivamente, na manhã seguinte, foi procurar Vicente que trabalhava no campo. Jogou-se de joelhos a seus pés, contou-lhe toda a sua vida, e confessou o desejo de se converter. Encorajado por Vicente, ele decidiu que ambos aproveitariam a primeira oportunidade para deixar aquele país mulçumano e voltar à França, onde poderia expiar seus pecados.

 

Fuga de Ambos

É fácil adivinhar a imensa alegria de Vicente. Estava visto que a Virgem Santíssima o havia escutado. Todavia, era preciso ser prudente e sua paciência deveria ser posta à prova. Seria necessário, na verdade, esperar ainda uma dezena de meses para que chegasse a ocasião sonhada.

 

Numa noite de junho, Vicente e seu convertido embarcaram clandestinamente, e deixaram a costa tunisiana, sem despertar suspeitas. Após uma travessia sem contra-tempos, chegaram finalmente a Aigues-Mortes.

 

Deste porto, Vicente e seu companheiro seguiram para Avignon onde vivia o Núncio Apostólico, Monsenhor Montorio.

 

E foi ali, na igreja de São Pedro que, na presença do vice-legado, o apóstata, em lágrimas, fez sua abjuração, e foi reintegrado na Igreja Católica.

 

Era um fato de tal modo extraordinário que todo mundo falava nele.

 

Viagem à Roma

Como havia prometido a Vicente, o novo convertido pediu que a penitência de sua falta, ele a cumprisse em um convento. Monsenhor de Montorio, emocionado ante esta conversão tão sincera, resolveu levar a Roma aquele que havia sido instrumento de misericórdia divina.

 

O convertido entrou para o mosteiro dos Irmãos da Caridade, onde deveria se consagrar até a morte a cuidar dos enfermos. Vicente, que havia ganho a amizade e a confiança do Núncio, demorou-se algum tempo em Roma.

 

Não desejando permanecer inativo, Vicente resolveu freqüentar os cursos de Teologia, que na época, se ministravam na Universidade romana.

 

Os conhecimentos de Química que ele havia adquirido com o ancião árabe, contribuíram para seu prestígio ante os prelados romanos, mas sobretudo sua inteligência, seu bom senso, sua alma piedosa, e a estória da conversão de seu algoz tunisiano atraíram sobre si as atenções do Papa Paulo V, e do Embaixador da França – Savary de Brêves.

 

Embaixador junto ao Rei da França

Em 1608, o Papa e o Embaixador lhe confiaram uma missão confidencial junto ao Rei Henrique IV.

 

Vicente partiu imediatamente para Paris.

 

O Rei o recebeu tanto melhor quando soube que ambos eram da mesma região da França. Com efeito, não é longe de Béarn a Landes.

 

Como, naquele momento, Vicente não desempenhasse uma função determinada, o Rei, para recompensá-lo da missão de embaixador, nomeou-o capelão da Rainha Margot.

 

Capelão da Rainha Margot

A rainha, muito inteligente e culta, morava num suntuoso palácio à margem esquerda do rio Sena, próximo à Ponte Nova, sobre a atual Praça do Instituto.

 

Decidida a reparar uma vida desordenada, ela se tornou muito devota e caridosa.

 

Aceitou de bom grado o oferecimento que lhe fez o Rei, de tomar Vicente como Capelão.

 

A esse título encarregou-o de distribuir grandes somas de dinheiro aos pobres que vinham assediar seu palácio, e de ir visitar em seu nome os enfermos do Hospital da Caridade. Vicente preferia dedicar-se aos pobres a freqüentar os ricos senhores.

 

Apesar disso, teve muitas oportunidades de encontrar-se com o Delfim, isto é, o futuro Luiz XIII, filho de Henrique IV e de Maria de Médicis, o qual a rainha Margot havia feito seu herdeiro.

 

Como o cargo de capelão lhe deixava lazeres, Vicente os utilizava freqüentando as aulas dadas por ilustres professores que ensinavam na Sorborne. Preparava o diploma de licenciado em Direito Canônico.

 

Vicente, vocês estão vendo, continuava a estudar : Jamais perdia seu tempo – “É preciso, dizia ele, aproveitar todas as ocasiões para instruir-se, e assim se tornar mais capaz de servir a Deus e aos homens”.

 

Apesar de passarem por suas mãos grandes somas em dinheiro para distribuir com os pobres, ele próprio vivia na pobreza. Recusou-se a morar em palácio, pois não se sentia bem em meio ao luxo e à frivolidade da Corte.

 

Por economia, e por humildade, aceitara compartilhar o mesmo quarto do hotel com um de seus conterrâneos Juiz de Direito, senhor M. de Sore.

 

Daí lhe veio um dia uma situação penosa …

 

Falsa acusação de roubo

Seu companheiro de quarto possuía um saquinho cheio de dinheiro que costumava trazer bem guardado num armário, mas como era bastante distraído, freqüentemente esquecia a chave na fechadura.

 

Um dia, Vicente estava acamado com muita febre. Depois dos anos que passou sob o clima maléfico da África, sofria crises intermitentes de impaludismo.

 

Alguns remédios haviam sido encomendados ao boticário : era assim que naquela época se chamavam os farmacêuticos.

 

O empregado da farmácia foi levar os remédios enquanto Vicente dormia profundamente. Observando que a chave estava no armário, ele o abriu, apossou-se do dinheiro, e fugiu escondendo o furto sob as vestes.

 

De volta o juiz, vendo o armário aberto, vazio de sua pequena fortuna, pediu explicações a Vicente. O santo homem, durante o sono provocado pela febre nada havia visto, e nada poderia entender. O senhor de Sore, encolerizado, acusou Vicente de ser o ladrão, e instigou contra ele toda a vizinhança.

 

Vicente protestou calmamente sua inocência, mas não podendo prová-la, suportou em silência a injusta acusação.

 

Felizmente, alguns anos depois, o verdadeiro ladrão, tendo sido por outro crime levado à prisão em Bordéus, chamou o senhor M. de Sore, que vivia então naquela cidade, e confessou o furto.

 

O juiz escreveu imediatamente ao Santo pedindo-lhe perdão, porém o Santo já o perdoara havia muito tempo.

 

Cardeal de Bérulle

Dentre os personagens que se encontraram com Vicente naquela época, é preciso citar o Cardeal de Bérulle, que exerceu sobre ele uma enorme influência.

 

Este homem gozava de grande reputação de santidade. Havia trazido da Espanha para a França, as religiosas Carmelitas, reorganizadas havia alguns anos por Santa Teresa D’Ávila (As Carmelitas são religiosas que consagram suas vidas à oração e à penitência, pela conversão dos pecadores).

 

Entrementes, sobreveio um grande acontecimento : No dia 14 de maio de 1610, Henrique IV era assassinado por um louco (Ravaillac) na rua da Ferronnerie, no bairro de Halles, em Paris.

 

Todo o mundo se comoveu. O Cardeal de Bérulle convidou Pe.Vicente e outro devotado sacerdote, o Pe. Bordoise, a participarem de um retiro espiritual de muitos dias, onde deviam também estudar uma maneira de refazer uma França cristã.

 

Fazia cinquenta anos que a França vinha sofrendo guerras de religião !

 

O Cardeal de Bérulle foi de opinião que, para refazer uma França cristã, era necessário fundar uma Cogregação de padres que se dedicassem ao estudo e que fizessem irradiar o pensamento cristão pelo ensino e pela pregação.

 

Decidiu fundar a Sociedade do Oratório, seguindo o modelo da que São Felipe Néri havia fundado na Itália.

 

Muitos padres santos pautaram suas condutas pelo exemplo do Cardeal de Bérulle.

 

Vicente passou um ano no Oratório aprofundando sua formação pela oração e pelo estudo dos livros sagrados. mas, durante essas meditações, ele não esquecia jamais a miséria espiritual do povo pobre.

 

Dentre os discípulos do Oratório encontrava-se o padre Bourgoing, cura de Clichy. O Cardeal de Bérulle, desejando que este devotasse todo seu tempo à Congregação recém-fundada, pediu-lhe que passasse a paróquia de Clichy às mãos de Vicente.

