Irmãos e irmãs, a paz do Senhor ressuscitado
esteja convosco!
Hoje celebramos com alegria a Solenidade da
Ascensão do Senhor. Pode parecer, à primeira vista, uma despedida. Jesus
sobe ao céu, afasta-se dos olhos dos discípulos, e, aparentemente, os deixa
sozinhos. Mas esta festa é muito mais do que uma partida. É uma elevação da
humanidade até Deus. Um passo essencial no mistério da nossa salvação.
1.
Ressurreição e Ascensão: duas etapas do mesmo mistério
A Ressurreição e a Ascensão não são o mesmo, embora estejam intimamente ligadas.
- Na Ressurreição, Jesus vence a morte, rompe as cadeias do túmulo e se manifesta vivo aos discípulos.
- Na Ascensão, Ele retorna ao Pai, leva consigo a nossa humanidade glorificada, e se senta à direita de Deus. Ascende ao lugar onde estava antes.
- Na Assunção, Maria subiu aos céus com a força de Jesus. Assumiu um lugar novo.
Jesus não abandona o corpo humano que
assumiu no ventre de Maria. Ele sobe aos céus com Ele. É a nossa carne que
Ele eleva. E isso tem um significado profundo: em Jesus, a humanidade foi
divinizada.
Como disse São Leão Magno: "A ascensão
de Cristo é a nossa elevação". Ele, cabeça do Corpo, sobe primeiro.
Nós, membros do Corpo, subiremos com Ele.
2. Jesus
sobe, mas não se ausenta
No Evangelho segundo Lucas, ouvimos que Jesus,
antes de subir ao céu, abençoou os discípulos. E eles, longe de ficarem
tristes, voltaram a Jerusalém cheios de alegria (cf. Lc 24,52). Por quê?
Porque compreenderam que Jesus não os deixava sós. Ele subia ao céu, mas
sua presença se tornava mais profunda e universal.
Não está mais limitado por um corpo físico num
lugar específico. Agora Ele está presente em todos os lugares,
especialmente na Igreja, na Eucaristia, na Palavra e nos pobres.
3. Somos
chamados à esperança e à missão
A carta aos Efésios nos ajuda a entender o
alcance desse mistério. São Paulo reza para conhecermos "a esperança à
qual fomos chamados" (Ef 1,18). E essa esperança é esta: um dia
estaremos com Cristo, onde Ele está.
Ao mesmo tempo, o livro dos Atos nos lembra
que não podemos ficar olhando para o céu sem agir (cf. At 1,11). O anjo
diz aos discípulos: “Por que estais olhando para o céu?” É como se
dissesse: agora é com vocês! Levem adiante a missão. Sejam
testemunhas até os confins da terra.
A Ascensão, portanto, não é o fim da
história de Jesus, mas o início da missão da Igreja. Ele sobe para o
céu, e nos envia ao mundo.
4. Somos
participantes da glória de Cristo
Queridos irmãos e irmãs, ao celebrar a
Ascensão do Senhor, somos convidados a erguer o olhar, não para fugir da
realidade, mas para reencontrar o sentido da nossa vida aqui.
Cristo, que subiu aos céus, nos atrai para
junto do Pai. E mais: Ele leva consigo nossa condição humana. Isso
significa que o céu já não é só o lugar de Deus: é também o nosso lugar.
A Ascensão é, por isso, uma festa da esperança
cristã. E também uma festa da nossa dignidade. Em Cristo, nossa
humanidade é chamada à glória. Nosso corpo, nossa história, nossa vida concreta
— tudo isso está destinado a ser elevado em Deus.
Conclusão
Por isso, hoje nos alegramos. O Ressuscitado,
que venceu a morte, é também Aquele que sobe ao céu levando-nos consigo.
Ele nos promete o Espírito Santo e nos envia em missão. Não estamos sós. Ele
está conosco "todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28,20).
Que essa celebração reacenda em nós o desejo
do céu, sem nos afastar do mundo, mas tornando-nos mais comprometidos com a
transformação da terra.
E que, como os discípulos, voltemos hoje para a nossa “Jerusalém” cotidiana cheios
de alegria, certos de que o céu nos espera, e de que Cristo
caminha conosco até lá.
Amém.