Fala preparada para o 2° Acampamento: Ligados em Cristo, da Obra
Aliança com Maria de Bela Cruz – Ce, acontecido em Preá, Cruz - Ce
I. APRESENTAÇÃO: Pessoal e, se viável, dos acampantes
Música para introdução/reflexão:
1. “Olha quem te olha” – Com. Rainha da Paz ou
2. “O amado” – Walmir Alencar
II. CHUVA DE IDEAIS EM TORNO DA TEMÁTICA: Olhar
Perguntar a assembleia o quem vem na sua mente quando se escuta
palavras como: ver, olhar, olha, etc. O que o mundo, as mídias, o nosso
imaginário mostram sobre isso. Eis algumas possíveis respostas:
1. Músicas
·
“Olhar 43” – RPM
·
Num golpe de olhar... “Renata” – Latino
·
Olha bem no fundo dos meus olhos... “De janeiro
a janeiro” – Nando Reis
·
Olha pro céu meu amor... “Olha pro Céu” –
Mastruz com Leite
·
Veja só você, depois de me perder... “Tarde
demais” – Raça Negra
·
Ver teus olhos no espelho... “Olhos no Espelho”
– Adriana Arydes
2. Diversos
·
Deus é o olho que tudo ver – Frase/adágio
popular
·
Ficarei olhando até que você me entenda –
Frase/adágio popular
·
Olha elaaaaa! – Ana Pula Ex-BBB
·
Os olhos são espelhos da alma – Frase/adágio
popular
·
Pare, olhe e siga – Sinalização de trânsito.
·
Na bíblia a palavra “Olha” parece 53 vezes e o
verbo “Olhar” 61 vezes – Bíblia Pastoral da Paulus.
Música para exercitar o olhar: Pedir
que os participantes fiquem em duplas de frente um para o outro e cante,
gesticule e/ou medite uma das musicas a seguir:
a) “Te ofereço paz” – Grupo
arte nascente
b) “De janeiro a Janeiro” –
Roberta Campos com participação de Nando Reis
III. DESENVOLVIMENTO DO TEMA: “Olha quem te olha”
1. Na história sempre se ouve,
especialmente nossos pais dizendo frases como:
·
“Cuidado,
porque Deus está vendo!”
·
“Deus vê e
castiga”
·
“Esse é
olho que tudo vê (mostrando a pirâmide com olho no centro), etc.
Porém estudando a Palavra
descobrimos que o olhar de Deus para nós não é de um Deus castigador, mas um
olhar de pai/mãe, amor, cuidado, carinho, misericórdia, ternura, etc.
2.Deus nos olhou primeiro, nos
conheceu primeiro e nos amou primeiro, também nós somos convidados a fazer o
mesmo: olhar, conhecer e amar a Deus.
3. Em Gn 1, 1s, vemos que Deus
criou o firmamento, a terra, o céu, as águas, os peixes, os animais, as
plantas, o universo... Ele criou, olhou para a sua criação e viu que tudo era
bom.
Deus criou o homem (homem e
mulher - Gn 1,27) a sua imagem e semelhança... Ele olhou para a sua obra prima
e viu que era boa.
4. Podemos concluir assim que
Deus os vê com bondade, como pessoas boas. E nós, como olhamos? Como vemos
Deus?! Deus nos fez bons, porém eu tenho me preservado nessa bondade?
a) Como me
apresento para Deus?
b) Que vida
eu levo hoje?
c) Como as
pessoas me veem?
d) Sou uma
pessoa transparente ou vivo de máscaras?
e) Deus me
vê com amor e misericórdia, o outo me vê com as minhas máscaras, porém eu, como
eu me vejo?
5. Não importa como o mundo
nos vê. Deus o faz com misericórdia. Abramos a nossa bíblia e vejamos algumas
passagens onde Jesus volta para nós o seu olhar amoroso. O olhar de Cristo é:
a) Olhar misericordioso
– Vocação de Mateus (Mt 9, 9):
Jesus viu Mateus e o chamou, ele
deixou tudo e seguiu o Mestre. Mateus, por ser cobrador de imposto, era visto,
pelo povo da época, como pecador, pessoa ruim, de má fama. Jesus, porém não viu
a aparência, mas a essência, Jesus viu o coração (I Sm 16, 7). Mateus viu
misericórdia no olhar de Jesus e já não quis tira os seu olhar do Messias.