 

Cura de Clichy

E assim que no dia 2 de maio de 1612, São Vicente de Paulo, tornou-se cura de Clichy, paróquia do subúrbio norte de Paris, que tem hoje seu nome, e onde três séculos mais tarde, em 1926, o Padre Georges Guérin fundaria a J.O.C. francesa.

 

Atualmente, esta paróquia está confiada à Congregação dos Filhos da Caridade, fundada em 1918, ali mesmo em Clichy, pelo Revenerado Padre Anizan, dentro do espírito do padre Vicente.

 

No século XVII, a paróquia de Clichy era muito extensa e contava muitas centenas de habitantes, quase todos horleãos.

 

Vicente lembrando-se de suas origens camponesas, sentiu-se logo à vontade com eles.

 

Sua grande bondade, sua simplicidade, granjearam rapidamente os corações e transformaram totalmente a paróquia, a ponto de se falar por toda parte no “Anjo de Clichy”.

 

Seu primeiro cuidado foi restaurar a igreja que caía em ruínas. Mais tarde seria construída, ao lado, uma nova igreja, bem espaçosa, pois a paróquia já era então muito desenvolvida. Houve, entretanto, o cuidado de conservar a igrejinha de 1612, assim como a cadeira em que padre Vicente se sentava para ensinar catecismo aos adultos e às crianças.

 

Nessa igreja seus trabalhos e sua dedicação permanecem vivos e ajudando a todos. A paróquia tornara-se famosa pelos belos cânticos que eram entoados pelo povo todo.

 

Conta-se que um dia, tendo ido ao castelo de Landy, que se ergue próximo à igreja, ele encontrou uma jovem que tinha vindo passar uns dias em casa de amigos. Chamava-se Luíza de Marillac, e deveria, mais tarde, fundar com eles as Filhas da Caridade.

 

Durante o inverno em 1613, o vilarejo de Gennevilliers foi invadido por uma terrível inundação. Vicente, que era muito corajoso, meteu-se num barco e salvou, com perigo de sua vida, um grande número de habitantes.

 

Por onde passasse Vicente, era amado, mesmo sem que procurasse.

 

Mas, ao fim de um ano, o Cardeal de Bérulle chamou Vicente para desempenhar outras funções. Foi um verdadeiro desespero na paróquia. Os paroquianos o acompanharam chorando pela estrada e nunca mais o esqueceram.

 

Vicente, por seu lado, também nunca os esqueceu. Ele guardou por toda a vida a lembrança comovida de sua paróquia de Clichy.

 

No Palácio dos De Gondi

O fato de ter o Cardeal de Bérulle obrigado Vicente a deixar Clichy, se fundava na necessidade de confiar-lhe uma missão muito importante. O senhor de Gondi, destacada personalidade da época, General das Galeras, Comandante-em-Chefe da Esquadra Real, havia solicitado ao Cardel um preceptor para seus filhos. De Bérulle achou por bem designar Vicente.

 

Este, naturalmente, por sua índole, preferia o apostolado em meio aos camponeses a servir aos poderosos da terra …

 

Mas, ele era obedienet, submeteu-se

 

O Bom Deus tinha seus desígnios. algumas vezes acontece que não se veja bem a razão por que o Senhor nos faz tomar uma direção, que é a oposta ã que pensamos seguir. Mas ao fim de um certo tempo, verificamos quão importante é submeter-nos à vontade de Deus, que sabe melhor o que nos convém. Se Vicente não houvesse obedecido o Cardeal de Bérulle, não teria podido fazer todo o bem que, graças às relações com as ricas famílias da época, ele devia fazer mais tarde.

 

O Pe.Vicente foi então nomeado preceptor dos filhos do senhor de Gondi. De começo ele ocupou-se sobretudo do primogênito, Pedro, que em 1613 tinha 11 anos; os dois outros eram muito jovens.

 

Vicente interessou-se igualmente pela criadagem do castelo (para ele, aos olhos de Deus, a alma de um criado é tão importante quando a de um senhor). Ele os reconfortava e os ajudava sobretudo a melhor amar o Salvador Jesus.

 

O senhor de Gondi, que tão bem conhecia os homens, apreciava o valor do Padre Vicente e submetia-se a sua influência.

 

Era uma forte personalidade. Os grandes senhores de então admiravam-no por sua magnificência de príncipe, mas temiam-no por sua bravura e violência.

 

De bom grado e pelo menor pretexto o senhor de Gondi desembainhava a espada e se batia em Duelo; o que, como se sabe, é proibido por Deus e pela Igreja.

 

De Gondi, contudo era crente fervoroso. Um dia, antes de se bater em duelo, desejou assistir à Santa Missa rezada por Vicente. Ao terminar o ato religioso, Vicente caiu de joelhos aos pés do nobre príncipe e lhe disse : “Sei que o senhor pretende bater-se hoje em duelo. Peço-lhe que renuncie a isso, e eu lhe digo da parte de Deus que, se o sr. não obedecer, o Todo-Poderoso exercerá sua justiça sobre a sua pessoa e sobre toda a sua posteridade.”

 

O príncipe não estava acostumado a ouvir semelhante linguagem, porém, diante de tal firmeza e tamanha audácia, acabou por submeter-se e decidiu que jamais voltaria a se bater. O fato é tanto mais significativo se considerarmos que naquela época, o duelo era um privilégio, reservado aos nobres.

 

O incidente não fez mais do que aumentar a estima e a admiração que de Gondi já nutria por Vicente. Longe de desgostar-se com o padre, ele passou a ser um de seus benfeitores mais generosos e fiéis.

 

A Senhora de gondi, reconheceu também a santidade daquele que o Cardel de Bérulle havia indicado para preceptor de seus filhos

 

Ela o tomou como seu diretor espiritual. Era mulher muito piedosa, porém angustiada, e somente perto do Pe.Vicente foi que veio a encontrar a paz em sua alma. Desta forma, desejava que o padre permanecesse junto dela.

 

A Senhora de Gondi era dona de grandes propriedades na Picardia, onde desgraçadamente, os camponeses estavam abandonados quanto à assistência religiosa. Por falta de padres, quase ninguém se ocupava deles.

 

Em 1617, a senhora de Gondi levou consigo o Pe.Vicente a seu castelo de Folleville.

 

Este aproveitou para reunir todos os camponeses na igreja e lhes dirigiu a palavra com tanta fé e amor que todos desejaram confessar-se.

 

Vicente compreendeu, naqueles dias, a urgente necessidade de ir em socorro da gente do campo, organizando missões por toda parte. Desejava firmemente poder se consagrar a esta obra. Sobre isso ele se abriu a seu conselheiro, o Cardeal de Bérulle.

 

Ele acabara de receber uma carta dos Oratorianos de Lyon, que lhe descreviam o estado lamentável de uma importante paróquia da região – Chântillon-Les-Dobes.

 

Cura de Chântillon-Les-Dobes

Ele ofereceu a Vicente o cargo de cura, Vicente aceitou com presteza. Uma bela noite, para não ser retido pelas súplicas do senhor e da senhora de Gondi, partiu sem mesmo despedir-se e dizer-lhes para onde ia, deixando a de Bérulle o encargo de informá-los. Tanta pressa ele tinha de reencontrar os pobres ! Ei-lo que chega a Chântillon.

 

Sua pequena bagagem era pobre, mas sua alma estava cheia de fervor.

 

A aldeia era paupérrima do ponto de vista religioso, e ele encontrou Chântillon como o Padre Vianney encontraria, dois séculos mais tarde, o vilarejo de Ars, quando foi nomeado cura.

 

Além disso, as duas aldeias se encontram por sinal na mesma região e seus habitantes se lembram ainda hoje do santo que conviveu com eles.

 

Em Chântillon, quando Vicente chegou, não havia pessoa alguma para recebê-lo.

 

A população tornara-se indiferente, senão ímpia. A igreja não se prestava mais ao culto. Estava completamente arruinada e servia de abrigo para os animais.

 

Os católicos davam mau exemplo e não tinham mais piedade.

 

Os protestantes eram numerosos. A aldeia estava dividida. As pessoas já não se entendiam e as disputas eram freqüentes.

