Vicente de
Paulo nasceu em 24 de abril de 1581, no seio de uma família de camponeses, na
cidade de Pouy, região de Landes. (Observa-se no mapa da França, que a região
de Landes fica ao sul e não muito longe da Espanha).
Vicente foi
batizado alguns dias depois do nascimento, pois seus pais eram excelentes
cristãos, e não desejavam retardar o momento de fazer da criança um verdadeiro
filho de Deus através do batismo.
Landes,
naquela época, não possuia ainda a bela floresta de pinheiros que atualmente
faz a sua riqueza. O solo arenoso era pobre. Não dava mais do que centeio e
milho. Precisava muita coragem para tirar de que viver, mas o trabalho, mesmo
duro, jamais atemorizou o camponês da França.
É com
esforço que João de Paulo, o pai de Vicente, se entrega à sua tarefa para
sustentar a numerosa família.
Cedo
Vicente, como seus cinco irmãos e irmãs, foi aproveitado nos trabalhos da
fazenda. Muitas vezes ia às pastagens, tomar conta dos rebanhos.
Como aquela
região de solo plano na época das chuvas se transformasse facilmente em
pântanos, eram em cima de pernas de pau que o pequeno Vicente vigiava os
animais, à moda do lugar.
Bom meio de
nunca molhar os pés, mas à custa de muito equilíbrio !
Em casa as
instalações eram muito rústicas. Naquele tempo o estábulo dos animais, o mais
das vezes, era separado da habitação apenas por um tabique baixo de madeira,
cujos painéis podiam ser removidos. Nisso havia dupla vantagem : No inverno
servia de aquecedor central; depois não havia necessidade de sair para dar de
comer aos animais; as vacas passavam a cabeça pela abertura e recebiam sua
ração de palha cortada e milho.
No mais,
inverno ou verão, a vida era bastante regular. Cada um tinha sua parte de trabalho
e a ele se aplicava de bom humor, sob as vistas de Deus.
Tem-se mais
emoção na obra quando se trabalha pensando n’Ele.
À noite, no
verão, lia-se a vida dos santos, fazia-se a oração em comum, lembravam-se os
falecidos da família e, antes de deitar, os meninos pediam a bênção a seus
pais.
Sem serem
muito ricos, os pais de Vicente não estavam na miséria, e de tempos a tempos
eles lhe forneciam algum trocado para a coleta do domingo, ou para esmola aos
pobres.
Vicente
tinha muito bom coração. Um dia, tendo encontrado um pobre mendingo, deu-lhe,
sem hesitar, tudo que tinha. Ele já sabia que quem dá aos pobres empresta a
Deus.
Vicente
amava muito a SS.Virgem. Sua mamãe lhe havia ensinado, quando era ainda
pequenino, a falar com Ela de coração a coração, e a se dirigir a Ela em todas
as circunstâncias.
Como todos
os pequenos pastores cristãos, ele costumava construir em sua honra oratórios
de ramos de folhagem. Uma ou duas vezes por ano, ia em peregrinação com sua
família a Buglose, onde Nossa Senhora era particularmente venerada.
Voltava
cada vez mais decidido a nada lhe recusar. E mesmo, quanto mais amava a Virgem,
mais amava Jesus, e mais se sentia feliz.
A época de
sua Primeira Comunhão se aproxima. No Catecismo, ele se mostrava tão estudioso
e tão fervoroso, que o bom cura aconselhou insistentemente seus pais a enviá-lo
à cidade, logo na primeira reabertura das aulas, para fazê-lo continuar os
estudos.
Estudos e
Ordenação
Um amigo da
família, M. de Comet, advogado no Tribunal de Dax, também o havia notado e
encorajou seus pais a fazê-lo entrar no colégio dessa cidade.
Vicente
ficou aí três anos frequentando com sucesso o curso de gramática. Aí estudou
também Latim.
Era para
seus camaradas um exemplo tenaz, tanto que, passado pouco tempo, M. de Comet o
convidou para preceptor de seus filhos.
Nessa
atividade ele tomou gosto pelo apostolado. Fazer bem às almas, que há de mais
belo ? E eis que nele cresceu o desejo de se tornar sacerdote de Jesus.
M. de Comet
o encorajou. Para tanto faltava fazer longos estudos de teologia na
Universidade mais próxima, que era a de Toulouse.
Bom cristão
que era, o pai de Vicente vendeu uma junta de bois para lhe assegurar a despesa
de hospedagem.
Aos 16
anos, pos ocasião de uma cerimônia em que o Bispo corta alguns cabelos aos
futuros padres, Vicente recebeu a tonsura. Isto significava que ele entrava no
clero e que, desde então devia usar a batina.
Durante
cinco anos ainda, ele estudou as Ciência religiosas, continuando sempre a se
ocupar com seus alunos, que gostavam muito da clareza de seu ensino e da
jovialidade de seu caráter; o que não o impedia de ser rigoroso quando se fazia
necessário !
Depois de
ter recebido as ordens menores, o subdiaconato, depois o diaconato, ele foi
ordenado padre a 23 de setembro de 1600. Não fizera ainda 21 anos. Era muito
jovem. Hoje em dia é preciso ter ao menos 24 anos para receber a ordenação
sacerdotal, mas naquela época havia menos severidade.
E em Buzet,
numa capela solitária no fundo do bosque, onde muitas vezes rezava quando
menino, que ele celebra com fervor sua primeira missa.
Viagem à
Marselha
Seus
estudos o interessavam muito. Ele desejava poder continuá-los ainda. Nunca se é
bastante sábio quando se quer fazer o bem.
Vicente havia
contraído algumas dívidas para terminar sua Teologia. Felizmente uma bondosa
senhora, ao morrer, tinha-o feito seu herdeiro. Mas a herança consistia,
sobretudo, numa importância em dinheiro que um credor desonesto devia à finada,
o qual, para não pagar, havia fugido para Marselha.
Vicente não
hesitou : Partiu imediatamente para Marselha. Ali, terminou por descobrir o
caloteiro, cuja consciência doeu e que ofereceu 300 escudos para liquidar a
dívida.
Muito menos
do que lhe era devido mas, com seu bom senso, Vicente pensou : “Mais vale um
toma lá do que dois te darei; um mau acordo é muitas vezes melhor que uma boa
questão”. Por espírito de conciliação, Vicente aceitou. Esta soma lhe permitiu
pelo menos pagar o que tomara emprestado.
Ele se
dispunha a voltar a Toulouse em carruagem, quando um senhor gascão, hospedado
no mesmo albergue, lhe propôs a viagem de navio até Narbonne. Representava uma
economia de tempo e dinheiro, porque as viagens por diligência eram longas,
penosas e caras.
Vicente
aceitou o oferecimento. Um passeio de mar em tempo bom, que há de mais
agradável ? Os dois companheiros, alegres e confiantes, embarcaram em Beaucaire
para descer em Rhône.
Prisioneiro
dos Corsários
O vento
soprava em boa direção e o barco navegava sereno. No Mediterrâneo calmo, o sol
brilhava, e tudo dia bem a bordo.
Mas, eis
que no horizonte surgiram 3 navios piratas turcos, que por ali andavam
tocaiando os barcos que regressavam da feira de Beaucaire.
Mais
fortemente equipados, os corsários alcançaram o navio francês, aprisionaram-no
e fizeram-no mudar de rota.
Durante a
abordagem os marinheiros defenderam-se corajosamente, e Vicente lutou ao lado
deles.
Três
marinheiros foram mortos, e todos os demais saíram feridos da luta.
Vicente não
escapou, recebeu uma flechada nas costas, e um ferimento de sabre na perna. O
combate era muito desigual. Os turcos fizeram prisioneiros todos os
tripulantes, além dos dois passageiros, para mais tarde vendê-los como
escravos.
Após oito
dias de viagem, chegaram à baía de Tunis.
Vicente
havia sido despojado de tudo, e naturalmente de todo seu dinheiro.
Os piratas
lhe deram uma roupa de pano grosseiro; um barrete de forçado e o obrigaram a
caminhar cinco ou seis vezes por toda a cidade, junto com seus companheiros de
infortúnio, para chamar a atenção dos compradores e, finalmente puseram-no à
venda no mercado de escravos.
Vendido
como Escravo
O mercado
de escravos era semelhante a um mercado de animais. Os compradores faziam os
prisioneiros abrir a boca, examinavam os dentes, apalpavam os músculos, e as
costas, enfiavam o dedo nas feridas mal cicatrizadas procurando ver suas
profundidades, e discutiam o preço, como se estivesse lidando com bois ou
jumentos. Vemos então o que acontece quando os homens não trazem no coração a
caridade por seus irmãos : Eles os tratam como animais de carga.
Vicente
foi, finalmente, comprado por um pescador que tinha necessidade de um
companheiro para seu barco de pesca. Mas Vicente, ainda mal refeito dos
ferimentos enjoava muito durante as pescarias, e como estava sempre doente, seu
dono pensou em livrar-se dele, e o levou novamente para o mercado de escravos.
Desta vez,
Vicente foi comprado por um ancião que era ao mesmo tempo médico e alquimista.
Chamavam de alquimistas os sábios que procuravam uma fórmula capaz de
transformar qualquer metal em ouro.
Vicente
aprende medicina
O ancião
era muito humano, pagou um bom preço por Vicente e o levou para casa. Logo se
deu conta de que ele ia dar para o serviço.
Não o
maltratou, ao contrário, procurou interessá-lo no seu trabalho e em suas
pesquisas.
Mas a
tarefa confiada a Vicente era penosa : num país onde o calor já é sufocante,
devia ativar o fogo de 12 grandes fornos necessários à fusão dos metais.
Cumprindo
conscientemente suas obrigações, Vicente não cessava de orar à Virgem
Santíssima, rogando pela sua liberdade. Ele tinha confiança que um dia seria
ouvido.
