sábado, 21 de junho de 2025

Missão do Japão 22/06/2025: 12º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 9,18-24) Homilia



Meus irmãos e minhas irmãs,


O Evangelho deste domingo nos convida a refletir sobre uma pergunta fundamental para a nossa vida de fé:
“E vós, quem dizeis que eu sou?”

Essa pergunta que Jesus faz aos discípulos não é apenas uma curiosidade d’Ele, mas um chamado para que cada um deles – e cada um de nós hoje – se pergunte: quem é Jesus para mim?

É interessante perceber que, antes de fazer essa pergunta, Jesus estava em oração, a sós com Deus. É da intimidade com o Pai que brota essa questão essencial, que toca o mais profundo do coração humano.

Os discípulos começam respondendo com aquilo que escutam por aí:
— Uns dizem que és João Batista, outros, Elias, outros, algum dos antigos profetas que ressuscitou...
Mas Jesus quer mais. Ele não quer saber o que os outros dizem. Ele quer saber o que cada discípulo carrega no coração.

E Pedro, movido pelo Espírito, responde com firmeza:
“Tu és o Cristo de Deus.”
Pedro acerta, mas não entende ainda completamente. Porque, na cabeça dele – e dos outros – o Messias seria um rei poderoso, alguém que iria livrar o povo do domínio dos opressores, que restauraria Israel com força e glória.

Mas Jesus surpreende e desconcerta. Ele anuncia, pela primeira vez, algo que ninguém esperava:
“O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar.”
O Messias que eles esperavam não combina com o Messias que Deus quer.

O escândalo da cruz

A primeira leitura, do profeta Zacarias, já preparava o povo para isso. Ela fala de alguém que será transpassado, e que o povo olhará para ele com dor, como quem chora a morte de um filho único. E, no entanto, desse sofrimento, brota uma fonte de salvação, de purificação.

O sofrimento e a cruz, aos olhos do mundo, são fracasso. Mas, aos olhos de Deus, são caminho de vida, de redenção, de amor levado até o fim.

Seguir Jesus: um caminho de amor e entrega

Depois de anunciar a sua paixão, Jesus não deixa dúvidas sobre o que significa segui-lo:
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me.”
Não é um caminho fácil. Não é uma vida de facilidades, de milagres à disposição, de bênçãos automáticas. É um caminho de amor, de doação, de serviço.

Renunciar a si mesmo não significa negar quem somos, mas deixar de lado o egoísmo, o orgulho, o desejo de ser o centro de tudo. É colocar Deus no centro, e servir aos irmãos, especialmente os mais fracos e sofridos.

Tomar a cruz cada dia não é buscar sofrimento, mas é assumir, com amor e fé, as dificuldades que a vida traz — especialmente aquelas que vêm por causa do Evangelho: quando lutamos pela justiça, quando defendemos os pobres, quando somos fiéis à verdade, quando amamos mesmo sendo rejeitados.

Todos somos um só em Cristo

E aqui entra a belíssima segunda leitura, da Carta aos Gálatas, que completa essa reflexão:
“Vós todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo.”
E não há mais distinção: não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher. Todos somos um só em Cristo.
Esse é o horizonte do seguimento: uma humanidade reconciliada, sem divisões, sem discriminação, onde todos se reconhecem irmãos, filhos e filhas do mesmo Deus.

Conclusão: quem é Jesus para mim?

Queridos irmãos, hoje Jesus continua nos perguntando:
“E para você, quem sou eu?”
Será que Jesus é só uma ideia? Uma tradição? Um costume de ir à missa de vez em quando?
Ou Ele é, de fato, o centro da minha vida? O Senhor, o Salvador, aquele que me ama, que me chama a amar, servir, carregar a cruz com fé, esperança e amor?

Que essa Eucaristia nos fortaleça. Que olhando para Jesus, o Cristo que dá a vida por amor, também nós tenhamos coragem de segui-lo, tomando nossa cruz de cada dia, certos de que quem perde sua vida por Ele, na verdade, a encontra em plenitude.