 

Como o prebistério se encontrasse ocupado pelos pobres que ali se haviam instalado, Vicente foi procurar morada, com muita paciência, ha hospedaria, cujo proprietário era um protestante chamado Jean Beynier. Vicente evitava qualquer discussão com ele. Mas, somente pelo exemplo de sua bondade e de sua fé, tocou o coração do hoteleiro. Beynier abjurou o protestantismo, e se tornou um dos colaboradores do novo cura (O Pe. Vicente jamais considerou os protestantes como seus inimigos, mas sim como seus irmãos).

 

Vicente começou, como havia feito em Clichy, por colocar a igreja em bom estado. Em seguida atraiu todos, organizando dignas cerimônias e fazendo executar belos cânticos.

 

Repetindo ainda Clichy, lecionava o catecismo com tanta emoção, que os participantes aumentavam de domingo a domingo.

 

As conversões se multiplicavam, e em cinco meses o vilarejo se transformou.

 

Havia na região um nobre chamado Senhor de Rougemont, que sem cessar se batia em duelo. Já havia dado morte a muita gente. Dono de um caráter irascível lançava-se à briga pela mais fútil razão. Por isso todo mundo o temia e ninguém ousava aproximar-se dele.

 

Vicente foi vê-lo e o fez compreender, com doçura, mas com firmeza a gravidade de sua conduta. Este homem violento não resistiu à autoridade do Santo e resolveu mudar de vida.

 

Naqueles tempos era um grande sacrifício para um nobre renunciar ao privilégio de bater-se em duelo. Mas, sua conversão foi realmente sincera e, para evitar a tentação, Rougemont resolveu quebrar contra uma pedra a espada que considerava acima de tudo.

 

Era o maior sacrifício que Deus lhe poderia pedir. E ele o fez corajosamente.

 

E Deus o recompensou concedendo-lhe a graça de se tornar um cristão exemplar.

 

Um domingo de manhã, quando o novo cura ia celebrar a Santa Missa, vieram lhe dizer que, em uma casa do vilarejo, toda a família estava doente, sem que houvesse uma só pessoa em condições de cuidar dos outros. O Pe. Vicente recomendou essa família no sermão com muito empenho.

 

À tarde, quando ele mesmo ia levar sua ajuda, encontrou na estrada uma verdadeira procissão de pessoas que iam e vinham para levar socorros.

 

O Padre Vicente, homem prático, desejou organizar esta atividade caritativa e disse a seus paroquianos : “É muito bom da parte de vocês que tenham vindo hoje acudir os enfermos. Mas, será melhor que venha cada um por seu turno cuidar deles e preparar a alimentação”.

 

E fez um regulamento para que os esforços de caridade de uns e de outros fossem duráveis.

 

Não basta, com efeito, dar esmola de passagem, é preciso ajudar a gente a sair de sua miséria.

 

Vicente insistia, sobretudo, quanto à maneira de servir os pobres.”A maneira como se dá, vale mais do que aquilo que se dá, gostava ele de repetir. Serví os pobres com respeito e delicadeza. Jesus Cristo considera como feito a Ele mesmo tudo que se faz a um pobre ou a um enfermo.”

 

Ele não temia entrar nos menores detalhes, por exemplo, como preparar a refeição ou cortar a carne.

 

Volta para junto dos De Gondi

Durante esse tempo, a família de Gondi sofria com a ausência de Vicente.

 

De Gondi enviou cartas suplicando que Vicente voltasse; e sua esposa fez o mesmo; mas o Pe. Vicente teria permanecido surdo a esses apelos, se o Cardeal de Bérulle, a pedido do Bispo de Paris, que era irmão do senhor de Gondi, não tivesse ordenado ao Pe. Vicente que voltasse a Paris.

 

Vicente, sempre obediente, se submeteu.

 

Imagine-se a desolação dos habitantes de Chântillon vendo partir seu cura. Mas eles não o esqueceram jamais e ficaram fiéis aos seus ensinamentos. Por seu lado, os de Gondi ficaram tão felizes de revê-lo que lhe confiaram o posto de capelão de todas as terras onde eles tinham fazendas.

 

A esse título devia logo juntar-se o de capelão geral das galeras reais.

 

O Encontro com São Francisco de Sales

Nesta época, em 1618, Vicente encontrou-se com o santo Bispo de Genebra, que se chamava Francisco de Sales.

 

Ele acompanhava em missão diplomática o Conde Savoia, encarregado de negociar o casamento entre o príncipe e uma princesa da França : a irmã de Luiz XIII.

 

São Francisco de Sales e São Vicente de Paulo tornaram-se rapidamente grandes amigos.

 

São Francisco de Sales havia fundado alguns anos antes, com a finalidade de visitar os pobres doentes, a Ordem da Visitação, e confiara sua direção à Madame de Chantal. Mas como naquela época era fora de costume que religiosas pudessem ir e vir pelas ruas, São Francisco de Sales renunciou ao projeto primitivo.

 

As visitadoras moravam nos conventos, sem direito de sair. Contentaram-se, então, em abrir pensionatos.

 

Capelão da Visitação de Paris

Antes de retornar ao seu posto, o Bispo de Genebra ofereceu a Vicente o cargo de capelão da Visitação de Paris, onde eram educadas as moças da nobreza.

 

Impelido pela amizade, Vicente aceitou o encargo.

 

As alunas da Visitação, tocadas por sua bondade irradiante, foram mais tarde, na sua maior parte, as principais colaboradoras de suas obras de caridade.

 

Deus conduz tudo …

 

Após a morte de Francisco de Sales, o Pe.Vicente aceitou também ser o Diretor Espiritual da senhora de Chantal. Porém, seu apostolado junto às religiosas e às moças da nobreza não o desviaram do cuidado dos infelizes.

 

Tomando a sério o seu título de Capelão Geral das Galeras, foi visitar os pobres condenados, com os quais ninguém se ocupava.

 

Capelão Geral das Galeras

Naquele tempo os barcos não eram a combustível como agora. Navegava-se à vela ou a remo.

 

A Marinha precisava de grande número de remadores para suas galeras, mas esta ocupação era tão penosa e mal remunerada que ninguém a queria. Encontraram, então, a solução mais simples, empregando-se neste mister os condenados por delitos comuns. Assim, era utilizada uma mão-de-obra muito barata.

 

A Marinha francesa estava se desenvolvendo e reclamava novos braços sem cessar.

 

Em lugar de enviar os criminosos para as prisões ou fazê-los pagar multas, os juízes adotaram a praxe de condenar, mesmo por fatos sem maior gravidade, à pena de alguns anos nas galeras.

 

Os galés, eram tratados como animais : Agrilhoados a seus bancos trabalhavam dez horas por dia sob a ameaça do chicote que marcava suas costas nuas ao menor sinal de cansaço.

 

Vicente começou por visitar os novos condenados que, ainda em Paris, aguardavam a primeira oportunidade de serem enviados aos portos.

 

Amontoados em calabouços sem luz e sem higiene, roídos pelos insetos, os desgraçados sentiam-se abandonados.

 

Vicente reclamou energicamente melhores condições de alojamento para eles, e organizou, com algumas pessoas caridosas, a visita regular às prisões.

 

De lá foi para Marselha. O que ele viu tocou-lhe o coração : aqueles homens, esmagados por um trabalho exaustivo, injuriados e chicoteados pelo menor motivo, ficavam revoltados. Vicente fez reparar as injustiças, libertar os inocentes e pediu aos guardas de turmas tratamento mais humano.

 

Finalmente, os forçados se sentiam amados e, quando Vicente organizou para eles uma Missão, muitos deles se reconciliaram com o Bom Deus.

 

De Marselha, Vicente partiu para Bourdéus. Testemunha dos mesmos abusos, ele teve um dia um gesto heróico.

 

Durante uma viagem de galera, vendo um galé a ponto de perder as forças, ele mesmo o libertou de seus grilhões, e tomou seu lugar, na fila dos remadores.

 

Este gesto reconfortou mais os galés que o mais belo dos discursos, pois Vicente mostrava comisto até que ponto os amava.

 

Vicente visita sua família

De Bordéus, ele dirigiu-se a sua terra natal, onde iria visitar toda a família, e rever a casa de sua infância.