Enquanto
esperava corajosamente, aproveitava-se da experiência do velho sábio, que o
tomou como amigo, ensinando-lhe a medicina e a química. Dizia a si mesmo – e a
continuação mostrará que ele tinha razão – tudo pode servir.
O renome do
velho médico se estendia por muito longe. Falava-se dele até em Constantinopla.
O grande sultão desejou conhecê-lo e convidou-o a vir a sua corte. Este era um
convite que, apesar da sua idade não podia recusar.
Antes de
deixar Tunis, o ancião confiou Vicente a seu sobrinho. Infelizmente, durante a
viagem, o bom velho ficou muito doente e em poucos dias morreu. Isto foi em
agosto de 1606, quando completava quase um ano que Vicente estava em sua
companhia.
Vendido a
um novo Senhor
O sobrinho
herdou tudo que pertencia ao tio, porém, não haveria de continuar suas
pesquisas científicas. Preferiu vender todos os bens e ficar com o dinheiro
Como corria
um boato de que o Embaixador da França na Turquia tinha obtido autorização de
libertar os escravos cristãos, e que logo estaria em Tunis, ele remeteu
depressa Vicente ao mercado para ser vendido, sem lhe perguntar sua opinião, é
claro.
Vicente
continuava a orar a Nossa Senhora, sem jamais perder a coragem. Desta vez, ele
foi comprado por um homem de Nice que, para escapar à sorte miserável do
cativeiro, havia renegado sua religião, tornando-se maometano.
O renegado
recebeu do Sultão de Tunis, como recompensa de sua apostasia, uma pequena
fazenda nas montanhas, mas não seria ali que poderia encontrar a felicidade.
Ninguém
pode ser feliz quando é um covarde.
O Escravo
converte o Senhor
Na casa
deste homem, Vicente foi destinado ao duro trabalho de cultivar terras
imprestáveis, numa região quente e árida. Vicente não era maltratado, porém
alimentava-se mal e vivia miseravelmente alojado. Ele oferecia seu sofrimento
pela conversão de seu algoz, e para ter coragem de enfrentar suas tarefas não
parava de entoar cânticos à Santa Virgem. Sabia muito bem que ela não o
abandonaria.
Esta
inabalável confiança será um dia recompensada.
O renegado
era casado com uma mulher árabe que orava a Deus e tinha bom coração. Ela notou
o espírito piedoso de Vicente, e se emocionava até às lágrimas ao escutá-lo
cantando louvores divinos com tão bela voz.
Certo dia
pediu que ele traduzisse seus cânticos, especialmente a Salve Rainha.
Vicente
satisfez, aquele desejo com todo o ardor de sua fé, e a impressionou de tal
forma, que ela pediu-lhe maiores explicações sobre a religião de Cristo.
Vicente
contou-lhe então a mais bela das Históricos : a Histórico de Cristo vindo à
Terra para salvar todos os homens e para ensiná-los a se amarem uns aos outros.
Escutando Vicente, as horas pareciam minutos.
À noite,
ela contou ao marido como estava maravilhada com tudo aquilo que havia ouvido.
No auge do entusiasmo chegou mesmo a reprová-lo por ter abandonado uma religião
tão bela.
Ela o
repreendeu com tanto ardor, que o renegado, caindo em si, decidiu voltar para
Cristo. Efetivamente, na manhã seguinte, foi procurar Vicente que trabalhava no
campo. Jogou-se de joelhos a seus pés, contou-lhe toda a sua vida, e confessou
o desejo de se converter. Encorajado por Vicente, ele decidiu que ambos
aproveitariam a primeira oportunidade para deixar aquele país mulçumano e
voltar à França, onde poderia expiar seus pecados.
Fuga de
Ambos
É fácil
adivinhar a imensa alegria de Vicente. Estava visto que a Virgem Santíssima o
havia escutado. Todavia, era preciso ser prudente e sua paciência deveria ser
posta à prova. Seria necessário, na verdade, esperar ainda uma dezena de meses
para que chegasse a ocasião sonhada.
Numa noite
de junho, Vicente e seu convertido embarcaram clandestinamente, e deixaram a
costa tunisiana, sem despertar suspeitas. Após uma travessia sem contra-tempos,
chegaram finalmente a Aigues-Mortes.
Deste
porto, Vicente e seu companheiro seguiram para Avignon onde vivia o Núncio
Apostólico, Monsenhor Montorio.
E foi ali,
na igreja de São Pedro que, na presença do vice-legado, o apóstata, em
lágrimas, fez sua abjuração, e foi reintegrado na Igreja Católica.
Era um fato
de tal modo extraordinário que todo mundo falava nele.
Viagem à
Roma
Como havia
prometido a Vicente, o novo convertido pediu que a penitência de sua falta, ele
a cumprisse em um convento. Monsenhor de Montorio, emocionado ante esta
conversão tão sincera, resolveu levar a Roma aquele que havia sido instrumento
de misericórdia divina.
O
convertido entrou para o mosteiro dos Irmãos da Caridade, onde deveria se
consagrar até a morte a cuidar dos enfermos. Vicente, que havia ganho a amizade
e a confiança do Núncio, demorou-se algum tempo em Roma.
Não desejando
permanecer inativo, Vicente resolveu freqüentar os cursos de Teologia, que na
época, se ministravam na Universidade romana.
Os
conhecimentos de Química que ele havia adquirido com o ancião árabe,
contribuíram para seu prestígio ante os prelados romanos, mas sobretudo sua
inteligência, seu bom senso, sua alma piedosa, e a estória da conversão de seu
algoz tunisiano atraíram sobre si as atenções do Papa Paulo V, e do Embaixador
da França – Savary de Brêves.
Embaixador
junto ao Rei da França
Em 1608, o
Papa e o Embaixador lhe confiaram uma missão confidencial junto ao Rei Henrique
IV.
Vicente
partiu imediatamente para Paris.
O Rei o
recebeu tanto melhor quando soube que ambos eram da mesma região da França. Com
efeito, não é longe de Béarn a Landes.
Como,
naquele momento, Vicente não desempenhasse uma função determinada, o Rei, para
recompensá-lo da missão de embaixador, nomeou-o capelão da Rainha Margot.
Capelão da
Rainha Margot
A rainha,
muito inteligente e culta, morava num suntuoso palácio à margem esquerda do rio
Sena, próximo à Ponte Nova, sobre a atual Praça do Instituto.
Decidida a
reparar uma vida desordenada, ela se tornou muito devota e caridosa.
Aceitou de
bom grado o oferecimento que lhe fez o Rei, de tomar Vicente como Capelão.
A esse
título encarregou-o de distribuir grandes somas de dinheiro aos pobres que
vinham assediar seu palácio, e de ir visitar em seu nome os enfermos do
Hospital da Caridade. Vicente preferia dedicar-se aos pobres a freqüentar os
ricos senhores.
Apesar disso,
teve muitas oportunidades de encontrar-se com o Delfim, isto é, o futuro Luiz
XIII, filho de Henrique IV e de Maria de Médicis, o qual a rainha Margot havia
feito seu herdeiro.
Como o
cargo de capelão lhe deixava lazeres, Vicente os utilizava freqüentando as
aulas dadas por ilustres professores que ensinavam na Sorborne. Preparava o
diploma de licenciado em Direito Canônico.
Vicente,
vocês estão vendo, continuava a estudar : Jamais perdia seu tempo – “É preciso,
dizia ele, aproveitar todas as ocasiões para instruir-se, e assim se tornar
mais capaz de servir a Deus e aos homens”.
Apesar de
passarem por suas mãos grandes somas em dinheiro para distribuir com os pobres,
ele próprio vivia na pobreza. Recusou-se a morar em palácio, pois não se sentia
bem em meio ao luxo e à frivolidade da Corte.
Por
economia, e por humildade, aceitara compartilhar o mesmo quarto do hotel com um
de seus conterrâneos Juiz de Direito, senhor M. de Sore.
Daí lhe
veio um dia uma situação penosa …
Falsa
acusação de roubo
Seu
companheiro de quarto possuía um saquinho cheio de dinheiro que costumava
trazer bem guardado num armário, mas como era bastante distraído,
freqüentemente esquecia a chave na fechadura.
Um dia,
Vicente estava acamado com muita febre. Depois dos anos que passou sob o clima
maléfico da África, sofria crises intermitentes de impaludismo.
Alguns
remédios haviam sido encomendados ao boticário : era assim que naquela época se
chamavam os farmacêuticos.
O empregado
da farmácia foi levar os remédios enquanto Vicente dormia profundamente.
Observando que a chave estava no armário, ele o abriu, apossou-se do dinheiro,
e fugiu escondendo o furto sob as vestes.
De volta o
juiz, vendo o armário aberto, vazio de sua pequena fortuna, pediu explicações a
Vicente. O santo homem, durante o sono provocado pela febre nada havia visto, e
nada poderia entender. O senhor de Sore, encolerizado, acusou Vicente de ser o
ladrão, e instigou contra ele toda a vizinhança.
Vicente
protestou calmamente sua inocência, mas não podendo prová-la, suportou em
silência a injusta acusação.
Felizmente,
alguns anos depois, o verdadeiro ladrão, tendo sido por outro crime levado à
prisão em Bordéus, chamou o senhor M. de Sore, que vivia então naquela cidade,
e confessou o furto.
O juiz escreveu
imediatamente ao Santo pedindo-lhe perdão, porém o Santo já o perdoara havia
muito tempo.
Cardeal de
Bérulle
Dentre os
personagens que se encontraram com Vicente naquela época, é preciso citar o
Cardeal de Bérulle, que exerceu sobre ele uma enorme influência.
Este homem
gozava de grande reputação de santidade. Havia trazido da Espanha para a
França, as religiosas Carmelitas, reorganizadas havia alguns anos por Santa
Teresa D’Ávila (As Carmelitas são religiosas que consagram suas vidas à oração
e à penitência, pela conversão dos pecadores).