Amém.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Missão do Japão 15/06/2025: Solenidade da Santíssima Trindade | ANO C (Jo 16,12-15) Homilia



Queridos irmãos e irmãs,

Hoje celebramos um dos maiores mistérios da nossa fé: o mistério da Santíssima Trindade — um só Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

Muitos podem se perguntar: “Como entender esse mistério?” Na verdade, não se trata de entender completamente, mas de acolher com amor esse Deus que se revela a nós como comunhão, amor e relação. Mesmo assim, a Igreja, ao longo da história, tem usado muitas comparações para nos ajudar a compreender um pouco mais.

1. Deus é como o Sol: luz, calor e energia.

O Sol é um só, mas dele vêm três realidades que experimentamos: a luz que ilumina, o calor que aquece e a energia que dá vida. Assim é Deus:

  • O Pai é a fonte, como o Sol em si.
  • O Filho é a luz, que ilumina o mundo e nos mostra o caminho.
  • O Espírito Santo é o calor e a energia, que aquece os corações e impulsiona a vida da Igreja.

São três manifestações inseparáveis, mas é um só Sol, como é um só Deus.

2. A Sabedoria do Pai, a Graça do Filho e o Amor do Espírito (Pr 8,22-31; Jo 16,12-15)

Na primeira leitura, vemos a Sabedoria de Deus, presente desde a criação. Essa sabedoria é expressão do amor do Pai, que cria tudo com cuidado e beleza.

No evangelho, Jesus diz que o Espírito nos conduzirá à verdade completa, porque tudo que o Filho tem vem do Pai, e tudo que o Espírito comunica vem do Filho. É uma comunhão perfeita onde ninguém guarda nada para si. É como uma fonte de amor que transborda constantemente.

3. Deus é como a água: líquido, vapor e gelo.

Água é sempre água, mas pode se manifestar em três formas:

  • Líquido que sacia e lava.
  • Vapor que sobe, envolve e aquece.
  • Gelo que sustenta, refresca e dá forma.

Assim é Deus: um só na essência, três nas formas de se manifestar e agir no mundo.

4. Trindade: uma família perfeita de amor

Quando olhamos para uma família onde há amor verdadeiro — pais, filhos e irmãos —, vemos ali um reflexo da Trindade. O amor não existe sozinho. O amor precisa de alguém para amar e alguém que responda a esse amor.

O Pai ama o Filho, o Filho ama o Pai, e o amor entre eles é tão perfeito, tão pleno, que é o Espírito Santo.

5. O que isso tem a ver conosco? (Rm 5,1-5)

Na segunda leitura, São Paulo nos lembra que, justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio de Jesus Cristo, e o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.

Isso quer dizer que a Trindade não é um mistério distante, teórico ou abstrato. A Trindade habita em nós! Cada vez que amamos, que perdoamos, que servimos, que buscamos a paz, tornamo-nos reflexo desse Deus que é amor, comunhão e unidade.

Conclusão:

Celebrar a Santíssima Trindade é celebrar que Deus não é solidão, Deus é comunhão. E nós, criados à imagem e semelhança desse Deus, somos chamados a viver também em comunhão — na família, na comunidade, na Igreja, no mundo.

Onde houver amor, unidade e partilha, aí está Deus presente.

Que possamos, ao fazer o sinal da cruz — em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo —, lembrar que carregamos em nós esse mistério de amor que nos dá vida, sentido e missão.

Amém.


sexta-feira, 6 de junho de 2025

Missão do Japão 08/06/2025: Solenidade de Pentecostes | ANO C (Jo 20,19-23) Homilia



Queridos irmãos e irmãs,

Hoje celebramos a grande festa de Pentecostes, o dia em que o Espírito Santo, prometido por Jesus, desceu sobre os discípulos reunidos em oração. É o cumprimento da promessa de Deus: “Não vos deixarei órfãos...”. Pentecostes é a certeza de que Deus permanece conosco, nos conduz, nos fortalece e nos envia em missão.