 

Hospedou-se na casa do cura e visitou as pessoas que conhecera outrora. Que alegria para todos em receber o pequeno pastor de antigamente, tornado agora preceptor de príncipes e Capelão Geral das Galeras.

 

Por toda parte foi acolhido com afeição, tanto sua lembrança tinha permanecido viva e tanto sua bondade transparecia através de sua pessoa.

 

Ele quis fazer uma peregrinação, com todos os membros de sua família, à capela milagrosa de Buglose, recentemente construída no meio do bosque.

 

Percorreu o caminho descalço, como quando era um pequeno pastor.

 

Do fundo de seu coração confiou à Nossa Senhora de Buglose as almas dos desamparados para os quais ele se sentia cada vez mais atraído.

 

Antes de deixar sua terra natal, aonde jamais voltaria, reuniu todos os parentes numa última ceia.

 

Dando-lhes o exemplo de desprendimento, ele lhes deixou todos os seus direitos de herança paterna, e recomendou que fossem fiéis a Deus e bons uns para com os outros.

 

Para ele nada queria, sentido-se mais livre em nada possuir, e em se doar todo inteiro aos pobres que o esperavam.

 

Fundação da Congregação da Missão

A lembrança dos pobres camponeses não abandonava o espírito de Vicente de Paulo. Quando voltou a Paris, o senhor e senhora de Gondi lhe ofereceram a evangelização de 12.000 camponeses que trabalhavam nas suas terras.

 

Sozinho, Pe.Vicente não teria podido dar conta, porém vários padres piedosos que o admiravam muito estavam dispostos a deixar tudo para juntarem-se a ele.

 

A 17 de abril de 1625, o senhor e a senhora de Gondi por contrato passado em cartório doaram à Congregação nascente uma soma considerável para a época : 45.000 libras. O arcebispo de Paris (Paris tornara-se Arcebispado em 1622) ofereceu, por seu turno, as velhas edificações de um colégio que não tinha mais alunos, chamado colégio dos “Bons Enfants”.

 

Em troca a Congregação da Missão se obrigava a devotar-se gratuitamente ao apostolado dos campos e à assistência espiritual dos forçados.

 

Morte de Madame De Gondi

No dia 23 de junho de 1625, com a idade de 42 anos, a senhora de Gondi morreu, dois meses depois da fundação da Missão. A nobre senhora teve, ao deixar este mundo, a alegria de haver contribuído, pelo apoio dado ao Pe. Vicente, para a salvação de numerosas almas desamparadas.

 

Recompensou-a o Senhor, permitindo-lhe morrer reconfortada na confiança e na paz.

 

O senhor de Gondi estava ausente no momento da morte da esposa. Coube a Vicente a dolorosa incumbência de informá-lo do infortúnio.

 

O General das Galeras, que, sob a influência do santo padre, havia se tornado um fervoroso cristão, aceitou resignadamente a penosa notícia.

 

Esta morte inesperada lhe fez compreender mais uma vez a insignificância das riquezas deste mundo.

 

Renunciando a sua grande fortuna e a seus títulos pomposos, de Gondi pediu a São Vicente, cheio de humildade, que o aceitasse como membro da Congregação dos padres da Missão.

 

Mas, o Padre Vicente não desejava ter os nobres e os grandes da terra nesta que ele chamava “insignificante Companhia”.

 

Aconselhou de Gondi a se tornar discípulo do Cardeal de Bérulle e padre do Oratório. E foi isso que o nobre senhor realmente fez.

 

A Congregação da Missão se desenvolve

De sua parte, com seus auxiliares, dos quais o principal era o Padre Portail, o novo Superior da Missão se lançou à tarefa. A equipe de seus missionários percorreu de início as terras do senhor de Gondi : A Picardia, a Campanha e a Borgonha.

 

Por toda parte onde passavam os missionários, graças à bondade e à simplicidade, ganhavam os corações e reconciliavam as almas com o Bom Deus.

 

Em todas as províncias o povo clamava pelos missionários. Felizmente muitos padres desejaram se juntar aos primeiros companheiros.

 

Seguindo os conselhos de seu fundador, eles viajavam em grupos de dois ou três, de paróquia em paróquia, organizando confrarias de caridade, como em Chântillon-les-Dombes, esclarecendo as consciências através de pregações que, contrariando os hábitos da época, se esforçavam por ser familiares.

 

O Senhor Deus abençoava generosamente aquele devotado esforço. Assistiu-se a reconliações de famílias divididas, e a restituições da parte de ladrões diretamente a suas vítimas. Verdadeira multidão procurava os confessionários, e muitos homens, cuja existência se animalizara, reencontravam o gosto de viver e ao mesmo tempo a dignidade de filhos de Deus.

 

A nova maneira de pregar dos missionários teve mesmo influência fora da Congregação, sobre os sermões da época. Em lugar de sermões longos e cansativos os pregadores se aplicaram em seguir o exemplo dos missionários, isto é, com o máximo de simplicidade, segundo o espírito do Evangelho. O novo estilo expandiu-se de tal forma, que mesmo na Corte de Saint Germain-en-Laye, o próprio Rei Luiz XIII não desejava ouvir de outra forma as pregações da Quaresma.

 

O edifício do colégio “Bons Enfants” tornou-se pequeno para conter todos os padres que desejavam pertencer à Missão. Ademais, muitos outros, curas ou vigários de paróquias, vinha a eles fazer um retiro de alguns dias, para se formarem sob sua direção e se tornarem mais fervorosos e mais apóstolos.

 

Faltava lugar, mas Deus não abandonava aqueles que trabalham por Ele.

 

E eis o que acontece : O Prior de “Saint-Lazare”, Adrien Lebon, teve a idéia de oferecer ao Pe. Vicente os enormes edifícios de sua prioria.

 

Haviam sido construídos para abrigar leprosos. Mas desde muito tempo estavam sem doentes.

 

Esta grande casa deveria se tornar durante longos anos a sede da Congregação da Missão, cujos padres tomaram desde então o nome de Lazaristas.

 

Um dos primeiros estabelecimentos da Missão foi o da cidade de Richelieu, graças à Duqueza de Aiguillon, sobrinha do Cardeal. Ela viria a ocupar o lugar da senhora de Gondi como patrocinadora da Congregação nascente.

 

Muitas outras casas foram fundadas, em Sedan, Montpellier, Périgueux, Montauban, Troyes, Annecy, Marselha … Em pouco tempo todo o país estava coberto por uma rede de estabelecimentos dedicados ao serviço dos pobres.

 

Fundação das “Damas da Caridade”

De Paris, o Pe. Vicente fez visitar os centros de províncias por homens de bom senso que sabiam, ao mesmo tempo, encorajar os trabalhos e evitar os desperdícios.

 

Em Paris, a obra das Damas da Caridade reunia as mais destacadas senhoras do reino. Vicente as conscientizou das aflições da época, e as orientou em primeiro lugar sobre a visita aos enfermos nos hospitais.

 

Os hospitais, naquela época, não eram bastante numerosos. Viviam superlotados. As mais elementares regras de higiene não eram respeitadas. Às vezes, vários enfermos dormiam num mesmo leito; outros esperavam deitados no chão sobre a palha a morte de um dos companheiros para tomar o seu lugar. Cenas atrozes, sobretudo nos períodos de fome e de epidemia, faziam desses hospitais verdadeiros vestíbulos do inferno.

 

Vicente descreveu essas cenas pungentes às Damas de Caridade, e as levou a visitar os hospitais para que conhecessem o problema em toda sua crueldade. Jamais se fez um apelo em vão ao bom coração das mulheres da França. Novas salas foram arrumadas; cada enfermo passou a ter seu leito com roupa própria; a alimentação foi melhorada, os tratamentos eram feitos regularmente e se pensou em cuidar dos convalescentes a sua saída do hospital.

 

Muitas belas damas não hesitavam em consagrar várias horas por dia ao cuidado dos doentes e a fazer por eles o que jamais teriam concordado fazer em suas próprias casas.

