sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Missão do Japão 14/09/2025: 24º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Jo 3,13-17) Homilia



Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

A liturgia deste domingo nos coloca diante do mistério da Cruz: um mistério de amor que se abaixa, serve e se entrega totalmente para salvar toda a humanidade. É este o coração da nossa fé: o Filho do Homem foi levantado na cruz para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna (Jo 3,15).

Na primeira leitura (Nm 21,4b-9), o povo de Israel, cansado e impaciente no deserto, murmura contra Deus e contra Moisés. Como consequência, surgem serpentes venenosas que trazem morte. Mas Deus, em sua misericórdia, oferece um sinal de salvação: uma serpente de bronze levantada num poste. Quem a olhasse com fé, era curado. Esse episódio prefigura o que aconteceria na cruz: Jesus, elevado do chão, se tornaria o novo sinal de salvação para todos os que olharem para Ele com fé.

Na segunda leitura (Fl 2,6-11), São Paulo canta o grande hino da humildade de Cristo: “Ele, sendo de condição divina, não se apegou à sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se, assumindo a condição de servo... humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Aqui está o núcleo do Evangelho: Deus se abaixa para nos levantar. A glória de Jesus não está no poder que domina, mas no amor que serve até o fim. Por isso Deus o exaltou e lhe deu o Nome que está acima de todo nome.

E no Evangelho (Jo 3,13-17), Jesus diz a Nicodemos: “Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna”. A cruz, que era instrumento de tortura, tornou-se o trono da misericórdia. O Pai não enviou o Filho para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.

Queridos irmãos, a cruz de Cristo nos ensina três caminhos fundamentais para a nossa vida cristã:

  1. Humildade: Jesus se abaixa, renuncia a todo prestígio, e se faz um de nós. Quem contempla a cruz não pode continuar vivendo no orgulho. Somos chamados a descer também: a reconhecer nossa pequenez e nossa necessidade de Deus.

  2. Serviço: Jesus não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida. A cruz nos convida a amar de forma concreta, gastando nossas forças em favor dos irmãos, sobretudo dos mais pobres e esquecidos.

  3. Entrega confiante: na cruz, Jesus coloca sua vida inteiramente nas mãos do Pai. Também nós somos chamados a confiar que nossas dores, quando unidas à cruz, se transformam em vida nova.

A cruz é, portanto, um sinal universal de salvação: nela Jesus abre os braços para acolher todos os povos, sem distinção de raça, cultura ou condição social. Diante dela, não há privilégios nem exclusões: há apenas filhos e filhas amados, salvos pelo sangue do Cordeiro.

Celebrar este domingo é deixar-nos transformar por esse amor que se faz humilde, servo e entregue. Que ao contemplarmos a cruz, não a vejamos como derrota, mas como vitória: a vitória do amor que salva e reconcilia o mundo.

Que o Senhor Crucificado e Glorioso nos dê a graça de viver com humildade, servir com generosidade e entregar nossa vida por amor, para que também nós sejamos sinais de salvação no mundo.

Amém.

sábado, 6 de setembro de 2025

Missão do Japão 07/09/2025: 23º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 14,25-33) Homilia


 

Homilia: O Custo do Discipulado

Caros irmãos e irmãs em Cristo,

A liturgia da Palavra deste 23º Domingo do Tempo Comum nos coloca diante de uma verdade desafiadora e, talvez, desconfortável: o seguimento de Jesus tem um custo. Não é um caminho fácil, nem um passeio tranquilo. É uma jornada que exige de nós uma decisão radical, uma renúncia, um "deixar tudo" por amor a Ele.

Na primeira leitura, do livro da Sabedoria, somos convidados a refletir sobre a nossa capacidade de compreender a vontade de Deus. O autor sagrado nos diz que "o que está no céu, quem pode perscrutar? E o que vós quereis, quem pode conhecer, se vós não lhes derdes a Sabedoria?" (Sb 9, 13-14). A sabedoria de que fala o texto não é a inteligência humana, mas sim o dom do Espírito Santo que nos permite enxergar o mundo e a nossa vida com os olhos de Deus. É essa sabedoria que nos capacita a discernir e a abraçar a proposta de Jesus.

A segunda leitura, da carta de São Paulo a Filêmon, nos apresenta um exemplo concreto de renúncia e de perdão. Paulo pede a Filêmon que receba Onésimo, um escravo fugitivo, não mais como escravo, mas como um irmão muito amado. Paulo, que está preso, renuncia ao seu próprio direito e se coloca no lugar de Onésimo, pedindo a Filêmon que "receba-o como se fosse a mim mesmo" (Fm 12,17). É um ato de amor radical, de identificação com o outro, de esvaziamento de si. Paulo nos mostra que a renúncia de que fala Jesus não é uma negação de nós mesmos, mas uma entrega, um "dar-se" por amor aos outros.

O evangelho de Lucas é o ápice desta reflexão. Jesus fala abertamente sobre o que é preciso para ser seu discípulo: "Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lc 14, 26). A palavra "odiar" usada por Jesus, em grego, tem um sentido hiperbólico. Não significa um sentimento de aversão, mas sim uma prioridade absoluta. Jesus nos diz que, para segui-lo, Ele precisa ser o primeiro, o mais importante de tudo em nossa vida, acima de qualquer laço familiar, amizade ou até mesmo da nossa própria vontade.

A seguir, Jesus nos convida a "tomar a sua cruz e segui-lo" e a "renunciar a todos os bens" (Lc 14, 27.33). Ele nos coloca diante de um desafio: o de calcular o custo. Ele usa a imagem de quem quer construir uma torre ou de um rei que vai para a guerra. É preciso planejamento, é preciso saber se temos os recursos necessários para a empreitada. No nosso caso, o recurso principal é a nossa total entrega a Ele.

O que significa "renunciar a todos os bens"?

A renúncia de que fala Jesus não é uma negação do mundo, mas uma priorização. Não se trata de abandonar nossos bens, nossa família, nossa vida, mas de colocá-los sob a perspectiva de Cristo. Ele deve ser o centro de tudo. A renúncia não é um fim em si mesma, mas um meio para um fim maior: a plena comunhão com Deus.

Quando Jesus nos pede para renunciar a tudo, Ele não está pedindo para que vivamos na miséria ou que sejamos insensíveis aos nossos familiares. Pelo contrário, Ele nos convida a nos libertarmos das amarras que nos impedem de amá-lo e de amar o próximo de forma genuína e desinteressada.

A renúncia é um ato de liberdade. É dizer "sim" a Jesus, mas para isso, é preciso ter a coragem de dizer "não" a tudo que nos afasta d'Ele. É ter a sabedoria de que fala o livro da Sabedoria: a sabedoria que nos permite discernir e escolher o que realmente importa.

O desafio de hoje

Neste 23º Domingo do Tempo Comum, somos convidados a olhar para a nossa própria vida e a nos perguntarmos: O que ocupa o primeiro lugar no meu coração? A quem eu estou servindo? Minha vida é um reflexo do Evangelho ou das lógicas do mundo?

Que a Virgem Maria, a primeira e a mais perfeita discípula, nos ajude a abraçar a cruz de Cristo, a renunciar a tudo que nos impede de segui-lo e a caminhar com coragem na construção do Reino de Deus. Amém.