Entrementes,
sobreveio um grande acontecimento : No dia 14 de maio de 1610, Henrique IV era
assassinado por um louco (Ravaillac) na rua da Ferronnerie, no bairro de
Halles, em Paris.
Todo o
mundo se comoveu. O Cardeal de Bérulle convidou Pe.Vicente e outro devotado
sacerdote, o Pe. Bordoise, a participarem de um retiro espiritual de muitos
dias, onde deviam também estudar uma maneira de refazer uma França cristã.
Fazia
cinquenta anos que a França vinha sofrendo guerras de religião !
O Cardeal
de Bérulle foi de opinião que, para refazer uma França cristã, era necessário
fundar uma Cogregação de padres que se dedicassem ao estudo e que fizessem
irradiar o pensamento cristão pelo ensino e pela pregação.
Decidiu fundar
a Sociedade do Oratório, seguindo o modelo da que São Felipe Néri havia fundado
na Itália.
Muitos
padres santos pautaram suas condutas pelo exemplo do Cardeal de Bérulle.
Vicente
passou um ano no Oratório aprofundando sua formação pela oração e pelo estudo
dos livros sagrados. mas, durante essas meditações, ele não esquecia jamais a
miséria espiritual do povo pobre.
Dentre os
discípulos do Oratório encontrava-se o padre Bourgoing, cura de Clichy. O
Cardeal de Bérulle, desejando que este devotasse todo seu tempo à Congregação
recém-fundada, pediu-lhe que passasse a paróquia de Clichy às mãos de Vicente.
Cura de
Clichy
E assim que
no dia 2 de maio de 1612, São Vicente de Paulo, tornou-se cura de Clichy,
paróquia do subúrbio norte de Paris, que tem hoje seu nome, e onde três séculos
mais tarde, em 1926, o Padre Georges Guérin fundaria a J.O.C. francesa.
Atualmente,
esta paróquia está confiada à Congregação dos Filhos da Caridade, fundada em
1918, ali mesmo em Clichy, pelo Revenerado Padre Anizan, dentro do espírito do
padre Vicente.
No século
XVII, a paróquia de Clichy era muito extensa e contava muitas centenas de
habitantes, quase todos horleãos.
Vicente
lembrando-se de suas origens camponesas, sentiu-se logo à vontade com eles.
Sua grande
bondade, sua simplicidade, granjearam rapidamente os corações e transformaram
totalmente a paróquia, a ponto de se falar por toda parte no “Anjo de Clichy”.
Seu
primeiro cuidado foi restaurar a igreja que caía em ruínas. Mais tarde seria
construída, ao lado, uma nova igreja, bem espaçosa, pois a paróquia já era
então muito desenvolvida. Houve, entretanto, o cuidado de conservar a igrejinha
de 1612, assim como a cadeira em que padre Vicente se sentava para ensinar
catecismo aos adultos e às crianças.
Nessa igreja
seus trabalhos e sua dedicação permanecem vivos e ajudando a todos. A paróquia
tornara-se famosa pelos belos cânticos que eram entoados pelo povo todo.
Conta-se
que um dia, tendo ido ao castelo de Landy, que se ergue próximo à igreja, ele
encontrou uma jovem que tinha vindo passar uns dias em casa de amigos.
Chamava-se Luíza de Marillac, e deveria, mais tarde, fundar com eles as Filhas
da Caridade.
Durante o
inverno em 1613, o vilarejo de Gennevilliers foi invadido por uma terrível
inundação. Vicente, que era muito corajoso, meteu-se num barco e salvou, com
perigo de sua vida, um grande número de habitantes.
Por onde
passasse Vicente, era amado, mesmo sem que procurasse.
Mas, ao fim
de um ano, o Cardeal de Bérulle chamou Vicente para desempenhar outras funções.
Foi um verdadeiro desespero na paróquia. Os paroquianos o acompanharam chorando
pela estrada e nunca mais o esqueceram.
Vicente,
por seu lado, também nunca os esqueceu. Ele guardou por toda a vida a lembrança
comovida de sua paróquia de Clichy.
No Palácio
dos De Gondi
O fato de
ter o Cardeal de Bérulle obrigado Vicente a deixar Clichy, se fundava na
necessidade de confiar-lhe uma missão muito importante. O senhor de Gondi,
destacada personalidade da época, General das Galeras, Comandante-em-Chefe da
Esquadra Real, havia solicitado ao Cardel um preceptor para seus filhos. De
Bérulle achou por bem designar Vicente.
Este,
naturalmente, por sua índole, preferia o apostolado em meio aos camponeses a
servir aos poderosos da terra …
Mas, ele
era obedienet, submeteu-se
O Bom Deus
tinha seus desígnios. algumas vezes acontece que não se veja bem a razão por
que o Senhor nos faz tomar uma direção, que é a oposta ã que pensamos seguir.
Mas ao fim de um certo tempo, verificamos quão importante é submeter-nos à
vontade de Deus, que sabe melhor o que nos convém. Se Vicente não houvesse
obedecido o Cardeal de Bérulle, não teria podido fazer todo o bem que, graças
às relações com as ricas famílias da época, ele devia fazer mais tarde.
O
Pe.Vicente foi então nomeado preceptor dos filhos do senhor de Gondi. De começo
ele ocupou-se sobretudo do primogênito, Pedro, que em 1613 tinha 11 anos; os
dois outros eram muito jovens.
Vicente
interessou-se igualmente pela criadagem do castelo (para ele, aos olhos de
Deus, a alma de um criado é tão importante quando a de um senhor). Ele os
reconfortava e os ajudava sobretudo a melhor amar o Salvador Jesus.
O senhor de
Gondi, que tão bem conhecia os homens, apreciava o valor do Padre Vicente e
submetia-se a sua influência.
Era uma
forte personalidade. Os grandes senhores de então admiravam-no por sua
magnificência de príncipe, mas temiam-no por sua bravura e violência.
De bom
grado e pelo menor pretexto o senhor de Gondi desembainhava a espada e se batia
em Duelo; o que, como se sabe, é proibido por Deus e pela Igreja.
De Gondi,
contudo era crente fervoroso. Um dia, antes de se bater em duelo, desejou
assistir à Santa Missa rezada por Vicente. Ao terminar o ato religioso, Vicente
caiu de joelhos aos pés do nobre príncipe e lhe disse : “Sei que o senhor
pretende bater-se hoje em duelo. Peço-lhe que renuncie a isso, e eu lhe digo da
parte de Deus que, se o sr. não obedecer, o Todo-Poderoso exercerá sua justiça
sobre a sua pessoa e sobre toda a sua posteridade.”
O príncipe
não estava acostumado a ouvir semelhante linguagem, porém, diante de tal
firmeza e tamanha audácia, acabou por submeter-se e decidiu que jamais voltaria
a se bater. O fato é tanto mais significativo se considerarmos que naquela
época, o duelo era um privilégio, reservado aos nobres.
O incidente
não fez mais do que aumentar a estima e a admiração que de Gondi já nutria por
Vicente. Longe de desgostar-se com o padre, ele passou a ser um de seus
benfeitores mais generosos e fiéis.
A Senhora
de gondi, reconheceu também a santidade daquele que o Cardel de Bérulle havia
indicado para preceptor de seus filhos
Ela o tomou
como seu diretor espiritual. Era mulher muito piedosa, porém angustiada, e
somente perto do Pe.Vicente foi que veio a encontrar a paz em sua alma. Desta
forma, desejava que o padre permanecesse junto dela.
A Senhora
de Gondi era dona de grandes propriedades na Picardia, onde desgraçadamente, os
camponeses estavam abandonados quanto à assistência religiosa. Por falta de
padres, quase ninguém se ocupava deles.
Em 1617, a
senhora de Gondi levou consigo o Pe.Vicente a seu castelo de Folleville.
Este aproveitou
para reunir todos os camponeses na igreja e lhes dirigiu a palavra com tanta fé
e amor que todos desejaram confessar-se.
Vicente
compreendeu, naqueles dias, a urgente necessidade de ir em socorro da gente do
campo, organizando missões por toda parte. Desejava firmemente poder se
consagrar a esta obra. Sobre isso ele se abriu a seu conselheiro, o Cardeal de
Bérulle.
Ele acabara
de receber uma carta dos Oratorianos de Lyon, que lhe descreviam o estado
lamentável de uma importante paróquia da região – Chântillon-Les-Dobes.
Cura de
Chântillon-Les-Dobes
Ele
ofereceu a Vicente o cargo de cura, Vicente aceitou com presteza. Uma bela
noite, para não ser retido pelas súplicas do senhor e da senhora de Gondi,
partiu sem mesmo despedir-se e dizer-lhes para onde ia, deixando a de Bérulle o
encargo de informá-los. Tanta pressa ele tinha de reencontrar os pobres ! Ei-lo
que chega a Chântillon.
Sua pequena
bagagem era pobre, mas sua alma estava cheia de fervor.
A aldeia
era paupérrima do ponto de vista religioso, e ele encontrou Chântillon como o
Padre Vianney encontraria, dois séculos mais tarde, o vilarejo de Ars, quando
foi nomeado cura.
Além disso,
as duas aldeias se encontram por sinal na mesma região e seus habitantes se
lembram ainda hoje do santo que conviveu com eles.
Em
Chântillon, quando Vicente chegou, não havia pessoa alguma para recebê-lo.
A população
tornara-se indiferente, senão ímpia. A igreja não se prestava mais ao culto.
Estava completamente arruinada e servia de abrigo para os animais.
Os
católicos davam mau exemplo e não tinham mais piedade.
Os
protestantes eram numerosos. A aldeia estava dividida. As pessoas já não se
entendiam e as disputas eram freqüentes.