 

Sob os conselhos de Vicente passaram a compreender que quando tratavam de um desvalido estavam cuidando do próprio Cristo. Convivendo desta forma com a miséria humana, compreenderam melhor que não tinham o direito de desperdiçar o dinheiro com seus prazeres e vaidades.

 

Os pobres e doentes que elas visitavam com respeito e amor eram tocados pela sua bondade.

 

Desta forma o Pe. Vicente contribuiu para aproximar as classes sociais, que se ignoravam totalmente.

 

Graças a sua caridade, que se espalhou em todo o reino numa época em que tantos miseráveis estavam prestes a se revoltar, o Pe. Vicente deu à França a oportunidade de evitar o dispêndio de uma guerra sangrenta.

 

O Padre Vicente, porém, acabou por se dar conta de que, apesar de seu devotamento, as senhoras da nobreza, dentre as quais se destacavam Maria de Gonzaga, futura rainha da Polônia, Charlotte de MontMorency, mãe de Condé, senhora Fouquet, mãe do superintendente; senhora de Lamoignon, esposa do Presidente do Parlamento; senhora Séquier, casada com o grande Chaceler, não poderiam dedicar todo seu tempo aos enfermos e aos pobres. Elas o deviam também ao marido e aos filhos.

 

Fundação das “Filhas da Caridade”

Foi então que ele aceitou a idéia de dar organização à disponibilidade de generosas camponesas, que se ofereciam para, sob sua direção, tornarem-se servas dos pobres.

 

A primeira a se apresentar chamava-se Margarida Naseau e trabalhava, anteriormente, numa fazenda em Suresnes. Enquanto tomava conta do gado, aprendera a ler para poder ensinar o catecismo a seus companheiros analfabetos.

 

Tendo ouvido falar do bem que o Padre Vicente fazia em Paris, ela veio oferecer-lhe os préstimos.

 

Como várias outras moças se apresentassem também, Vicente resolveu reuni-las em Companhia e fazê-las religiosas de um novo gênero: que pudessem circular pelas ruas e casas.

 

Mas, a quem confiar a direção deste novo empreendimento?

 

Ora, entre suas colaboradoras havia uma que lhe era particularmente devotada: Luiza de Marillac, sua conhecida desde os tempos de Clichy, e que se havia casado há pouco tempo atrás (a 5 de fevereiro de 1613 na igreja de Saint-Gervais, em Paris) com um magistrado, Antoine Le Gras.

 

Ficando viúva em 1625, pôs-se sob a direção do Pe. Vicente. Em 1630, depositou em suas mãos o voto de dedicar sua vida ao serviço dos pobres. Assim, quando se cogitou da direção desta nova sociedade “Servas dos Pobres”, foi logo em Luzia que ele pensou.

 

Em 1633, Margarida Naseau e suas companheiras uniram-se na casa de Luzia de Marillac: A Congregação da filhas da Caridade, também chamada Irmãs de São Vicente de Paulo, estava fundada

 

A 25 de março de 1642, a nova Superiora e suas companheiras se obrigaram por um voto.

 

Ainda hoje, é na festa da Anunciação que todas as filhas de Caridade renovam, cada ano, o gesto de sua fundadora e o laço que as liga ao serviço de Deus e dos pobres.

 

Margarida Naseau morreria pouco tempo depois, vítima do seu devotamento aos doentes atingidos pela peste

 

Desde esta época, as Filhas da Caridade não cessaram de se multiplicar e se espalhar através do mundo. São encontradas por toda parte onde haja uma dor a consolar, uma obra de dedicação a realizar: enfermeiras nos hospitais, visitadoras dos pobres, mães nos orfanatos, educadoras da juventude, distribuidoras de sopas populares, diretoras de dispensários e asilos para os velhos, missionários em países longínquos.

 

Elas se encontram aos milhares, espalhadas pela superfície da terra.

 

Organização dos Seminários

O desenvolvimento de suas obras de caridade não fazia esquecer as Pe. Vicente a grande esmola de que o mundo precisa. Esta não é somente o pão do corpo mas o do espírito: o próprio Jesus Cristo. Ora, para dar Jesus Cristo ao mundo, é necessário que haja padres santos que o façam conhecer e amar através de toda sua vida.

 

Também o Pe. Vicente, como todos os grandes homens de sua época, preocupou-se com a preparação dos futuros padres ao sacerdócio.

 

Não havia ainda seminários naquela época, como atualmente.

 

Vicente organizou na sua grande casa de São Lázaro, retiros de 15 dias, a fim de preparar os jovens que haviam estudado Teologia na Sorbonne, para receberem a ordenação. Esses retiros tinham lugar 5 vezes por ano. Bem cedo isto seria feito em todas as Dioceses da França; o costume passou desse país ao estrangeiro, e mesmo a Roma.

 

Quinze dias era muito pouco tempo para preparar à ordenação sacerdotal, que faz de um homem um padre para toda a eternidade.

 

Logo os padres da Missão fundaram a pedido dos Bispos, grandes Seminários, onde os futuros padres ficassem vários anos para se formar.

 

No fim do século XVII não havia uma só Diocese na França que não possuísse o seu seminário.

 

Para ser um bom padre, entretanto, não é suficiente ter recebido com piedade a ordenação sacerdotal.

 

É necessário fazer progressos sem parar. Parar ajudar os padres a se tornarem mais fervorosos, Vicente organizava todas a terças-feiras, em “Saint-Lazare”, uma jornada de oração, de estudo e de congraçamento. Nestas reuniões se encontravam homens que mais tarde seriam célebres: Olier, fundador da Companhia de São Sulpício; Bossuet, futuro Bispo de Meaux; Pallu, fundador das Missões Estrangeiras.

 

Influência de Vicente sobre o Rei Luiz XIII

O Rei Luiz XIII, que havia se encontrado muitas vezes com Vicente, interessou-se por suas obras.

 

Convocou Filhas da Caridade como enfermeiras do Exército e padres da Missão para Capelães Militares.

 

Ele próprio o consultava sobre graves problemas e foi sob a influência que se reconciliou com a rainha Ana d’Áustria.

 

A 11 de fevereiro de 1638 o Rei consagrou a França à Virgem determinando que em lembrança desta consagração houvesse, anualmente, em todo o país, a 15 de agosto, uma procissão em sua honra.

 

A Virgem protege os que nela confiam.

 

Algumas semanas depois da consagração do reino à Nossa Senhora, os exércitos inimigos que haviam invadido a França, foram detidos nas frentes de batalha. Além disso, o Rei, que não tinha filhos, e, portanto, não tinha herdeiro, viu nascer-lhe um menino: o futuro Luiz XIV.

 

Em 1643, sentindo-se doente, Luiz XIII chamou o Pe. Vicente para junto de si e sob sua direção preparou-se para a morte. É cantando o Te Deum que ele entrega sua alma a Deus.

 

Influência sobre a Rainha Ana d’Áustria

Após a morte do Rei, a rainha Ana d’Áustria tornou-se regente. Luiz XIV contava apenas 5 anos. Ela escolheu o Pe. Vicente para seu Diretor Espiritual.

 

Era um encargo delicado. Vicente o aceitou por dever. Sob sua influência, a Rainha, até então muito frívola, se interessou pelas necessidades do país e, em muitas circunstâncias dramáticas, chegou mesmo a doar suas jóias para ajudar os pobres.

 

Ela o nomeou também secretário do Conselho de Consciência, isto é, do grande Conselho que tratava de tudo que dizia respeito a assuntos religiosos.

 

Mazarino era presidente do Conselho, que tinha por sede o castelo de “Saint-Germain-en-Laye”, para onde Vicente viajava a cavalo.

 

Como era um dos homens que melhor conhecia o clero da França, fez nomear excelentes Bispos para as dioceses, o que muito contribuiu para o reerguimento moral e religioso do país.

 

Desgraçadamente, o Cardeal Mazarino, então Primeiro Ministro, encheu-se de ciúmes pela influência do Pe. Vicente.

 

Sempre que podia zombava dele, e diante dos cortesãos chamava a atenção para a pobreza de sua batina. Porém, Pe. Vicente respondia altivo: “Eu sou pobre, isto é verdade, pois tudo que possuo vai para as mãos dos necessitados, mas sou limpo, e minha batina não tem buraco nem nódoa…”.

