domingo, 17 de abril de 2022

REFLEXÃO DO DOMINGO DE PÁSCOA 2022



1. A RESSURREIÇÃO NA HISTÓRIA:

Meus queridos irmãos e irmãs, desejamos a todos você uma feliz, santa e abençoada Pascoa!

 

A liturgia de hoje nos convida a meditar, a partir de Atos dos Apóstolos 10,34.37-43, sobre o testemunho dos discípulos de Jesus. Pedro comunica a todos o que aconteceu a Jesus, e nós reiteramos: Jesus ressuscitou! Na segunda leitura, Paulo nos chama às coisas do Alto e atesta que Jesus está sentado à direita de Deus, onde estaremos também nós, proximamente, revestidos da glória de Deus. No evangelho, as mulheres anunciam a ressurreição, e Pedro e o discípulo que Jesus amava, diante do sepulcro vazio, recordam as Palavras do Senhor, que ressuscitaria no terceiro dia e a partir daí testemunham o Cristo Vivo. Testemunho esse que perpassa o espaço e o tempo, chegando até os nossos dias.

 

Como será que a mensagem da ressurreição chegou até os nossos dias? Vejamos aspectos da mesma na História e na Sagrada Escritura.

      

a) Na Patrística afirma-se: “se creio na ressurreição sou cristão, do contrário, não!”

Gregos: corpo e alma, e só a alma gozaria de imortalidade ou reencarnação.

Judeus: defende a ressurreição do corpo (carne+alma+espírito), e do contrário vã seria nossa fé (1Cor 15,12).

b) Na Idade Média o discurso muda. Ao invés de falar de ressurreição, fala-se de encarnação. Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, Q53-56 ressurreição de Jesus, e na Suma Contra os Gentios, Q79-96, nossa ressurreição.

c) Na Modernidade - a ressurreição é questionada pelo advento da ciência e da revolução industrial.

Strauss, a ressurreição é algo acontecido aos discípulos (compreensão psicológica, a vitória sobre a crise provocada pelo luto), não a Jesus. A morte é objetiva, já a ressurreição, subjetiva.

d) Na Contemporânea - diferentes ideais sobre a ressurreição. Teólogos protestantes como Karl Barth, diziam que a ressureição é algo que acontecerá depois do fim do mundo, ou seja, fora da história. Católicos, que a salvação começa no hoje. Jon Sobrinho, por exemplo, diz que Deus estava com Cristo na cruz, logo ressurreição para ele é mudar a vida dos que sofrem, baixá-los da cruz (Teoprática).

                                                                               

2. A REFLEXÃO ATUAL busca saber se a RESSURREIÇÃO é: algo que vem de dentro/ou de fora? histórica/irreal? evento para: discípulos ou Jesus? Na verdade ela é origem, gênese e fundamento da fé! A ressureição meus irmãos, é aquilo que professamos no credo, quando professamos que Jesus “Desceu à mansão dos mortos. Ressuscitou ao terceiro dia. Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Os convido a crer na comunhão dos Santos que junto de Deus nos esperam, a nós, que cremos na ressurreição da carne, na vida eterna.

 

3. A RESSURREIÇÃO NO NOVO TESTAMENTO:

Antes vale lembrar que há ideia e fé na ressurreição em 2Macabeus 7,9,14 e Ezequiel 37. Os fariseus também acreditavam na ressurreição, porém havia grupos, na época de Jesus, como os Saduceus, que não tinham essa crença (At 23,8). No NT a ressurreição se diz pelo:

 

a) Querigma pascal: “Deus ressuscitou Jesus dos mortos” (1Cor 15,3-7). “O humilhado vive, foi glorificado” (At 2,21-24); 

b) Relatos do túmulo vazio: O relato não prova a ressurreição, mas tem seu valor teológico (Lc 24,1-11),

c) Relato das aparições: Jesus aparece na Galileia: Mt 28,16-20 e Jo 21,15-23, em Jerusalém. A Paulo no caminho de Damasco (1Cor 15,3-5). Todas são aparições exógenas e nelas unem-se visão e audição.

 

4. De fato, não se entende o cristão sem a ressurreição, pois ela é um divisor de água. Há um antes e depois de Cristo. Há um antes e depois da ressurreição!  

E é graças à ressurreição de Jesus, e ao testemunho e à fé pascal dos discípulos na ressurreição que se origina, na Igreja de Cristo:

a) A Cristologia, a partir da qual dizemos quem é Jesus;

b) A Soteriologia, significado salvífico da vida de Jesus para nós;

c) A Eclesiologia do existir cristão, que se dá por meio dos sacramentos e da prática de vida ao modo de Jesus Cristo;

d) A Teologia, que interpreta a revelação e a Trindade como compreensão pós-pascal, e

e) A Nova humanidade, a comunidade de seres humanos batizados e chamados à vida, ao amor e à justiça em, com e por Jesus Cristo.  

 

5. O teólogo belga, Padre Dominicano, Edward Schillebeeckx nos ajuda a alisar as leituras sobre a ressurreição. Ele está convencido de que, depois da morte de cruz, para reconhecer Jesus como o Vivente, os discípulos passaram por uma “experiência de conversão”.

Os discípulos vivenciaram os dois momentos históricos: a morte de Jesus (medo, dispersão e abandono) e a pregação apostólica (coragem, reunião e testemunho fiel), o que fez com que eles voltassem ao caminho, vivessem a fé e anunciassem o Cristo vivo. De fato, o seguimento a Jesus é atitude essencial do ser cristão no Novo Testamento, de maneira que eles teriam que fazer uma retomada do ‘ser discípulo’.

Para que isso ocorresse, os discípulos teriam passado pela experiência da “graça e do perdão” de Jesus, podendo, assim, voltar a reunir-se como comunidade de fé, reassumindo a comunhão atual com Jesus Cristo, confessando-o como sua salvação definitiva, que não terminou com a morte, mas que continua com o Vivente Ressuscitado.

 

6. Este é o convite que a Igreja nos faz continuamente. Especialmente na quaresma somos chamado à conversão, logo ao arrependimento (e perdão dos pecados pelo sacramento da reconciliação), para seguir unido a Jesus Cristo e desfrutar de sua companhia, testemunhando-O com palavras e obras e levando também aos outros, aonde quer que a gente vá, a alegria da páscoa, por meio de nosso amor que se efetiva pela caridade.

 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre seja louvado!    

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