por Cleber Teodósio
Poderíamos organizar a vida de
Santa Luísa de Marillac em cinco pontos, a saber: primeiro, sua infância,
adolescência e juventude (1591-1613), seguido da crise de identidade e vida
conjugal (1613-1625). Como terceira parte teríamos os acontecimentos que
ocorrem como consequência do evento da Luz de Pentecostes (1633-1642), a
seguir, a grande realização, quando surgiram os primeiros frutos da fundação da
Companhia das Filhas da Caridade (1642-1655), e finalmente a velhice vivida na
liberdade do amor (1655-1660). Abaixo destacamos cinco parágrafos com
informações relevantes sobre a biografia daquela que viria a ser conhecida como
a padroeira de todas as obras sociais.
Luísa de Marillac nasceu em
12/08/1591 em Meux perto de Paris. Filha ilegítima de Luís de Marillac e mãe
desconhecida, embora Luísa gostasse de ser chamada de "Filha
Natural". Ela não era herdeira legal, mas sua irmã Inocencia, filha de seu
pai com uma segunda esposa: Antonieta Camus. Mas investigações como a de Calvet
(1960) afirmam que Luís de Marillac era impotente e mutilado, portanto não
poderia ser pai de ninguém. O próprio Luís disse em uma carta que sua esposa
Antonieta teve relações com outros homens e que a inocência não era filha dele.
Anselme (1674) lista René como o pai de Luísa, mas este René tinha apenas 05
anos quando Luísa nasceu. Seria outro homem com esse nome? Luís morreu em julho
de 1604, mas o que não se explica é que ele, amando tanto Luísa, deixasse sua
herança para Inocencia, uma filha que sua esposa teve em adultério. Hoje não se
sabe ao certo quem são os pais de Luísa de Marillac, apenas que, mesmo ele não fosse
o seu pai, ele assumiu Luísa como sua filha e a apoiou no que pôde.
Filha de mãe desconhecida, ainda
muito infantil, Luísa passa a viver num convento onde leu os clássicos e
aprendeu muitas coisas. Com a morte do pai, ela foi para outro lugar, mais
simples, onde aprendeu a fazer as atividades domésticas. Luísa amou a regra de
São Francisco, e prometeu a Deus que seria freira franciscana, para isso
precisava de um dote, que seu tio, tutor Michel de Marillac, não quis pagar, e
a levou para morar com eles em sua casa já que tinha a missão de conseguir um
casamento para ela, escolhendo para tal Antonio Le Gras, Secretário da Rainha.
Eles cresceram em amor e fé, mesmo sendo um casamento de conveniência. Ela,
como Marillac, aceita o marido, mas permanece insegura com a promessa que fez
de ser inteiramente de Deus na vida religiosa. Na cabeça dela, tudo de ruim que
acontecia em sua vida, imaginava que era uma punição por ser uma pessoa má, por
ser desobediente. Sua noite escura, porém, termina com a Luz de Pentecostes
(1623). A boa esposa é fruto de tudo que aprendeu com uma boa senhora com quem
conviveu na juventude. Luísa era excessivamente protetora com seu único filho
Miguel, como ela não teve amor de mãe, queria que seu filho não sofresse tudo o
que ela sofreu, ela queria que ele fosse padre, mas ele não o quis. Vicente
convence-o de que tudo bem se o filho não fosse padre, Luísa vai vê-lo casar e
ter uma filha. A neta Renata é um consolo para a nova avó.
Sua vivência humana leva Luísa de
Marillac a ter um bom relacionamento com as pessoas. Ela se enche de
interioridade e espiritualidade para fazer seu trabalho, ela também entende o
trabalho como algo que precisa ser delegado e retribuído. O primeiro contato
entre Luísa e Vicente não deixa boa impressão para ambas as partes, mas depois
essa impressão muda, Luísa vai visitar as confrarias e Vicente gosta tanto do
trabalho dela que quer que Luísa visite todas as irmandades de caridade. Luísa
tem demonstrou uma grande capacidade de trabalho, era incansável nas visitas às
instituições de caridade, sabia fazer bem o trabalho. Não foi apenas uma visita
de cortesia, mas identificou as dificuldades e sugeriu soluções para elas. Ela
era legal e humana na maneira como tratava as pessoas. O trabalho conjunto com
Vicente cresceu, mesmo sem usar nomes como geminação e colaboração, feito com
cuidado, encontrando sempre alguém para os ajudar nos seus projetos e
garantindo que cada projeto cumpre a sua missão dentro dos regulamentos da
instituição.
Luísa de Marillac e Vicente de Paulo
complementam-se na fundação da Companhia. Ambas as pessoas contribuem com
alguma coisa. A parte carismática corresponde mais a Luísa, que era mais
espiritual e sempre quis acelerar os passos da Companhia; A parte
institucional, por sua vez, recebe mais de Vicente, que foi mais prático e
travou algumas tentativas de Luísa para que as diligências fossem feitas em
determinado tempo. A semente para a fundação da empresa, criada oficialmente em
1633, tem sido o trabalho com as irmandades e o provimento de boas moças do
campo como Marguerite Naseau que se doou a serviço dos pobres. Vicente tinha a
experiência de já ter fundado uma congregação e sabia que algo correu mal iria
correr mal. Luísa coloca mais coração nessa fundação. Vale lembrar que as
conferências de São Vicente às Filhas da Caridade são pequenas contribuições do
santo. Luísa propôs o tema, ele apresentou e as irmãs contribuíram com suas
concepções sobre o assunto, no final Vicente apenas sintetizou o que foi
compartilhado pelas irmãs. Luísa insistiu que as irmãs fossem formadas para
serem filhas da caridade.
Depois da sua grande colaboração
com a Igreja, fundando a Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de
Paulo, Luísa parte para o encontro definitivo com o Pai. O amor de Santa Luísa
de Marillac dirige-se a quatro frentes: família, empresa, pobres e Vicente de
Paulo. Tanto a Luísa como o Vicente viveram muito para as pessoas do seu tempo,
grande parte das suas vidas passaram por doenças, um cuidou do outro, sempre.
Ambos foram muito ativos até os últimos dias de suas vidas. À beira da morte, Luísa
pediu que seu funeral fosse simples, que ela não gastasse mais do que com qualquer
outra irmã. Luísa faleceu em 15 de março de 1660, aos 68 anos de idade e
canonizada em 11/03/1934 em Roma pelo Papa Pio XI, cuja festa litúrgica é 9 de
maio.