 

Muitas vezes Mazarino tentou afastar Pe. Vicente da Corte, e teve a audácia de solicitar à rainha que não mais o recebesse.

 

Esta ficou muito embaraçada porque, de um lado, tinha dado sua confiança ao hábil ministro que era Mazarino, mas, por outro lado, olhava Vicente como um santo e grande benfeitor do país. Apesar de todas as intrigas ela jamais consentiu em separar-se dele.

 

Fundação da obra das “Crianças enjeitadas”

Nenhuma forma de miséria deixava indiferente o coração do grande apóstolo da caridade.

 

Entre as obras mais célebres por ele fundadas na época, pode-se citar a das “Crianças Enjeitadas”.

 

Em consequencia da miséria, muitas mulheres abandonavam seus bebês nas portas das igrejas ou nas esquinas das ruas.

 

Cada ano, em Paris, eram encontrados de quatrocentos a quinhentos deles.

 

Alguns eram vendidos por um preço vil, a mendigos que os mutilavam para melhor excitar a piedade dos transeuntes, ou a miseráveis que pretendiam servir-se deles mais tarde como escravos.

 

O Pe. Vicente resolveu organizar o recolhimento desses meninos e solicitou às nobres Damas de Caridade que se ocupassem deste encargo. No início elas hesitaram, mas o Padre Vicente soube tocar-lhes os corações, e os meninos foram salvos e recolhidos.

 

Quando cresciam, aprendiam a ler e a escrever. Mais tarde aprendiam um ofício e eram orientados na vida.

 

Mas, tudo isso custava caro.

 

Em 1647, a maior parte das damas ricas estava arruinada pelas guerras que haviam devastado suas terras, a ponto de abandonarem a obra iniciada. O Pe. Vicente convocou uma assembléia geral das Damas da Caridade.

 

“As vidas destes meninos estão em vossas mãos – disse-lhes. Vós fostes suas mães, salvando-os; ides agora ser seus juízes condenando-os à morte?”.

 

As damas, emocionadas até às lágrimas, porém não tendo mais dinheiro, venderam suas jóias e seus ricos vestidos. A rainha doou o castelo de Bicêtre.

 

A obra das “Crianças Enjeitadas”, estava solidamente fundada.

 

Fundação de um asilo para os velhos

A grande chaga daquele tempo era os mendigos. Aos milhares invadiam as portas das igrejas e as praças das cidades para esmolar. Muitos deles se transformavam em bandidos e assaltavam de noite os transeuntes. Assim, constituíam-se um perigo para o público, e as autoridades não sabiam como pôr termo a esta situação.

 

O Pe. Vicente tinha feito alguns anos antes uma experiência bem sucedida na cidade de Mâcon, onde a mendicância havia se tornado um verdadeiro flagelo.

 

Ali, ele havia conseguido montar um esquema que socorria os verdadeiros pobres depois de uma investigação, e sobretudo, procurava trabalho para os desocupados.

 

Em Paris, onde havia 40.000 mendicantes, a situação era muito complicada.

 

Vicente começou por fundar um asilo para os velhos.

 

A rainha colocou à disposição da obra projetada o hospital da Salpêtrière.

 

Este imenso edifício existe ainda hoje. Encontra-se junto à estação da Austerlitz. As Senhoras da Caridade organizaram nele uma casa de trabalho.

 

Vicente desejava que os mendigos fossem levados para lá através de persuasão e não por constrangimento; mas as autoridades, assustadas pelo número dos que vagavam, ordenaram seu internamento em massa.

 

Vicente não aprovava essa medida violenta, mas teve que inclinar-se ante a vontade dos políticos e das autoridades.

 

Fez o que pôde para abrandar a pena desses desgraçados, determinando visitas e cuidados através das Senhoras e das Filhas da Caridade.

 

Além disso, os verdadeiros pobres que se acanhavam de mendigar, estavam seguros de encontrar diretamente, nas casas fundadas pelo Pe. Vicente, a acolhida reconfortante de que precisavam.

 

Obras caritativas diversas

Outros aspectos de miséria vinham ainda solicitar a dedicação do Pe. Vicente e dos padres da Missão.

 

Durante trinta anos, guerras contínuas devastaram as mais belas províncias da França. Franceses ou estrangeiros, os soldados viviam no país sem receber soldo. Nenhuma disciplina podia impedi-los de pilhar para comer.

 

Quando os civis resistiam, eles espancavam homens, mulheres e crianças, e tocavam fogo nas casas.

 

Os sobreviventes eram vítimas da fome, pois as colheitas eram destruídas. Com que fazer o pão?

 

Então comiam-se ervas e cascas de árvores. Conta-se mesmo que alguns chegaram a comer crianças. A Lorena em particular, sofreu muito.

 

O Pe. Vicente reuniu às pressas viveres e roupas. Fazia organizar o mais rapidamente possível, sopas populares, dando detalhadamente as receitas mais nutritivas.

 

Como o tecido faltava, utilizaram os panos suntuosos que haviam servido para os funerais de Richelieu e de Luiz XIII.

 

Lazaristas, médicos e cirurgiões, foram enviados com remédios para os doentes, pois as epidemias grassavam com fúria.

 

Livraram-se os campos dos cadáveres que envenenavam o ar e a água. Foram distribuídas sementes, tendo em vista a possibilidade de uma próxima colheita.

 

Os socorros deviam ser transportados através das linhas inimigas. A coragem dos padres da Missão estava, porém, acima de todas as dificuldades. Toda a população reconfortada escreveu manifestando ao Pe. Vicente o seu reconhecimento. Os magistrados chamaram-no de “Pai da Pátria”.

 

Era um “Socorro Nacional” o que Vicente tinha fundado. Assim, ele tanto salvou da morte como do desespero centenas de milhares de pobres flagelados.

 

A Fronda

A maior parte das províncias do Norte e do Este da França foi beneficiada pelo gênio caritativo de Vicente.

 

Porém, a partir de 1648, foi sobretudo a região parasiense, que, sofrendo as conseqüências da guerra civil, apelou para ele.

 

Chamou-se a essa guerra civil: a Fronda.

 

Era dirigida sobretudo pelos Príncipes e pelo Parlamento, descontentes com Mazarino. Mas era sempre o povo a primeira vítima das disputas entre os grandes.

 

Como Mazarino, em “Saint-Germain-en-Laye”, pretendia render Paris pela fome, o Pe. Vicente não hesitou em viajar para a Corte, mesmo sabendo do perigo de ser preso no caminho. Pôde atravessar as linhas em Clichy, graças a seus antigos paroquianos que o reconheceram e lhe vieram em ajuda.

 

Chegando junto à Rainha ele obteve dela que o pão pudesse chegar à capital e, pouco depois, graças em parte a sua intervenção, uma paz foi assinada em Rueil.

 

Mas esta paz foi provisória, pois Mazarino, tendo convencido a Rainha de que Condé conspirava para destronar o jovem Rei e tomar o poder em seu lugar, obteve permissão para prender o Príncipe e seus amigos.

 

A guerra civil recomeçou. Tomado de pavor Mazarino escondeu-se.

 

Condé voltou a Paris. A Grande Dama (A duquesa de Montpensier, filha de Gastão de Orleans, irmão de Luiz XIII) manda atirar com o canhão da Bastilha sobre as tropas de Turenne, e abre as portas de Paris a Condé.

 

A multidão enlouquecida incendia o Hôtel de Ville e massacra impiedosamente. É novamente a desordem e a fome. Vicente transforma “Saint-Lazaire” em asilo para os refugiados dos subúrbios, e em armazém de víveres para os famintos da capital. Porém, muito cedo os víveres vão faltar, e esta será a catástrofe definitiva se a guerra civil não parar.

 

Somente o jovem Rei, cuja maioridade vinha de ser declarada, podia restaurar a paz: Era preciso destituir Mazarino.

 

Com sua coragem e sua fé, mas sobretudo com seu imenso amor pelos pobres, vítimas das disputas dos poderosos, Vicente não hesita em escrever a Mazarino e à Rainha, externando com firmeza seu pensamento. A Rainha compreende os interesses do reino. Mazarino encolerizado cede e deixa o Rei entrar sozinho em Paris, onde é aclamado com entusiasmo pelos parisienses. Voltara a paz: Paris estava salva.