Como o
prebistério se encontrasse ocupado pelos pobres que ali se haviam instalado,
Vicente foi procurar morada, com muita paciência, ha hospedaria, cujo
proprietário era um protestante chamado Jean Beynier. Vicente evitava qualquer
discussão com ele. Mas, somente pelo exemplo de sua bondade e de sua fé, tocou
o coração do hoteleiro. Beynier abjurou o protestantismo, e se tornou um dos
colaboradores do novo cura (O Pe. Vicente jamais considerou os protestantes
como seus inimigos, mas sim como seus irmãos).
Vicente
começou, como havia feito em Clichy, por colocar a igreja em bom estado. Em
seguida atraiu todos, organizando dignas cerimônias e fazendo executar belos
cânticos.
Repetindo
ainda Clichy, lecionava o catecismo com tanta emoção, que os participantes
aumentavam de domingo a domingo.
As
conversões se multiplicavam, e em cinco meses o vilarejo se transformou.
Havia na
região um nobre chamado Senhor de Rougemont, que sem cessar se batia em duelo.
Já havia dado morte a muita gente. Dono de um caráter irascível lançava-se à
briga pela mais fútil razão. Por isso todo mundo o temia e ninguém ousava
aproximar-se dele.
Vicente foi
vê-lo e o fez compreender, com doçura, mas com firmeza a gravidade de sua
conduta. Este homem violento não resistiu à autoridade do Santo e resolveu
mudar de vida.
Naqueles
tempos era um grande sacrifício para um nobre renunciar ao privilégio de
bater-se em duelo. Mas, sua conversão foi realmente sincera e, para evitar a
tentação, Rougemont resolveu quebrar contra uma pedra a espada que considerava
acima de tudo.
Era o maior
sacrifício que Deus lhe poderia pedir. E ele o fez corajosamente.
E Deus o
recompensou concedendo-lhe a graça de se tornar um cristão exemplar.
Um domingo
de manhã, quando o novo cura ia celebrar a Santa Missa, vieram lhe dizer que,
em uma casa do vilarejo, toda a família estava doente, sem que houvesse uma só
pessoa em condições de cuidar dos outros. O Pe. Vicente recomendou essa família
no sermão com muito empenho.
À tarde,
quando ele mesmo ia levar sua ajuda, encontrou na estrada uma verdadeira
procissão de pessoas que iam e vinham para levar socorros.
O Padre
Vicente, homem prático, desejou organizar esta atividade caritativa e disse a
seus paroquianos : “É muito bom da parte de vocês que tenham vindo hoje acudir
os enfermos. Mas, será melhor que venha cada um por seu turno cuidar deles e
preparar a alimentação”.
E fez um
regulamento para que os esforços de caridade de uns e de outros fossem
duráveis.
Não basta,
com efeito, dar esmola de passagem, é preciso ajudar a gente a sair de sua
miséria.
Vicente
insistia, sobretudo, quanto à maneira de servir os pobres.”A maneira como se
dá, vale mais do que aquilo que se dá, gostava ele de repetir. Serví os pobres
com respeito e delicadeza. Jesus Cristo considera como feito a Ele mesmo tudo
que se faz a um pobre ou a um enfermo.”
Ele não
temia entrar nos menores detalhes, por exemplo, como preparar a refeição ou
cortar a carne.
Volta para
junto dos De Gondi
Durante
esse tempo, a família de Gondi sofria com a ausência de Vicente.
De Gondi
enviou cartas suplicando que Vicente voltasse; e sua esposa fez o mesmo; mas o
Pe. Vicente teria permanecido surdo a esses apelos, se o Cardeal de Bérulle, a
pedido do Bispo de Paris, que era irmão do senhor de Gondi, não tivesse
ordenado ao Pe. Vicente que voltasse a Paris.
Vicente,
sempre obediente, se submeteu.
Imagine-se
a desolação dos habitantes de Chântillon vendo partir seu cura. Mas eles não o
esqueceram jamais e ficaram fiéis aos seus ensinamentos. Por seu lado, os de
Gondi ficaram tão felizes de revê-lo que lhe confiaram o posto de capelão de
todas as terras onde eles tinham fazendas.
A esse
título devia logo juntar-se o de capelão geral das galeras reais.
O Encontro
com São Francisco de Sales
Nesta
época, em 1618, Vicente encontrou-se com o santo Bispo de Genebra, que se
chamava Francisco de Sales.
Ele
acompanhava em missão diplomática o Conde Savoia, encarregado de negociar o
casamento entre o príncipe e uma princesa da França : a irmã de Luiz XIII.
São
Francisco de Sales e São Vicente de Paulo tornaram-se rapidamente grandes
amigos.
São
Francisco de Sales havia fundado alguns anos antes, com a finalidade de visitar
os pobres doentes, a Ordem da Visitação, e confiara sua direção à Madame de
Chantal. Mas como naquela época era fora de costume que religiosas pudessem ir
e vir pelas ruas, São Francisco de Sales renunciou ao projeto primitivo.
As
visitadoras moravam nos conventos, sem direito de sair. Contentaram-se, então,
em abrir pensionatos.
Capelão da
Visitação de Paris
Antes de
retornar ao seu posto, o Bispo de Genebra ofereceu a Vicente o cargo de capelão
da Visitação de Paris, onde eram educadas as moças da nobreza.
Impelido
pela amizade, Vicente aceitou o encargo.
As alunas
da Visitação, tocadas por sua bondade irradiante, foram mais tarde, na sua
maior parte, as principais colaboradoras de suas obras de caridade.
Deus conduz
tudo …
Após a
morte de Francisco de Sales, o Pe.Vicente aceitou também ser o Diretor
Espiritual da senhora de Chantal. Porém, seu apostolado junto às religiosas e
às moças da nobreza não o desviaram do cuidado dos infelizes.
Tomando a
sério o seu título de Capelão Geral das Galeras, foi visitar os pobres
condenados, com os quais ninguém se ocupava.
Capelão
Geral das Galeras
Naquele
tempo os barcos não eram a combustível como agora. Navegava-se à vela ou a
remo.
A Marinha
precisava de grande número de remadores para suas galeras, mas esta ocupação
era tão penosa e mal remunerada que ninguém a queria. Encontraram, então, a
solução mais simples, empregando-se neste mister os condenados por delitos
comuns. Assim, era utilizada uma mão-de-obra muito barata.
A Marinha
francesa estava se desenvolvendo e reclamava novos braços sem cessar.
Em lugar de
enviar os criminosos para as prisões ou fazê-los pagar multas, os juízes adotaram
a praxe de condenar, mesmo por fatos sem maior gravidade, à pena de alguns anos
nas galeras.
Os galés,
eram tratados como animais : Agrilhoados a seus bancos trabalhavam dez horas
por dia sob a ameaça do chicote que marcava suas costas nuas ao menor sinal de
cansaço.
Vicente
começou por visitar os novos condenados que, ainda em Paris, aguardavam a
primeira oportunidade de serem enviados aos portos.
Amontoados
em calabouços sem luz e sem higiene, roídos pelos insetos, os desgraçados
sentiam-se abandonados.
Vicente
reclamou energicamente melhores condições de alojamento para eles, e organizou,
com algumas pessoas caridosas, a visita regular às prisões.
De lá foi
para Marselha. O que ele viu tocou-lhe o coração : aqueles homens, esmagados
por um trabalho exaustivo, injuriados e chicoteados pelo menor motivo, ficavam
revoltados. Vicente fez reparar as injustiças, libertar os inocentes e pediu
aos guardas de turmas tratamento mais humano.
Finalmente,
os forçados se sentiam amados e, quando Vicente organizou para eles uma Missão,
muitos deles se reconciliaram com o Bom Deus.
De
Marselha, Vicente partiu para Bourdéus. Testemunha dos mesmos abusos, ele teve
um dia um gesto heróico.
Durante uma
viagem de galera, vendo um galé a ponto de perder as forças, ele mesmo o
libertou de seus grilhões, e tomou seu lugar, na fila dos remadores.
Este gesto
reconfortou mais os galés que o mais belo dos discursos, pois Vicente mostrava
comisto até que ponto os amava.
Vicente
visita sua família
De Bordéus,
ele dirigiu-se a sua terra natal, onde iria visitar toda a família, e rever a
casa de sua infância.
Hospedou-se
na casa do cura e visitou as pessoas que conhecera outrora. Que alegria para
todos em receber o pequeno pastor de antigamente, tornado agora preceptor de
príncipes e Capelão Geral das Galeras.
Por toda
parte foi acolhido com afeição, tanto sua lembrança tinha permanecido viva e
tanto sua bondade transparecia através de sua pessoa.
Ele quis
fazer uma peregrinação, com todos os membros de sua família, à capela milagrosa
de Buglose, recentemente construída no meio do bosque.
Percorreu o
caminho descalço, como quando era um pequeno pastor.
Do fundo de
seu coração confiou à Nossa Senhora de Buglose as almas dos desamparados para
os quais ele se sentia cada vez mais atraído.
Antes de
deixar sua terra natal, aonde jamais voltaria, reuniu todos os parentes numa
última ceia.
Dando-lhes
o exemplo de desprendimento, ele lhes deixou todos os seus direitos de herança
paterna, e recomendou que fossem fiéis a Deus e bons uns para com os outros.
Para ele
nada queria, sentido-se mais livre em nada possuir, e em se doar todo inteiro
aos pobres que o esperavam.
Fundação da
Congregação da Missão
A lembrança
dos pobres camponeses não abandonava o espírito de Vicente de Paulo. Quando
voltou a Paris, o senhor e senhora de Gondi lhe ofereceram a evangelização de
12.000 camponeses que trabalhavam nas suas terras.
Sozinho,
Pe.Vicente não teria podido dar conta, porém vários padres piedosos que o
admiravam muito estavam dispostos a deixar tudo para juntarem-se a ele.
