Meus irmãos e minhas irmãs,
O Evangelho deste domingo nos convida a refletir sobre uma pergunta fundamental para a nossa vida de fé:
“E vós, quem dizeis que eu sou?”
Essa pergunta que Jesus faz aos discípulos não é apenas uma curiosidade d’Ele, mas um chamado para que cada um deles – e cada um de nós hoje – se pergunte: quem é Jesus para mim?
É interessante perceber que, antes de fazer essa pergunta, Jesus estava em oração, a sós com Deus. É da intimidade com o Pai que brota essa questão essencial, que toca o mais profundo do coração humano.
Os discípulos começam respondendo com aquilo que escutam por aí:
— Uns dizem que és João Batista, outros, Elias, outros, algum dos antigos profetas que ressuscitou...
Mas Jesus quer mais. Ele não quer saber o que os outros dizem. Ele quer saber o que cada discípulo carrega no coração.
E Pedro, movido pelo Espírito, responde com firmeza:
“Tu és o Cristo de Deus.”
Pedro acerta, mas não entende ainda completamente. Porque, na cabeça dele – e dos outros – o Messias seria um rei poderoso, alguém que iria livrar o povo do domínio dos opressores, que restauraria Israel com força e glória.
Mas Jesus surpreende e desconcerta. Ele anuncia, pela primeira vez, algo que ninguém esperava:
“O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar.”
O Messias que eles esperavam não combina com o Messias que Deus quer.
O escândalo da cruz
A primeira leitura, do profeta Zacarias, já preparava o povo para isso. Ela fala de alguém que será transpassado, e que o povo olhará para ele com dor, como quem chora a morte de um filho único. E, no entanto, desse sofrimento, brota uma fonte de salvação, de purificação.
O sofrimento e a cruz, aos olhos do mundo, são fracasso. Mas, aos olhos de Deus, são caminho de vida, de redenção, de amor levado até o fim.
Seguir Jesus: um caminho de amor e entrega
Depois de anunciar a sua paixão, Jesus não deixa dúvidas sobre o que significa segui-lo:
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me.”
Não é um caminho fácil. Não é uma vida de facilidades, de milagres à disposição, de bênçãos automáticas. É um caminho de amor, de doação, de serviço.
Renunciar a si mesmo não significa negar quem somos, mas deixar de lado o egoísmo, o orgulho, o desejo de ser o centro de tudo. É colocar Deus no centro, e servir aos irmãos, especialmente os mais fracos e sofridos.
Tomar a cruz cada dia não é buscar sofrimento, mas é assumir, com amor e fé, as dificuldades que a vida traz — especialmente aquelas que vêm por causa do Evangelho: quando lutamos pela justiça, quando defendemos os pobres, quando somos fiéis à verdade, quando amamos mesmo sendo rejeitados.
Todos somos um só em Cristo
E aqui entra a belíssima segunda leitura, da Carta aos Gálatas, que completa essa reflexão:
“Vós todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo.”
E não há mais distinção: não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher. Todos somos um só em Cristo.
Esse é o horizonte do seguimento: uma humanidade reconciliada, sem divisões, sem discriminação, onde todos se reconhecem irmãos, filhos e filhas do mesmo Deus.
Conclusão: quem é Jesus para mim?
Queridos irmãos, hoje Jesus continua nos perguntando:
“E para você, quem sou eu?”
Será que Jesus é só uma ideia? Uma tradição? Um costume de ir à missa de vez em quando?
Ou Ele é, de fato, o centro da minha vida? O Senhor, o Salvador, aquele que me ama, que me chama a amar, servir, carregar a cruz com fé, esperança e amor?
Que essa Eucaristia nos fortaleça. Que olhando para Jesus, o Cristo que dá a vida por amor, também nós tenhamos coragem de segui-lo, tomando nossa cruz de cada dia, certos de que quem perde sua vida por Ele, na verdade, a encontra em plenitude.
Amém.