 

Os Lazaristas se instalam em Roma

Vicente, apesar de amar profundamente a França, não limitava unicamente a seu país suas preocupações. Verdadeiro filho da Igreja, ele fez estabelecer em Roma, no centro da Cristandade, uma casa dos Padres da Missão. O papa encorajou os missionários franceses a pregar como em Paris nos retiros preparatórios para as ordenações. Os Bispos italianos pediram também aos Lazaristas, que dessem pelos campos missões daquela mesma maneira.

 

Eles “missionam” na Itália

Naquele tempo na Itália como na Córsega, muitas famílias rivais estavam dominados pelo espírito da vingança: Cada um portava consigo armas mesmo para ir à igreja, e não hesitava em servir-se delas a qualquer momento.

 

Os missionários franceses se dedicaram a fazer cessar este hábito.

 

Nada era mais emocionante do que ver todos os habitantes de uma cidade abandonarem suas armas sobre a cadeira do pregador e renunciarem a suas vinganças.

 

Os Lazaristas haviam começado a missão na cidade de Gênes, quando se declarou uma epidemia: Era a peste, doença tanto mais contagiosa quanto a higiene, a essa época, era bastante rudimentar.

 

Os pregadores suspenderam os sermões. Lançaram-se a cuidar dos doentes e a sepultar os mortos.

 

Muitos deles morreram vítimas de sua coragem heróica.

 

Seu exemplo fez mais do que muitos discursos e vitórias militares, para fazer amar a França.

 

Na Polônia

Uma das primeiras Senhoras da Caridade tinha se casado em 1645 com o Rei da Polônia. Chamava-se Maria de Gonzaga.

 

Logo que chegou a Varsóvia, ela pediu a Vicente que lhe enviasse Lazaristas e Filhas da Caridade.

 

O Pe. Vicente lhe enviou aquele a quem chamava de seu braço direito: O Padre Lambert. Durante um ano este organizou, como o Pe. Vicente havia feito na França, muitas Missões e Confrarias de Caridade.

 

Mas eis que a peste se abate também sobre a Polônia. Os doentes ficavam abandonados nas próprias casas e ninguém se arriscava a cuidar deles. Os cadáveres permaneciam insepultos, e eram devorados por cães e lobos. Os que sobreviviam à peste morriam de fome.

 

O Pe. Lambert, em alguns dias, organizou a vida da cidade. Os mortos tiveram sepultura, os enfermos receberam tratamento, víveres foram distribuídos com regularidade, mas a tarefa era excessiva. O Padre Lambert morreu de esgotamento assim como 19 Filhas da Caridade, das 20 que tinham vindo da França.

 

A uma súplica da Rainha, Vicente enviou outros padres da Missão, desta vez acompanhados de visitadoras. Os viajantes embarcaram em Dieppe, mas, apenas haviam deixado o porto, foram aprisionados por piratas ingleses e levados para Douvres. Conseguiu-se libertá-los e, por terra, chegaram a Polônia.

 

Novas Filhas da Caridade vieram logo juntar-se a este grupo.

 

Desgraçadamente a guerra veio ensangüentar esse pobre país mártir. Os suecos, e depois os moscovitas, devastaram cidades e campos.

 

Todas as casas das Filhas da Caridade foram destruídas.

 

Mas o heroísmo delas deixou tão forte recordação, que apesar das divergências, a França e a Polônia tornaram-se para sempre nações inimigas.

 

Em Madagascar

Certo dia, a Campanha das Índias, que gozava do monopólio do comércio com Madagascar, solicitou missionários ao Pe. Vicente.

 

As viagens eram naquela época muito mais perigosas do que atualmente.

 

“Mas, dizia Pe. Vicente aceitando o pedido, o que os comerciantes não hesitam em fazer para ganhar dinheiro, os missionários devem fazer para ganhar almas”.

 

Madagascar, que naquela época se chamava “Saint-Lourent”, era ainda muito pouco conhecida.

 

Os jesuítas portugueses haviam tentando evangelizá-las. Mas infelizmente eram acompanhados de soldados e comerciantes que tratavam os indígenas como escravos.

 

Os jesuítas não obtiveram resultado; desencorajados, voltaram para Portugal.

 

Vicente enviou dois Lazaristas, Gondrée e Nacquart, recomendando-lhes agir antes de tudo com bondade.

 

Depois de algumas semanas, o Pe. Gondrée foi atingido pela febre e morreu.

 

O padre Nacquart ficou só. Longe de perder a coragem ele aprendeu muito rapidamente a língua malgaxe, e tão bem que ao fim de um ano, pode redigir um catecismo no idioma nativo.

 

Ele sou acima de tudo atrair os corações pela sua palavra ardente que todos compreendiam.

 

Os Malgaxes eram dóceis e inteligentes. Sentiam-se amados e espontaneamente passaram a confiar no missionário francês.

 

O Rei Ramaca, o recebeu pessoalmente na sua capital de palhoças, a algumas léguas de Fort-Dauphin.

 

Muitos indígenas pediram o batismo. O padre Nacquart solicitou do Pe. Vicente que lhe mandasse ajuda.

 

Ele pedia irmãos arquitetos, médicos, alfaiates, mestreescolas e sobretudo Filhas da Caridade para cuidarem dos doentes, das mulheres e das crianças.

 

Em 1654 chegaram o padre Bourdaise e mais dois irmãos da Missão, para o ajudar. Pena é que muitos anos haviam transcorrido; o padre Nacquart estava morto, e os novos cristãos, muito cedo abandonados, não tinham perseverado.

 

Bourdaise se lançou ao trabalho se perda de tempo.

 

Como ele era também um bom médico e mesmo cirurgião, muitos doentes vinham procurá-lo.

 

Os missionários andavam de povoação em povoação, mas desta vez não davam o batismo sem que antes houvesse um longo preíodo de catecismo.

 

As provações se abateram novamente sobre a missão. O Bom Deus deseja que o bem se faça com sacrifícios. É pelo sacrifício que se tempera uma alma cristã.

 

Os companheiros do Pe. Bourdaise morreram, um após outro, vítimas das febres.

 

A capela que haviam construído desapareceu num incêndio.

 

Bourdaise em vez de se desencorajar teve uma idéia maravilhosa: Enviou ao Pe. Vicente pelo primeiro navio, 4 pequenos malgaxes que deveriam estudar em Saint-Lazare para virem a ser mais tarde os padres de sua ilha. O Padre Vicente os recebeu com grande alegria e os preparou ele mesmo para o sacerdócio.

 

O Pe. Bourdaise morreu logo depois, mas a obra começada não devia mais ser abandonada.

 

Apesar das doenças e das perseguições, os missionários se espalharam por toda ilha. As conversões se multiplicaram.

 

Uma nova terra era conquistada para Cristo. Hoje em dia é uma das comunidades cristãs mais florescentes. Conta 15 dioceses.

 

O Arcebispo de Tananarive e muitos Bispos são malgaxes.

 

Na África do Norte

Havia uma região da África, em que pensava muitas vezes o Padre Vicente. Era aquela onde ele tanto sofrera quando, em sua juventude, havia sido capturado pelos corsários.

 

Mas, ali, não era nada fácil penetrar.

 

Toda África do Norte pertencia ao Sultão de Constantinopla.

 

Somente os diplomatas franceses, residentes em Tunis e Argel representavam aí os interesses dos estados cristãos.

 

Os Beis de Argel e de Tunis faziam ali o que lhes dava na cabeça. Os navios singravam o Mediterrâneo dando caça aos barcos mercantes.

 

Os cativos eram vendidos em praça pública como escravos. Vicente havia passado por essa experiência. Eles eram comprados como gado nos mercados, e os compradores, depois de ter pago, podiam fazer deles o que quisessem.

 

O único meio de escapar à escravidão era fazer-se muçulmano.

 

De tempos em tempos, o Rei da França protestava contra essas violências que feriam os tratados. Simulava-se uma satisfação, acolhiam-se com respeito os enviados extraordinários encarregados de libertar os cativos, mas dava-se um jeito de escondê-los, e tudo recomeçava como antes.