A 17 de
abril de 1625, o senhor e a senhora de Gondi por contrato passado em cartório
doaram à Congregação nascente uma soma considerável para a época : 45.000
libras. O arcebispo de Paris (Paris tornara-se Arcebispado em 1622) ofereceu,
por seu turno, as velhas edificações de um colégio que não tinha mais alunos,
chamado colégio dos “Bons Enfants”.
Em troca a
Congregação da Missão se obrigava a devotar-se gratuitamente ao apostolado dos
campos e à assistência espiritual dos forçados.
Morte de
Madame De Gondi
No dia 23
de junho de 1625, com a idade de 42 anos, a senhora de Gondi morreu, dois meses
depois da fundação da Missão. A nobre senhora teve, ao deixar este mundo, a
alegria de haver contribuído, pelo apoio dado ao Pe. Vicente, para a salvação
de numerosas almas desamparadas.
Recompensou-a
o Senhor, permitindo-lhe morrer reconfortada na confiança e na paz.
O senhor de
Gondi estava ausente no momento da morte da esposa. Coube a Vicente a dolorosa
incumbência de informá-lo do infortúnio.
O General
das Galeras, que, sob a influência do santo padre, havia se tornado um
fervoroso cristão, aceitou resignadamente a penosa notícia.
Esta morte
inesperada lhe fez compreender mais uma vez a insignificância das riquezas
deste mundo.
Renunciando
a sua grande fortuna e a seus títulos pomposos, de Gondi pediu a São Vicente,
cheio de humildade, que o aceitasse como membro da Congregação dos padres da
Missão.
Mas, o
Padre Vicente não desejava ter os nobres e os grandes da terra nesta que ele
chamava “insignificante Companhia”.
Aconselhou
de Gondi a se tornar discípulo do Cardeal de Bérulle e padre do Oratório. E foi
isso que o nobre senhor realmente fez.
A
Congregação da Missão se desenvolve
De sua
parte, com seus auxiliares, dos quais o principal era o Padre Portail, o novo
Superior da Missão se lançou à tarefa. A equipe de seus missionários percorreu
de início as terras do senhor de Gondi : A Picardia, a Campanha e a Borgonha.
Por toda
parte onde passavam os missionários, graças à bondade e à simplicidade,
ganhavam os corações e reconciliavam as almas com o Bom Deus.
Em todas as
províncias o povo clamava pelos missionários. Felizmente muitos padres
desejaram se juntar aos primeiros companheiros.
Seguindo os
conselhos de seu fundador, eles viajavam em grupos de dois ou três, de paróquia
em paróquia, organizando confrarias de caridade, como em Chântillon-les-Dombes,
esclarecendo as consciências através de pregações que, contrariando os hábitos
da época, se esforçavam por ser familiares.
O Senhor
Deus abençoava generosamente aquele devotado esforço. Assistiu-se a
reconliações de famílias divididas, e a restituições da parte de ladrões
diretamente a suas vítimas. Verdadeira multidão procurava os confessionários, e
muitos homens, cuja existência se animalizara, reencontravam o gosto de viver e
ao mesmo tempo a dignidade de filhos de Deus.
A nova
maneira de pregar dos missionários teve mesmo influência fora da Congregação,
sobre os sermões da época. Em lugar de sermões longos e cansativos os
pregadores se aplicaram em seguir o exemplo dos missionários, isto é, com o
máximo de simplicidade, segundo o espírito do Evangelho. O novo estilo
expandiu-se de tal forma, que mesmo na Corte de Saint Germain-en-Laye, o
próprio Rei Luiz XIII não desejava ouvir de outra forma as pregações da
Quaresma.
O edifício
do colégio “Bons Enfants” tornou-se pequeno para conter todos os padres que
desejavam pertencer à Missão. Ademais, muitos outros, curas ou vigários de
paróquias, vinha a eles fazer um retiro de alguns dias, para se formarem sob
sua direção e se tornarem mais fervorosos e mais apóstolos.
Faltava
lugar, mas Deus não abandonava aqueles que trabalham por Ele.
E eis o que
acontece : O Prior de “Saint-Lazare”, Adrien Lebon, teve a idéia de oferecer ao
Pe. Vicente os enormes edifícios de sua prioria.
Haviam sido
construídos para abrigar leprosos. Mas desde muito tempo estavam sem doentes.
Esta grande
casa deveria se tornar durante longos anos a sede da Congregação da Missão,
cujos padres tomaram desde então o nome de Lazaristas.
Um dos
primeiros estabelecimentos da Missão foi o da cidade de Richelieu, graças à
Duqueza de Aiguillon, sobrinha do Cardeal. Ela viria a ocupar o lugar da
senhora de Gondi como patrocinadora da Congregação nascente.
Muitas
outras casas foram fundadas, em Sedan, Montpellier, Périgueux, Montauban,
Troyes, Annecy, Marselha … Em pouco tempo todo o país estava coberto por uma
rede de estabelecimentos dedicados ao serviço dos pobres.
Fundação
das “Damas da Caridade”
De Paris, o
Pe. Vicente fez visitar os centros de províncias por homens de bom senso que
sabiam, ao mesmo tempo, encorajar os trabalhos e evitar os desperdícios.
Em Paris, a
obra das Damas da Caridade reunia as mais destacadas senhoras do reino. Vicente
as conscientizou das aflições da época, e as orientou em primeiro lugar sobre a
visita aos enfermos nos hospitais.
Os
hospitais, naquela época, não eram bastante numerosos. Viviam superlotados. As
mais elementares regras de higiene não eram respeitadas. Às vezes, vários
enfermos dormiam num mesmo leito; outros esperavam deitados no chão sobre a
palha a morte de um dos companheiros para tomar o seu lugar. Cenas atrozes,
sobretudo nos períodos de fome e de epidemia, faziam desses hospitais
verdadeiros vestíbulos do inferno.
Vicente
descreveu essas cenas pungentes às Damas de Caridade, e as levou a visitar os
hospitais para que conhecessem o problema em toda sua crueldade. Jamais se fez
um apelo em vão ao bom coração das mulheres da França. Novas salas foram
arrumadas; cada enfermo passou a ter seu leito com roupa própria; a alimentação
foi melhorada, os tratamentos eram feitos regularmente e se pensou em cuidar
dos convalescentes a sua saída do hospital.
Muitas
belas damas não hesitavam em consagrar várias horas por dia ao cuidado dos
doentes e a fazer por eles o que jamais teriam concordado fazer em suas
próprias casas.
Sob os
conselhos de Vicente passaram a compreender que quando tratavam de um desvalido
estavam cuidando do próprio Cristo. Convivendo desta forma com a miséria
humana, compreenderam melhor que não tinham o direito de desperdiçar o dinheiro
com seus prazeres e vaidades.
Os pobres e
doentes que elas visitavam com respeito e amor eram tocados pela sua bondade.
Desta forma
o Pe. Vicente contribuiu para aproximar as classes sociais, que se ignoravam
totalmente.
Graças a
sua caridade, que se espalhou em todo o reino numa época em que tantos
miseráveis estavam prestes a se revoltar, o Pe. Vicente deu à França a
oportunidade de evitar o dispêndio de uma guerra sangrenta.
O Padre
Vicente, porém, acabou por se dar conta de que, apesar de seu devotamento, as
senhoras da nobreza, dentre as quais se destacavam Maria de Gonzaga, futura
rainha da Polônia, Charlotte de MontMorency, mãe de Condé, senhora Fouquet, mãe
do superintendente; senhora de Lamoignon, esposa do Presidente do Parlamento;
senhora Séquier, casada com o grande Chaceler, não poderiam dedicar todo seu
tempo aos enfermos e aos pobres. Elas o deviam também ao marido e aos filhos.
Fundação
das “Filhas da Caridade”
Foi então
que ele aceitou a idéia de dar organização à disponibilidade de generosas
camponesas, que se ofereciam para, sob sua direção, tornarem-se servas dos
pobres.
A primeira
a se apresentar chamava-se Margarida Naseau e trabalhava, anteriormente, numa
fazenda em Suresnes. Enquanto tomava conta do gado, aprendera a ler para poder
ensinar o catecismo a seus companheiros analfabetos.
Tendo
ouvido falar do bem que o Padre Vicente fazia em Paris, ela veio oferecer-lhe
os préstimos.
Como várias
outras moças se apresentassem também, Vicente resolveu reuni-las em Companhia e
fazê-las religiosas de um novo gênero: que pudessem circular pelas ruas e
casas.
Mas, a quem
confiar a direção deste novo empreendimento?
Ora, entre
suas colaboradoras havia uma que lhe era particularmente devotada: Luiza de
Marillac, sua conhecida desde os tempos de Clichy, e que se havia casado há
pouco tempo atrás (a 5 de fevereiro de 1613 na igreja de Saint-Gervais, em
Paris) com um magistrado, Antoine Le Gras.
Ficando
viúva em 1625, pôs-se sob a direção do Pe. Vicente. Em 1630, depositou em suas
mãos o voto de dedicar sua vida ao serviço dos pobres. Assim, quando se cogitou
da direção desta nova sociedade “Servas dos Pobres”, foi logo em Luzia que ele
pensou.
Em 1633,
Margarida Naseau e suas companheiras uniram-se na casa de Luzia de Marillac: A
Congregação da filhas da Caridade, também chamada Irmãs de São Vicente de
Paulo, estava fundada
A 25 de
março de 1642, a nova Superiora e suas companheiras se obrigaram por um voto.
Ainda hoje,
é na festa da Anunciação que todas as filhas de Caridade renovam, cada ano, o
gesto de sua fundadora e o laço que as liga ao serviço de Deus e dos pobres.