(Esse é o lema episcopal do Papa Francisco: “miserando atque elegendo” escolhido pela misericórdia de Deus).
b) Olhar
diferenciado – Visita a Zaqueu (Lc 19, 1s)
c) Olhar inclusivo
– Mulher adúltera (Jo 8, 1s)
d) Olhar
relacional – Jantar na casa de pecadores (Mc 2, 15s)
e) Olhar de
perdão - Pai misericordioso (Lc 15, 11s)
6. Jovem, “Olha quem te olha!”
Não olha para o pecado, mas sim, olha para Deus!
Cantar o refrão:
“Olha Quem te olha
É Jesus que quer te conhecer, abre teu coração!
Olha Quem te olha e não permita que mais nada
Te faça sair dessa visão”
7. Deus está olhando para mim,
para nós, mas, infelizmente, nós desviamos nosso olhar do sagrado. Para onde
estamos olhando!? Para onde olha o jovem hoje?!
a) Escolhas
egoístas, individualismo.
b)
Emancipação desordenada – cada um que ser senhor de si, quando somos chamados a
deixar Deus ser o Senhor de nossa vida.
c)
Consumismo desembreado – colaborando ainda mais a destruição do planeta. Eis a
preocupação do Papa Francisco escrevendo a Laudato
Si
d) Contra
valores – Valorizando o mundano em detrimento do sagrado
e) Longe,
as ilusões do mundo – esquecendo quem olha por nós, a nossa família, a nossa
mãe. Voltemos um olhar para ele e estejamos com eles – os nossos
familiares.
f)
Hedonismo – o prazer como estilo de vida
g) Pecados
virtuais – games e pornografia
h) Apologia
a desgraça dos outros – envio de vídeos que denigrem a dignidade das pessoas
via watts app
i) Comunicação
do isolamento das redes sociais – o mundo virtual se sobrepondo ao mundo real,
as comunidades online sendo mais valorizadas que a comunidade paroquial,
comunidade de vida.
j) Queima
de etapas – criança quer ser jovem, jovem adulto, adulto criança.
l) Para o
próprio umbigo – narcisismo
m) “Do
contra” – gerando desintegração social e cultural
n)
Competição – quando somos chamados à cooperação e a solidariedade
o) Afetividade
autônoma, prazer pessoal
p)
Indiferença religiosa
r)
Informação, contrário de formação
s) Material
(ter e poder), esquecendo-se do espiritual (ser)
t) Drogas
u) Ídolos e
famosos – quando os verdadeiros modelos são Jesus, Maria e os Santos
v) Livros e
textos de ficção, bruxaria e magias negras – quando devemos conhecer mais sobre
a Palavra, textos edificantes e que trazem luz, harmonia e paz para o mundo
x) Vida
alheia (Dizia um professor meu que a vida dos outros é sempre mais
interessante) – quando olhamos demais para a vida alheia esquecemos de cuidar a
nossa. Tiremos a trave de nosso olho! (Mt 7, 5)
z) Critico
destrutivo - quando deveria ser construtivo e motivador, uma vez que o mundo já
tem críticos demais devemos ser um motivador de pessoas.
Música de meditação: "Jovem te olho" – Adriana Arydes
8. A saída para tudo isso é um
encontro pessoal com Jesus Cristo. Olhemos para Cristo presente no sacrário,
olhemos para Cristo que está presente no irmão.
a) Esqueçamos
de todos os “ISMOS”: egoísmo, pessimismo, individualismo, e potencializemos o
“DADE”: comunidade, fraternidade, igualdade, etc.
b) Olhemos
para Cristo como ele nos olha. Esse olhar nos traz a verdadeira felicidade. O
próprio Jesus Cristo disse que são feliz os que trazem esse olhar, os que
praticam a misericórdia, porque alcançarão ainda mais misericórdia para esse
mundo.
Ainda sobre
a felicidade, a Palavra coloca, em Lc 11, 27s, que certo dia quando Jesus
estava ensinando, uma mulher da multidão
exclamou: “Bem-aventurada àquela que te deu à luz, e os seios que te
amamentaram!” Ele, porém, afirmou: “Antes disso, mais felizes são todos aqueles
que ouvem a Palavra de Deus e lhe obedecem”. Eis ai o segredo de uma vida
feliz. Ser como Jesus não só no olhar, mas nas palavras e especialmente, nas
obras, nas ações.