No Evangelho de hoje (Jo 20,19-23), vemos os discípulos trancados, dominados pelo medo. E é nesse lugar fechado, nesse coração paralisado, que Jesus entra e sopra sobre eles o Espírito Santo. Assim também acontece conosco: é nos nossos medos, nas nossas dúvidas, nos nossos cansaços que o Senhor entra e sopra vida nova.

Jesus sopra sobre os discípulos o Espírito Santo como um novo sopro da criação, como no Gênesis. Ali nasce uma nova humanidade: homens e mulheres renovados, capazes de amar, perdoar, anunciar a paz.

Na primeira leitura (At 2,1-11), o Espírito se manifesta com vento e fogo: sinais de força, de purificação e de transformação. E algo extraordinário acontece: todos começam a falar em línguas diferentes, mas todos se compreendem. Isso é o que o Espírito faz: une os corações, gera comunhão na diversidade, transforma o medo em coragem missionária.

E como essa presença continua viva em nós? São Paulo responde na segunda leitura (1Cor 12,3b-7.12-13): é pelo Espírito que somos membros de um só corpo. Cada um recebe dons diferentes, mas todos para o bem comum. Somos diferentes, mas animados pelo mesmo Espírito, chamados a viver como irmãos e irmãs.

Hoje, nesta celebração, queremos agradecer a Deus por permanecer conosco através do Espírito Santo, e queremos também abrir nosso coração para receber os sete dons do Espírito. Vamos refletir brevemente sobre cada um deles:

1. Sabedoria

É o dom que nos faz ver o mundo com os olhos de Deus. Não se trata apenas de conhecimento, mas de uma luz interior que nos ajuda a distinguir o que é eterno do que é passageiro.
Peçamos: Espírito Santo, dá-nos o dom da sabedoria, para que vivamos com os olhos fixos no céu, mas os pés firmes no chão, amando com maturidade e fé.

2. Entendimento (Inteligência)

É o dom que nos ajuda a compreender as verdades da fé, a penetrar no mistério de Deus e da vida.
Peçamos: Espírito Santo, ilumina nossa mente, para que possamos compreender tua Palavra e aplicá-la no dia a dia.

3. Conselho

É o dom que nos orienta nas decisões difíceis. Ele nos ajuda a discernir o que é certo, o que agrada a Deus.
Peçamos: Espírito Santo, guia nossos passos, ajuda-nos a aconselhar e a buscar conselhos com humildade e discernimento.

4. Fortaleza

É o dom que nos dá coragem diante das dificuldades, que sustenta nossa fidelidade nas provações.
Peçamos: Espírito Santo, fortalece-nos nas lutas, para que nunca desanimemos, mesmo quando tudo parecer difícil.

5. Ciência (Conhecimento)

É o dom que nos faz perceber a presença de Deus nas coisas criadas e usar corretamente os bens da criação.
Peçamos: Espírito Santo, ensina-nos a cuidar da criação e a reconhecer a tua presença em tudo que existe.

6. Piedade

É o dom que nos leva a amar a Deus como um Pai e aos irmãos com ternura e misericórdia.
Peçamos: Espírito Santo, aquece nosso coração para vivermos com mais compaixão, oração e serviço ao próximo.

7. Temor de Deus

Não é medo, mas respeito profundo, reverência, amor que reconhece a grandeza de Deus.
Peçamos: Espírito Santo, dá-nos um coração humilde, que jamais se afaste de Ti e que te adore com confiança e amor.

Irmãos e irmãs, o Espírito Santo não é uma ideia abstrata, mas uma presença viva e ativa em nossa vida. Ele nos foi dado no batismo, nos confirmou na crisma e nos acompanha todos os dias. O mundo precisa ver cristãos cheios do Espírito: corajosos, sábios, misericordiosos, firmes na fé e ativos no amor.

Hoje é o nosso Pentecostes! Que o Espírito Santo renove a face da terra… e comece renovando cada um de nós.

Vinde, Espírito Santo! Enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor! Amém.