Margarida
Naseau morreria pouco tempo depois, vítima do seu devotamento aos doentes
atingidos pela peste
Desde esta
época, as Filhas da Caridade não cessaram de se multiplicar e se espalhar
através do mundo. São encontradas por toda parte onde haja uma dor a consolar,
uma obra de dedicação a realizar: enfermeiras nos hospitais, visitadoras dos
pobres, mães nos orfanatos, educadoras da juventude, distribuidoras de sopas
populares, diretoras de dispensários e asilos para os velhos, missionários em
países longínquos.
Elas se
encontram aos milhares, espalhadas pela superfície da terra.
Organização
dos Seminários
O
desenvolvimento de suas obras de caridade não fazia esquecer as Pe. Vicente a
grande esmola de que o mundo precisa. Esta não é somente o pão do corpo mas o
do espírito: o próprio Jesus Cristo. Ora, para dar Jesus Cristo ao mundo, é
necessário que haja padres santos que o façam conhecer e amar através de toda
sua vida.
Também o
Pe. Vicente, como todos os grandes homens de sua época, preocupou-se com a
preparação dos futuros padres ao sacerdócio.
Não havia
ainda seminários naquela época, como atualmente.
Vicente
organizou na sua grande casa de São Lázaro, retiros de 15 dias, a fim de
preparar os jovens que haviam estudado Teologia na Sorbonne, para receberem a
ordenação. Esses retiros tinham lugar 5 vezes por ano. Bem cedo isto seria
feito em todas as Dioceses da França; o costume passou desse país ao
estrangeiro, e mesmo a Roma.
Quinze dias
era muito pouco tempo para preparar à ordenação sacerdotal, que faz de um homem
um padre para toda a eternidade.
Logo os
padres da Missão fundaram a pedido dos Bispos, grandes Seminários, onde os
futuros padres ficassem vários anos para se formar.
No fim do
século XVII não havia uma só Diocese na França que não possuísse o seu
seminário.
Para ser um
bom padre, entretanto, não é suficiente ter recebido com piedade a ordenação
sacerdotal.
É
necessário fazer progressos sem parar. Parar ajudar os padres a se tornarem
mais fervorosos, Vicente organizava todas a terças-feiras, em “Saint-Lazare”,
uma jornada de oração, de estudo e de congraçamento. Nestas reuniões se
encontravam homens que mais tarde seriam célebres: Olier, fundador da Companhia
de São Sulpício; Bossuet, futuro Bispo de Meaux; Pallu, fundador das Missões
Estrangeiras.
Influência
de Vicente sobre o Rei Luiz XIII
O Rei Luiz
XIII, que havia se encontrado muitas vezes com Vicente, interessou-se por suas
obras.
Convocou
Filhas da Caridade como enfermeiras do Exército e padres da Missão para
Capelães Militares.
Ele próprio
o consultava sobre graves problemas e foi sob a influência que se reconciliou
com a rainha Ana d’Áustria.
A 11 de
fevereiro de 1638 o Rei consagrou a França à Virgem determinando que em
lembrança desta consagração houvesse, anualmente, em todo o país, a 15 de
agosto, uma procissão em sua honra.
A Virgem
protege os que nela confiam.
Algumas
semanas depois da consagração do reino à Nossa Senhora, os exércitos inimigos
que haviam invadido a França, foram detidos nas frentes de batalha. Além disso,
o Rei, que não tinha filhos, e, portanto, não tinha herdeiro, viu nascer-lhe um
menino: o futuro Luiz XIV.
Em 1643,
sentindo-se doente, Luiz XIII chamou o Pe. Vicente para junto de si e sob sua
direção preparou-se para a morte. É cantando o Te Deum que ele entrega sua alma
a Deus.
Influência
sobre a Rainha Ana d’Áustria
Após a
morte do Rei, a rainha Ana d’Áustria tornou-se regente. Luiz XIV contava apenas
5 anos. Ela escolheu o Pe. Vicente para seu Diretor Espiritual.
Era um
encargo delicado. Vicente o aceitou por dever. Sob sua influência, a Rainha,
até então muito frívola, se interessou pelas necessidades do país e, em muitas
circunstâncias dramáticas, chegou mesmo a doar suas jóias para ajudar os
pobres.
Ela o
nomeou também secretário do Conselho de Consciência, isto é, do grande Conselho
que tratava de tudo que dizia respeito a assuntos religiosos.
Mazarino
era presidente do Conselho, que tinha por sede o castelo de
“Saint-Germain-en-Laye”, para onde Vicente viajava a cavalo.
Como era um
dos homens que melhor conhecia o clero da França, fez nomear excelentes Bispos
para as dioceses, o que muito contribuiu para o reerguimento moral e religioso
do país.
Desgraçadamente,
o Cardeal Mazarino, então Primeiro Ministro, encheu-se de ciúmes pela
influência do Pe. Vicente.
Sempre que
podia zombava dele, e diante dos cortesãos chamava a atenção para a pobreza de
sua batina. Porém, Pe. Vicente respondia altivo: “Eu sou pobre, isto é verdade,
pois tudo que possuo vai para as mãos dos necessitados, mas sou limpo, e minha
batina não tem buraco nem nódoa…”.
Muitas
vezes Mazarino tentou afastar Pe. Vicente da Corte, e teve a audácia de
solicitar à rainha que não mais o recebesse.
Esta ficou
muito embaraçada porque, de um lado, tinha dado sua confiança ao hábil ministro
que era Mazarino, mas, por outro lado, olhava Vicente como um santo e grande
benfeitor do país. Apesar de todas as intrigas ela jamais consentiu em
separar-se dele.
Fundação da
obra das “Crianças enjeitadas”
Nenhuma
forma de miséria deixava indiferente o coração do grande apóstolo da caridade.
Entre as
obras mais célebres por ele fundadas na época, pode-se citar a das “Crianças
Enjeitadas”.
Em
consequencia da miséria, muitas mulheres abandonavam seus bebês nas portas das
igrejas ou nas esquinas das ruas.
Cada ano,
em Paris, eram encontrados de quatrocentos a quinhentos deles.
Alguns eram
vendidos por um preço vil, a mendigos que os mutilavam para melhor excitar a
piedade dos transeuntes, ou a miseráveis que pretendiam servir-se deles mais
tarde como escravos.
O Pe.
Vicente resolveu organizar o recolhimento desses meninos e solicitou às nobres
Damas de Caridade que se ocupassem deste encargo. No início elas hesitaram, mas
o Padre Vicente soube tocar-lhes os corações, e os meninos foram salvos e
recolhidos.
Quando
cresciam, aprendiam a ler e a escrever. Mais tarde aprendiam um ofício e eram
orientados na vida.
Mas, tudo
isso custava caro.
Em 1647, a
maior parte das damas ricas estava arruinada pelas guerras que haviam devastado
suas terras, a ponto de abandonarem a obra iniciada. O Pe. Vicente convocou uma
assembléia geral das Damas da Caridade.
“As vidas
destes meninos estão em vossas mãos – disse-lhes. Vós fostes suas mães,
salvando-os; ides agora ser seus juízes condenando-os à morte?”.
As damas,
emocionadas até às lágrimas, porém não tendo mais dinheiro, venderam suas jóias
e seus ricos vestidos. A rainha doou o castelo de Bicêtre.
A obra das
“Crianças Enjeitadas”, estava solidamente fundada.
Fundação de
um asilo para os velhos
A grande
chaga daquele tempo era os mendigos. Aos milhares invadiam as portas das
igrejas e as praças das cidades para esmolar. Muitos deles se transformavam em
bandidos e assaltavam de noite os transeuntes. Assim, constituíam-se um perigo
para o público, e as autoridades não sabiam como pôr termo a esta situação.
O Pe.
Vicente tinha feito alguns anos antes uma experiência bem sucedida na cidade de
Mâcon, onde a mendicância havia se tornado um verdadeiro flagelo.
Ali, ele
havia conseguido montar um esquema que socorria os verdadeiros pobres depois de
uma investigação, e sobretudo, procurava trabalho para os desocupados.
Em Paris,
onde havia 40.000 mendicantes, a situação era muito complicada.
Vicente
começou por fundar um asilo para os velhos.
A rainha
colocou à disposição da obra projetada o hospital da Salpêtrière.
Este imenso
edifício existe ainda hoje. Encontra-se junto à estação da Austerlitz. As
Senhoras da Caridade organizaram nele uma casa de trabalho.
Vicente
desejava que os mendigos fossem levados para lá através de persuasão e não por
constrangimento; mas as autoridades, assustadas pelo número dos que vagavam,
ordenaram seu internamento em massa.
Vicente não
aprovava essa medida violenta, mas teve que inclinar-se ante a vontade dos
políticos e das autoridades.
Fez o que
pôde para abrandar a pena desses desgraçados, determinando visitas e cuidados
através das Senhoras e das Filhas da Caridade.
Além disso,
os verdadeiros pobres que se acanhavam de mendigar, estavam seguros de
encontrar diretamente, nas casas fundadas pelo Pe. Vicente, a acolhida
reconfortante de que precisavam.
Obras
caritativas diversas
Outros
aspectos de miséria vinham ainda solicitar a dedicação do Pe. Vicente e dos
padres da Missão.
Durante
trinta anos, guerras contínuas devastaram as mais belas províncias da França.
Franceses ou estrangeiros, os soldados viviam no país sem receber soldo.
Nenhuma disciplina podia impedi-los de pilhar para comer.
Quando os
civis resistiam, eles espancavam homens, mulheres e crianças, e tocavam fogo
nas casas.
Os
sobreviventes eram vítimas da fome, pois as colheitas eram destruídas. Com que
fazer o pão?
Então
comiam-se ervas e cascas de árvores. Conta-se mesmo que alguns chegaram a comer
crianças. A Lorena em particular, sofreu muito.
O Pe.
Vicente reuniu às pressas viveres e roupas. Fazia organizar o mais rapidamente
possível, sopas populares, dando detalhadamente as receitas mais nutritivas.