9. O homem se faz por modelos,
já que desde criança, agimos por imitação. O primeiro exemplo é Cristo, como
temos visto desde o inicio dessa fala. Agora porém apresentaremos três outros modelos
que souberam olhar como Ele nos olha.
a) Maria – via do testemunho. Maria soube olhar para Deus e colocar em prática
seu projeto. Seu silêncio é um silencio que fala, porque ela fala por suas
obras, por suas ações, por seus gestos. Assim como para o seu filho Jesus, hoje
também ela olha por nós, pois Jesus nos a deu como mãe (Jo 19, 26-27). Peçamos
esse olhar de Maria cantando:
Mae,
olha por mim.
Acontece, às
vezes nos sentimos sós,
E pensamos
que ninguém olha por nos
E que somos
como criança perdida
Mas esse,
coração criança
Mesmo
perdido
Busca
força,
E com um
grito
Chama por
alguém
Que nunca
vai deixa-lo assim
Chama mãe,
vem olhar por mim.
É minha mãe,
Que consola meu coração
Que me guia pela mão
Que me ensina a caminhar
É minha mãe
Que faz o sol estremecer
Me dá Jesus me faz viver
Me faz ter fé
Me faz amar
Ensina-me a
dizer sim
A dar tudo
de mim
Molda-me a
teu jeito
Me põe
junto a teu peito
E me leva
ao Salvador.
b) Santa Tereza D’Ávila – via da oração mental.
Santa Teresa
de Jesus (*1515 +1582). Virgem e Doutora da Igreja. Natural de Espanha, foi uma
freira carmelita, mística e santa católica do século XVI, importante por suas
obras sobre a vida contemplativa através da oração mental e por sua atuação
durante a Contra Reforma e sua colaboração para a Ordem Carmelita. Canonizada
em 1622, pelo Papa Gregório XV. Sugere-nos olhar Aquele que nos olha por meio
de exercícios espirituais: (Aplicar os exercícios
a seguir com musicas instrumentais ao fundo)
i) Gn 1, 31 – Deus viu tudo o que tinha
feito e era muito bom. Ao concluir sua obra Deus fez um passeio pelo
jardim... Saiamos nós também a contemplar a criação, as coisas e as pessoas ao
nosso redor, e a perceber a bondade em cada ser.
ii) Mc 10, 46-52 – A cura do cego Bartimeu.
Como Bartimeu, clamemos a Jesus: “Cristo, tem de piedade de mim”, “Senhor,
que eu veja!” Sinta Jesus se aproximando de você, sinta as mãos de Jesus sobre
seus olhos, curando-os, tirando as traves para ver o mundo, o outro, a sua própria
vida com um novo olhar.
iii) Mc 6, 34s – Jesus e a multidão.
Jesus desceu da barca, viu a multidão e teve compaixão daquele povo, porque
parecia como ovelha sem pastor. Imaginemo-nos
como integrantes daquela multidão, para onde Jesus dirige seu olhar, deixe-se contemplar
por Jesus, sinta-se uma daquelas ovelhas e aprenda com aquele olhar.
c) São Vicente de Paulo – Via da contemplação,
pois Vicente era contemplativo na ação.
Vicente de
Paulo (*1581 + 1660) Padroeiro das Obras de Caridade. Natural da França. Foi um
sacerdote católico francês, fundador da Congregação da Missão, Filhas da
Caridade e Damas da Caridade. Um dos grandes protagonistas da Reforma Católica
na França do século XVII. Canonizado em 1737, pelo Papa Clemente XII. São Vicente
nos sugere um olhar de caridade que se transforme ação em prol de cristo na
pessoa dos pobres.
i) Lc 10, 25s – O Bom Samaritano. Na parábola
nos é apresentado três olhares. O primeiro de um sacerdote (olhar de repúdio),
o segundo de um levita (olhar de indiferença), o terceiro de um samaritano
(olhar de compaixão). Os dois primeiros não se importaram com aquele homem, que
foi atacoado por ladrões. Já o terceiro, o samaritano: viu, compadeceu-se,
aproximou-se, limpou as feridas, colocou-o no transporte, levou-o a pensão,
cuidou dele, encomendou que o dono da pensão também o fizesse e pagou as
despesas!
ii) São Vicente direciona o olhar de Santa
Luisa. Luisa de Marilac era uma mulher dócil ao amor de Deus e íntima de
seu Santo Espírito. Teve inicialmente uma vida conturbada. Abalada pela morte
da mãe, por viver sem os cuidados do pai, rejeitada no convento, morte do marido
e por ter um filho bastante difícil sofria bastante e se olhava para Deus
buscando forças. Vicente torna-se seu confessor e orienta-lhe que olhe para o
pobre, faça algo em prol do outro, seguindo um tríplice princípio que também
serve para nós:
1º “Amar a Deus com a força de nossos
braços e o suor de nossa fronte;
2º ver Jesus Cristo no próximo, amando
e servindo a Nosso Senhor em cada um, e cada um em Nosso Senhor; e
3º Não adiantar-se à Divina
Providência, esperando com calma sua voz de mando".