 

Luiz XIII falando um dia com Vicente perguntou-lhe se não seria possível enviar missionários aos cativos da Barbária.

 

Calculava-se que eram mais de 30.000.

 

Era necessário antes a aprovação dos Beis, embora os tratados assegurassem aos diplomatas o direitos de terem padres para a assistência religiosa de suas famílias.

 

E foi sob esse título de capelães de consulados que os padres Guérin e J. Le Vacher foram enviados a Tunis por São Vicente.

 

Usando de muita diplomacia eles conseguiram visitar os cativos nas prisões, e até organizar capelas de presídios.

 

Em 1647 Tunis foi assolada pela peste. Os dois Lazaristas, heróicos na sua dedicação, impuseram-se à admiração dos turcos.

 

O Padre Guérin e o Cônsul morreram. Jean Le Vacher assumiu sozinho o consulado; mas passado o perigo, o Bei de Tunis, usando um pretexto qualquer, obrigou-o a deixar o país.

 

Tudo estava para recomeçar.

 

Resgate dos Escravos

O Pe. Vicente teve a idéia de resgatar os cativos a peso de ouro. A salvação de uma alma vale mais que todo o ouro do mundo.

 

Pedidos foram feitos nas igrejas da França. As Senhoras da Caridade fizeram ofertas excepcionais. As somas arrecadadas foram enviadas a MArselha e os missionários, sob direção do Pe. Le Vacher, resgataram cativos pela soma de um milhão e meio de escudos,o que representava importância considerável para a época.

 

Porém, não foi possível continuar por muito tempo: Os turcos aumentaram exageradamente o preço dos resgates. Diante de tanta ganância, Vicente, que era todo bondade, acabou por compreender que o único meio de fazê-los chegar à razão era a força. Ele preparou, com ajuda da Duqueza d’Aguillon uma expedição militar a Argel, mas morreu antes de ver o resultado.

 

Em 1683, Duquesne, comandante da esquadra francesa, fundeou diante de Argel, e bombardeou a cidade.

 

Os turcos para se vingar se apoderaram de Jean Le Vacher, o amarraram à boca de um canhão e dispararam, projetando-o no mar.

 

Durante os séculos seguintes continuaram sua pirataria no Mediterrâneo.

 

Somente em 1830, a França realizou o sonho de São Vicente de Paulo, e pôs fim à escravidão, ocupando a Argélia.

 

A velhice do Padre Vicente

Mas, voltemos a 1660. O Pe. Vicente começa a envelhecer: Ele está perto dos 80 anos. Seu rosto está enrugado, suas costas encurvadas. Seus olhos conservam todavia sua luminosidade e sua juventude.

 

Todos os que se aproximam têm a impressão de que seu olhar penetra as consciências e vai ao fundo da alma; que a sua palavra toca, motiva, encoraja a amar melhor.

 

Suas pernas, que desde os tempos em que estivera acorrentado lhe haviam sempre causando incômodo, dificilmente o carregam. Também fazia muitos meses que não montava a cavalo.

 

Para fazer suas viagens pelos campos aceitou carruagem que Madame d’Aquillon lhe mandava fazer. Mas, cada vez que encontrava um pobre enfermo na estrada o conduzia a seu lado.

 

Cartas lhe chegam de todos os países do mundo. Ele passa várias horas do dia a redigir respostas sempre cheias de bom senso.

 

Até o fim ele é fiel em fazer conferências para os padres e as religiosas.

 

Insistia antes de tudo sobre a confiança em Deus, o abandono às mãos da Providência, a necessidade da humildade, e sobretudo a importância de uma caridade leal e inteligente para com o próximo.

 

Apesar da avançada idade continua a levantar-se às 4 horas da manhã. Ele se contenta com 5 horas de sono. Cada dia ele consagra 4 horas à oração. Ele sente melhor do que ninguém o quanto as organizações tão belas e tão numerosas que havia fundado têm, antes de tudo, necessidade do apoio de Deus, o Mestre das almas.

 

Agir, trabalhar, escrever e pregar fazem o bem, mas é somente a graça obtida através da oração e do sacrifício que converte os corações.

 

A 15 de março de 1660, depois de uma curta enfermidade morreu Luiza de Marillac. Vicente, retido em sua cela, não pôde assisti-la como desejava. Enviou-lhe um religioso encarregado de lhe dizer: “Você vai primeiro, eu logo me juntarei a você”.

 

Quase no mesmo momento morria também seu primeiro companheiro, o padre Portail, com quem havia fundado 35 anos antes, a Congregação da Missão. Esta contava então mais de 450 membros.

 

Durante esses 35 anos, que trabalhos realizados! As Filhas da Caridade eram 600. Nos campos e nas cidades a ignorância e a miséria haviam recuado; os órfãos encontraram mães; os galés conheceram um abrandamento de sua sorte; o clero da França estava penetrado das máximas do fundador das conferências das terças-feiras; a paz tinha voltado e a imagem da França estava mudada.

 

Morte

No dia 26 de setembro, Vicente não podendo rezar a Santa Missa, fez-se carregar até a capela para assistí-la e retornando ao seu quarto pediu que lhe dessem a extrema-unção.

 

Passou todo o dia e a noite sentado em uma poltrona, unindo-se às preces dos que o rodeavam.

 

Às 5 horas da manhã de 27 de setembro, ele expirou beijando o crucifixo e pronunciando distintamente estas palavras: “Confido” – Eu tenho confiança.

 

A Rainha Ana d’Áustria, ao tomar conhecimento de sua morte, exclamou: “A Igraja e os pobres sofrem uma grande perda…”

 

Uma imensa multidão assistiu às exéquias; todos diziam: “Nós perdemos um pai”.

 

Desde então já era considerado um santo. Em 1724, o Papa Bento XIII o beatificou, e em 1737 ele foi canonizado. Seu corpo repousa, atualmente, em Paris, na capela dos Lazaristas, rua de Sèvres 95, aonde acorrem peregrinos de todo o mundo para venerá-lo.

 

A irradiação de uma bela vida

Mas sua grande alma permanecerá sempre viva. Ele continua a inspirar, no mundo todo, as iniciativas caridosas para atender às aflições humanas.

 

Em 1833, um grande cristão e grande francês, Antônio Frederico Ozanam, colocou sob a proteção de São Vicente a organização que havia fundado, sob nome de Conferências de São Vicente de Paulo, com o objetivo de mitigar “as misérias espirituais e corporais dos indigentes”.

 

Em 1855, o Papa declarou São Vicente patrono de todas as obras de caridade.

 

Hoje dezenas de milhares de Irmãs e de Religiosos continuam em todos os pontos do globo a missão do grande Apóstolo da Caridade. Podem-se contar centenas que no curso de epidemias ou sob os bombardeios tombam vítimas de sua dedicação.

 

Muitas Filhas da Caridade, muitos Lazaristas, quer durante a Revolução Francesa, quer nos países de missão, morreram mártires pela fé. Um dos mais célebres é o padre Jean-Gabriel Perboyre.

 

Em 1830, é na capela das Filhas da Caridade, na rua du Bac, em Paris, que a Virgem Maria aparece à irmã Catarina Labouré, para lhe pedir que faça gravar uma medalha sobrea qual seria inscrita a linda prece: “Oh! Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.

 

A humilde Filha de São Vicente, Irmã Catarina Labouré, viveu obscura e desconhecida na Casa das Irmãs da rua de Reuilly.

 

Morreu em 1876 e foi declarada Santa pelo Papa Pio XII, em 1947.

 

Depois da guerra de 1939-1945, um filme intitulado “Monsieur Vicent” foi um dos maiores sucessos cinematográficos da época contemporânea.

 

Traduzida em todas as línguas, mesmo em japonês, esta película mostrou ao mundo inteiro uma das figuras fascinantes da Histórico.

 

Leitor amigo que acabas de ler a bela vida de um Santo que honrou a França e a Humanidade, roga-lhe que te ensine a amar como ele os pobres, e a te dedicares generosamente ao serviço de teus irmãos sofredores.

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