Como o
tecido faltava, utilizaram os panos suntuosos que haviam servido para os
funerais de Richelieu e de Luiz XIII.
Lazaristas,
médicos e cirurgiões, foram enviados com remédios para os doentes, pois as
epidemias grassavam com fúria.
Livraram-se
os campos dos cadáveres que envenenavam o ar e a água. Foram distribuídas
sementes, tendo em vista a possibilidade de uma próxima colheita.
Os socorros
deviam ser transportados através das linhas inimigas. A coragem dos padres da
Missão estava, porém, acima de todas as dificuldades. Toda a população
reconfortada escreveu manifestando ao Pe. Vicente o seu reconhecimento. Os
magistrados chamaram-no de “Pai da Pátria”.
Era um
“Socorro Nacional” o que Vicente tinha fundado. Assim, ele tanto salvou da
morte como do desespero centenas de milhares de pobres flagelados.
A Fronda
A maior
parte das províncias do Norte e do Este da França foi beneficiada pelo gênio
caritativo de Vicente.
Porém, a
partir de 1648, foi sobretudo a região parasiense, que, sofrendo as
conseqüências da guerra civil, apelou para ele.
Chamou-se a
essa guerra civil: a Fronda.
Era
dirigida sobretudo pelos Príncipes e pelo Parlamento, descontentes com
Mazarino. Mas era sempre o povo a primeira vítima das disputas entre os
grandes.
Como
Mazarino, em “Saint-Germain-en-Laye”, pretendia render Paris pela fome, o Pe.
Vicente não hesitou em viajar para a Corte, mesmo sabendo do perigo de ser
preso no caminho. Pôde atravessar as linhas em Clichy, graças a seus antigos
paroquianos que o reconheceram e lhe vieram em ajuda.
Chegando
junto à Rainha ele obteve dela que o pão pudesse chegar à capital e, pouco
depois, graças em parte a sua intervenção, uma paz foi assinada em Rueil.
Mas esta
paz foi provisória, pois Mazarino, tendo convencido a Rainha de que Condé
conspirava para destronar o jovem Rei e tomar o poder em seu lugar, obteve
permissão para prender o Príncipe e seus amigos.
A guerra
civil recomeçou. Tomado de pavor Mazarino escondeu-se.
Condé
voltou a Paris. A Grande Dama (A duquesa de Montpensier, filha de Gastão de
Orleans, irmão de Luiz XIII) manda atirar com o canhão da Bastilha sobre as
tropas de Turenne, e abre as portas de Paris a Condé.
A multidão
enlouquecida incendia o Hôtel de Ville e massacra impiedosamente. É novamente a
desordem e a fome. Vicente transforma “Saint-Lazaire” em asilo para os
refugiados dos subúrbios, e em armazém de víveres para os famintos da capital.
Porém, muito cedo os víveres vão faltar, e esta será a catástrofe definitiva se
a guerra civil não parar.
Somente o
jovem Rei, cuja maioridade vinha de ser declarada, podia restaurar a paz: Era
preciso destituir Mazarino.
Com sua
coragem e sua fé, mas sobretudo com seu imenso amor pelos pobres, vítimas das
disputas dos poderosos, Vicente não hesita em escrever a Mazarino e à Rainha,
externando com firmeza seu pensamento. A Rainha compreende os interesses do
reino. Mazarino encolerizado cede e deixa o Rei entrar sozinho em Paris, onde é
aclamado com entusiasmo pelos parisienses. Voltara a paz: Paris estava salva.
Os
Lazaristas se instalam em Roma
Vicente,
apesar de amar profundamente a França, não limitava unicamente a seu país suas
preocupações. Verdadeiro filho da Igreja, ele fez estabelecer em Roma, no
centro da Cristandade, uma casa dos Padres da Missão. O papa encorajou os
missionários franceses a pregar como em Paris nos retiros preparatórios para as
ordenações. Os Bispos italianos pediram também aos Lazaristas, que dessem pelos
campos missões daquela mesma maneira.
Eles
“missionam” na Itália
Naquele
tempo na Itália como na Córsega, muitas famílias rivais estavam dominados pelo
espírito da vingança: Cada um portava consigo armas mesmo para ir à igreja, e
não hesitava em servir-se delas a qualquer momento.
Os
missionários franceses se dedicaram a fazer cessar este hábito.
Nada era
mais emocionante do que ver todos os habitantes de uma cidade abandonarem suas
armas sobre a cadeira do pregador e renunciarem a suas vinganças.
Os
Lazaristas haviam começado a missão na cidade de Gênes, quando se declarou uma
epidemia: Era a peste, doença tanto mais contagiosa quanto a higiene, a essa
época, era bastante rudimentar.
Os
pregadores suspenderam os sermões. Lançaram-se a cuidar dos doentes e a
sepultar os mortos.
Muitos
deles morreram vítimas de sua coragem heróica.
Seu exemplo
fez mais do que muitos discursos e vitórias militares, para fazer amar a
França.
Na Polônia
Uma das
primeiras Senhoras da Caridade tinha se casado em 1645 com o Rei da Polônia.
Chamava-se Maria de Gonzaga.
Logo que
chegou a Varsóvia, ela pediu a Vicente que lhe enviasse Lazaristas e Filhas da
Caridade.
O Pe.
Vicente lhe enviou aquele a quem chamava de seu braço direito: O Padre Lambert.
Durante um ano este organizou, como o Pe. Vicente havia feito na França, muitas
Missões e Confrarias de Caridade.
Mas eis que
a peste se abate também sobre a Polônia. Os doentes ficavam abandonados nas
próprias casas e ninguém se arriscava a cuidar deles. Os cadáveres permaneciam
insepultos, e eram devorados por cães e lobos. Os que sobreviviam à peste
morriam de fome.
O Pe.
Lambert, em alguns dias, organizou a vida da cidade. Os mortos tiveram
sepultura, os enfermos receberam tratamento, víveres foram distribuídos com
regularidade, mas a tarefa era excessiva. O Padre Lambert morreu de esgotamento
assim como 19 Filhas da Caridade, das 20 que tinham vindo da França.
A uma
súplica da Rainha, Vicente enviou outros padres da Missão, desta vez
acompanhados de visitadoras. Os viajantes embarcaram em Dieppe, mas, apenas
haviam deixado o porto, foram aprisionados por piratas ingleses e levados para
Douvres. Conseguiu-se libertá-los e, por terra, chegaram a Polônia.
Novas
Filhas da Caridade vieram logo juntar-se a este grupo.
Desgraçadamente
a guerra veio ensangüentar esse pobre país mártir. Os suecos, e depois os
moscovitas, devastaram cidades e campos.
Todas as
casas das Filhas da Caridade foram destruídas.
Mas o heroísmo
delas deixou tão forte recordação, que apesar das divergências, a França e a
Polônia tornaram-se para sempre nações inimigas.
Em
Madagascar
Certo dia,
a Campanha das Índias, que gozava do monopólio do comércio com Madagascar,
solicitou missionários ao Pe. Vicente.
As viagens
eram naquela época muito mais perigosas do que atualmente.
“Mas, dizia
Pe. Vicente aceitando o pedido, o que os comerciantes não hesitam em fazer para
ganhar dinheiro, os missionários devem fazer para ganhar almas”.
Madagascar,
que naquela época se chamava “Saint-Lourent”, era ainda muito pouco conhecida.
Os jesuítas
portugueses haviam tentando evangelizá-las. Mas infelizmente eram acompanhados
de soldados e comerciantes que tratavam os indígenas como escravos.
Os jesuítas
não obtiveram resultado; desencorajados, voltaram para Portugal.
Vicente
enviou dois Lazaristas, Gondrée e Nacquart, recomendando-lhes agir antes de
tudo com bondade.
Depois de
algumas semanas, o Pe. Gondrée foi atingido pela febre e morreu.
O padre
Nacquart ficou só. Longe de perder a coragem ele aprendeu muito rapidamente a
língua malgaxe, e tão bem que ao fim de um ano, pode redigir um catecismo no
idioma nativo.
Ele sou
acima de tudo atrair os corações pela sua palavra ardente que todos
compreendiam.
Os Malgaxes
eram dóceis e inteligentes. Sentiam-se amados e espontaneamente passaram a
confiar no missionário francês.
O Rei
Ramaca, o recebeu pessoalmente na sua capital de palhoças, a algumas léguas de
Fort-Dauphin.
Muitos
indígenas pediram o batismo. O padre Nacquart solicitou do Pe. Vicente que lhe
mandasse ajuda.
Ele pedia
irmãos arquitetos, médicos, alfaiates, mestreescolas e sobretudo Filhas da
Caridade para cuidarem dos doentes, das mulheres e das crianças.
Em 1654
chegaram o padre Bourdaise e mais dois irmãos da Missão, para o ajudar. Pena é
que muitos anos haviam transcorrido; o padre Nacquart estava morto, e os novos
cristãos, muito cedo abandonados, não tinham perseverado.
Bourdaise
se lançou ao trabalho se perda de tempo.
Como ele
era também um bom médico e mesmo cirurgião, muitos doentes vinham procurá-lo.
Os
missionários andavam de povoação em povoação, mas desta vez não davam o batismo
sem que antes houvesse um longo preíodo de catecismo.
As
provações se abateram novamente sobre a missão. O Bom Deus deseja que o bem se
faça com sacrifícios. É pelo sacrifício que se tempera uma alma cristã.
Os
companheiros do Pe. Bourdaise morreram, um após outro, vítimas das febres.
A capela
que haviam construído desapareceu num incêndio.
Bourdaise
em vez de se desencorajar teve uma idéia maravilhosa: Enviou ao Pe. Vicente
pelo primeiro navio, 4 pequenos malgaxes que deveriam estudar em Saint-Lazare
para virem a ser mais tarde os padres de sua ilha. O Padre Vicente os recebeu
com grande alegria e os preparou ele mesmo para o sacerdócio.