iii) Ter uma grande intimidade com o Senhor
- Ele lia todos os dias as Sagradas Escrituras e orientou seus coirmãos a
fazer o mesmo: “Cada dia os padres e clérigos lerão um capítulo do Novo
Testamento e respeitarão o livro como regra de perfeição cristã e para melhor
aproveitamento o lerão ajoelhados, com a cabeça descoberta e no final da
leitura farão os três atos seguintes:
1º Adorar as verdades contidas no
capítulo,
2º Aplicar-se para ter os mesmos
sentimentos com os quais Nosso Senhor os pronunciou, e
3º Esforçar-se para praticar os
conselhos ou preceitos ali contidos.”
Foi na
Palavra que São Vicente descobriu e pode aplicar na sua realidade esse olhar
que incluía e dava dignidade aos desamparados. São Vicente de Paulo teve um
olhar de compaixão e misericórdia, capaz de indignar-se frente a tudo aquilo
que era desumano: “Como ser um cristão e ver seu irmão sofrendo sem chorar com ele? Sem
ficar doente com ele? É não ter caridade, é ser cristão de fachada; é não ser
humano, é ser pior que os animais”. O olhar de Vicente percebeu o Pobre
na sua dimensão pessoal e social. Olhando ao seu redor, ele reconheceu a dor e
o sofrimento dos Pobres e colocou todos os seus dons a serviço do povo
sofredor, pois, para ele, o Pobre.
iv) Um olhar de caridade para com o próximo
implica em:
·
Trazê-lo para junto de nós;
·
Acolher a pessoa em nossa vida;
·
Colocar-se no lugar do outro;
·
Entender a sua história;
·
Ocupar-se da situação do irmão;
·
Tomar conta dele;
·
Ajuda-lo a ser melhor;
·
Entender a dor e o sofrimento do outro;
·
Ver as múltiplas formas de pobreza que acometem
o corpo, a mente e a alma de tantos irmãos espalhados pelas periferias de nossa
sociedade;
·
Lutar para transformar as realidades, as estruturas
de pobrezas;
·
Libertar-se de preconceitos que nos afastam dos excluídos;
·
Levar-nos ao encontro do Cristo agonizante na
pessoa dos Pobres.
Música para meditação: “Olhar e caridade” – Identidade Nação
10. Para concluir apresentamos colaborações de dois grandes bispos da
Igreja que nos ensinam a bem direcionar nosso olhar: Papa Francisco (Bispo
de Roma – Itália) e Dom Helder Câmara (Bispo de Olinda e Recife – Brasil).
a) Para o Papa Francisco, é nos
sacramentos que devemos procurar Jesus:
“Deixemo-nos
olhar pelo Senhor na oração, na Eucaristia, na Confissão, nos nossos irmãos,
especialmente naqueles que se sentem postos de lado, que se sentem mais
sozinhos. E aprendamos a olhar como Ele nos olha” – Homilia em Cuba em 21 set.
2015.
b) Dom Helder convida que mudemos o nosso
olhar.
“Conta-se
que, certa vez, Dom Helder Câmara celebrava a missa em uma pequena comunidade.
No momento da comunhão quando os fiéis recebiam a Hóstia, na fila, colocou-se
uma pessoa alcoolizada. Ela estava totalmente bêbada e quando se aproximou para
receber a Eucaristia, Dom Helder, sem titubear, deu-lhe a comunhão naturalmente
como tinha feito com as demais pessoas que estavam na fila. É claro que muitos
ficaram indignados em presenciar tal comportamento. Uma das pessoas presentes,
não se conteve e veio falar com Dom Helder depois da Missa. “Dom Helder,” –
perguntou ela – “O Senhor não viu que aquela pessoa que foi receber a comunhão
estava bêbada?”. E Dom Helder, olhando para ela, disse: “Sim, minha filha, eu
vi que aquele homem estava bêbado. Eu só não vi as causas por que ele tinha
bebido e estava bêbado”. (cf. Um Olhar de
Caridade, Mizaél Donizetti Poggioli, p. 120-121).
Mudemos nosso olhar. Adotemos o
olhar misericordioso de Jesus e olhemos como ele nos olha!
Obrigado!
Cleber Teodosio
Seminarista da Congregação
da Missão