O Pe.
Bourdaise morreu logo depois, mas a obra começada não devia mais ser
abandonada.
Apesar das
doenças e das perseguições, os missionários se espalharam por toda ilha. As
conversões se multiplicaram.
Uma nova
terra era conquistada para Cristo. Hoje em dia é uma das comunidades cristãs
mais florescentes. Conta 15 dioceses.
O Arcebispo
de Tananarive e muitos Bispos são malgaxes.
Na África
do Norte
Havia uma
região da África, em que pensava muitas vezes o Padre Vicente. Era aquela onde
ele tanto sofrera quando, em sua juventude, havia sido capturado pelos
corsários.
Mas, ali,
não era nada fácil penetrar.
Toda África
do Norte pertencia ao Sultão de Constantinopla.
Somente os
diplomatas franceses, residentes em Tunis e Argel representavam aí os
interesses dos estados cristãos.
Os Beis de
Argel e de Tunis faziam ali o que lhes dava na cabeça. Os navios singravam o
Mediterrâneo dando caça aos barcos mercantes.
Os cativos
eram vendidos em praça pública como escravos. Vicente havia passado por essa
experiência. Eles eram comprados como gado nos mercados, e os compradores,
depois de ter pago, podiam fazer deles o que quisessem.
O único
meio de escapar à escravidão era fazer-se muçulmano.
De tempos
em tempos, o Rei da França protestava contra essas violências que feriam os
tratados. Simulava-se uma satisfação, acolhiam-se com respeito os enviados
extraordinários encarregados de libertar os cativos, mas dava-se um jeito de
escondê-los, e tudo recomeçava como antes.
Luiz XIII
falando um dia com Vicente perguntou-lhe se não seria possível enviar
missionários aos cativos da Barbária.
Calculava-se
que eram mais de 30.000.
Era
necessário antes a aprovação dos Beis, embora os tratados assegurassem aos
diplomatas o direitos de terem padres para a assistência religiosa de suas
famílias.
E foi sob
esse título de capelães de consulados que os padres Guérin e J. Le Vacher foram
enviados a Tunis por São Vicente.
Usando de
muita diplomacia eles conseguiram visitar os cativos nas prisões, e até
organizar capelas de presídios.
Em 1647
Tunis foi assolada pela peste. Os dois Lazaristas, heróicos na sua dedicação,
impuseram-se à admiração dos turcos.
O Padre
Guérin e o Cônsul morreram. Jean Le Vacher assumiu sozinho o consulado; mas
passado o perigo, o Bei de Tunis, usando um pretexto qualquer, obrigou-o a
deixar o país.
Tudo estava
para recomeçar.
Resgate dos
Escravos
O Pe.
Vicente teve a idéia de resgatar os cativos a peso de ouro. A salvação de uma
alma vale mais que todo o ouro do mundo.
Pedidos
foram feitos nas igrejas da França. As Senhoras da Caridade fizeram ofertas
excepcionais. As somas arrecadadas foram enviadas a MArselha e os missionários,
sob direção do Pe. Le Vacher, resgataram cativos pela soma de um milhão e meio
de escudos,o que representava importância considerável para a época.
Porém, não
foi possível continuar por muito tempo: Os turcos aumentaram exageradamente o
preço dos resgates. Diante de tanta ganância, Vicente, que era todo bondade,
acabou por compreender que o único meio de fazê-los chegar à razão era a força.
Ele preparou, com ajuda da Duqueza d’Aguillon uma expedição militar a Argel,
mas morreu antes de ver o resultado.
Em 1683,
Duquesne, comandante da esquadra francesa, fundeou diante de Argel, e
bombardeou a cidade.
Os turcos
para se vingar se apoderaram de Jean Le Vacher, o amarraram à boca de um canhão
e dispararam, projetando-o no mar.
Durante os
séculos seguintes continuaram sua pirataria no Mediterrâneo.
Somente em
1830, a França realizou o sonho de São Vicente de Paulo, e pôs fim à
escravidão, ocupando a Argélia.
A velhice
do Padre Vicente
Mas,
voltemos a 1660. O Pe. Vicente começa a envelhecer: Ele está perto dos 80 anos.
Seu rosto está enrugado, suas costas encurvadas. Seus olhos conservam todavia
sua luminosidade e sua juventude.
Todos os
que se aproximam têm a impressão de que seu olhar penetra as consciências e vai
ao fundo da alma; que a sua palavra toca, motiva, encoraja a amar melhor.
Suas
pernas, que desde os tempos em que estivera acorrentado lhe haviam sempre
causando incômodo, dificilmente o carregam. Também fazia muitos meses que não
montava a cavalo.
Para fazer
suas viagens pelos campos aceitou carruagem que Madame d’Aquillon lhe mandava
fazer. Mas, cada vez que encontrava um pobre enfermo na estrada o conduzia a
seu lado.
Cartas lhe
chegam de todos os países do mundo. Ele passa várias horas do dia a redigir
respostas sempre cheias de bom senso.
Até o fim
ele é fiel em fazer conferências para os padres e as religiosas.
Insistia
antes de tudo sobre a confiança em Deus, o abandono às mãos da Providência, a
necessidade da humildade, e sobretudo a importância de uma caridade leal e
inteligente para com o próximo.
Apesar da
avançada idade continua a levantar-se às 4 horas da manhã. Ele se contenta com
5 horas de sono. Cada dia ele consagra 4 horas à oração. Ele sente melhor do
que ninguém o quanto as organizações tão belas e tão numerosas que havia
fundado têm, antes de tudo, necessidade do apoio de Deus, o Mestre das almas.
Agir,
trabalhar, escrever e pregar fazem o bem, mas é somente a graça obtida através
da oração e do sacrifício que converte os corações.
A 15 de
março de 1660, depois de uma curta enfermidade morreu Luiza de Marillac.
Vicente, retido em sua cela, não pôde assisti-la como desejava. Enviou-lhe um
religioso encarregado de lhe dizer: “Você vai primeiro, eu logo me juntarei a
você”.
Quase no
mesmo momento morria também seu primeiro companheiro, o padre Portail, com quem
havia fundado 35 anos antes, a Congregação da Missão. Esta contava então mais
de 450 membros.
Durante
esses 35 anos, que trabalhos realizados! As Filhas da Caridade eram 600. Nos
campos e nas cidades a ignorância e a miséria haviam recuado; os órfãos
encontraram mães; os galés conheceram um abrandamento de sua sorte; o clero da
França estava penetrado das máximas do fundador das conferências das
terças-feiras; a paz tinha voltado e a imagem da França estava mudada.
Morte
No dia 26
de setembro, Vicente não podendo rezar a Santa Missa, fez-se carregar até a
capela para assistí-la e retornando ao seu quarto pediu que lhe dessem a
extrema-unção.
Passou todo
o dia e a noite sentado em uma poltrona, unindo-se às preces dos que o
rodeavam.
Às 5 horas
da manhã de 27 de setembro, ele expirou beijando o crucifixo e pronunciando
distintamente estas palavras: “Confido” – Eu tenho confiança.
A Rainha
Ana d’Áustria, ao tomar conhecimento de sua morte, exclamou: “A Igraja e os
pobres sofrem uma grande perda…”
Uma imensa
multidão assistiu às exéquias; todos diziam: “Nós perdemos um pai”.
Desde então
já era considerado um santo. Em 1724, o Papa Bento XIII o beatificou, e em 1737
ele foi canonizado. Seu corpo repousa, atualmente, em Paris, na capela dos
Lazaristas, rua de Sèvres 95, aonde acorrem peregrinos de todo o mundo para
venerá-lo.
A
irradiação de uma bela vida
Mas sua
grande alma permanecerá sempre viva. Ele continua a inspirar, no mundo todo, as
iniciativas caridosas para atender às aflições humanas.
Em 1833, um
grande cristão e grande francês, Antônio Frederico Ozanam, colocou sob a
proteção de São Vicente a organização que havia fundado, sob nome de
Conferências de São Vicente de Paulo, com o objetivo de mitigar “as misérias
espirituais e corporais dos indigentes”.
Em 1855, o
Papa declarou São Vicente patrono de todas as obras de caridade.
Hoje
dezenas de milhares de Irmãs e de Religiosos continuam em todos os pontos do
globo a missão do grande Apóstolo da Caridade. Podem-se contar centenas que no
curso de epidemias ou sob os bombardeios tombam vítimas de sua dedicação.
Muitas
Filhas da Caridade, muitos Lazaristas, quer durante a Revolução Francesa, quer
nos países de missão, morreram mártires pela fé. Um dos mais célebres é o padre
Jean-Gabriel Perboyre.
Em 1830, é
na capela das Filhas da Caridade, na rua du Bac, em Paris, que a Virgem Maria
aparece à irmã Catarina Labouré, para lhe pedir que faça gravar uma medalha
sobrea qual seria inscrita a linda prece: “Oh! Maria, concebida sem pecado,
rogai por nós que recorremos a vós”.
A humilde
Filha de São Vicente, Irmã Catarina Labouré, viveu obscura e desconhecida na
Casa das Irmãs da rua de Reuilly.
Morreu em
1876 e foi declarada Santa pelo Papa Pio XII, em 1947.
Depois da
guerra de 1939-1945, um filme intitulado “Monsieur Vicent” foi um dos maiores
sucessos cinematográficos da época contemporânea.
Traduzida
em todas as línguas, mesmo em japonês, esta película mostrou ao mundo inteiro
uma das figuras fascinantes da Histórico.
Leitor
amigo que acabas de ler a bela vida de um Santo que honrou a França e a
Humanidade, roga-lhe que te ensine a amar como ele os pobres, e a te dedicares
generosamente ao serviço de teus irmãos sofredores.
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