1. A RESSURREIÇÃO NA HISTÓRIA:
Meus queridos irmãos e irmãs, desejamos a todos você uma feliz, santa e abençoada
Pascoa!
A liturgia de hoje nos convida a meditar, a partir de Atos dos Apóstolos
10,34.37-43, sobre o testemunho dos discípulos de Jesus. Pedro comunica a todos
o que aconteceu a Jesus, e nós reiteramos: Jesus ressuscitou! Na segunda
leitura, Paulo nos chama às coisas do Alto e atesta que Jesus está sentado à
direita de Deus, onde estaremos também nós, proximamente, revestidos da glória
de Deus. No evangelho, as mulheres anunciam a ressurreição, e Pedro e o discípulo
que Jesus amava, diante do sepulcro vazio, recordam as Palavras do Senhor, que
ressuscitaria no terceiro dia e a partir daí testemunham o Cristo Vivo.
Testemunho esse que perpassa o espaço e o tempo, chegando até os nossos dias.
Como será que a mensagem da ressurreição chegou até os nossos dias?
Vejamos aspectos da mesma na História e na Sagrada Escritura.
a) Na Patrística afirma-se: “se creio na ressurreição sou
cristão, do contrário, não!”
Gregos: corpo e alma, e só a alma gozaria de
imortalidade ou reencarnação.
Judeus: defende a ressurreição do corpo
(carne+alma+espírito), e do contrário vã seria nossa fé (1Cor 15,12).
b) Na Idade Média o discurso muda. Ao invés de falar de ressurreição,
fala-se de encarnação. Santo Tomás de
Aquino, na Suma Teológica, Q53-56 ressurreição de Jesus, e na Suma Contra
os Gentios, Q79-96, nossa ressurreição.
c) Na Modernidade - a ressurreição é questionada pelo
advento da ciência e da revolução industrial.
Strauss, a ressurreição é algo acontecido aos
discípulos (compreensão psicológica, a vitória sobre a crise provocada pelo
luto), não a Jesus. A morte é
objetiva, já a ressurreição,
subjetiva.
d) Na Contemporânea - diferentes ideais sobre a ressurreição.
Teólogos protestantes como Karl Barth, diziam que a ressureição é algo que
acontecerá depois do fim do mundo, ou seja, fora da história. Católicos, que a
salvação começa no hoje. Jon Sobrinho, por exemplo, diz que Deus estava com
Cristo na cruz, logo ressurreição para ele é mudar a vida dos que sofrem,
baixá-los da cruz (Teoprática).
2. A REFLEXÃO
ATUAL busca saber se a RESSURREIÇÃO é:
algo que vem de dentro/ou de fora? histórica/irreal? evento para: discípulos ou
Jesus? Na verdade ela é origem, gênese e fundamento da fé! A ressureição meus
irmãos, é aquilo que professamos no credo, quando professamos que Jesus “Desceu à mansão dos mortos. Ressuscitou ao
terceiro dia. Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,
donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Os convido a crer na comunhão dos Santos que junto de Deus nos esperam, a nós, que cremos na ressurreição da carne, na vida eterna.
3. A RESSURREIÇÃO NO NOVO
TESTAMENTO:
Antes vale lembrar que há ideia e fé na ressurreição em 2Macabeus 7,9,14
e Ezequiel 37. Os fariseus também acreditavam na ressurreição, porém havia
grupos, na época de Jesus, como os Saduceus, que não tinham essa crença (At
23,8). No NT a ressurreição se diz pelo:
a) Querigma pascal: “Deus ressuscitou Jesus dos mortos” (1Cor
15,3-7). “O humilhado vive, foi glorificado” (At 2,21-24);
b) Relatos do túmulo vazio: O relato não prova a ressurreição, mas
tem seu valor teológico (Lc 24,1-11),
c) Relato das aparições: Jesus aparece na Galileia: Mt 28,16-20 e
Jo 21,15-23, em Jerusalém. A Paulo no caminho de Damasco (1Cor 15,3-5). Todas
são aparições exógenas e nelas unem-se visão e audição.
4. De fato, não se entende o cristão
sem a ressurreição, pois ela é um divisor de água. Há um antes e depois de
Cristo. Há um antes e depois da ressurreição!
E é graças à
ressurreição de Jesus, e ao testemunho e à fé pascal dos discípulos na
ressurreição que se origina, na Igreja de Cristo:
a) A Cristologia, a partir da qual dizemos
quem é Jesus;
b) A Soteriologia, significado salvífico da
vida de Jesus para nós;
c) A Eclesiologia do existir cristão, que se
dá por meio dos sacramentos e da
prática de vida ao modo de Jesus Cristo;
d) A Teologia, que interpreta a revelação e
a Trindade como compreensão pós-pascal, e
e) A Nova humanidade, a comunidade de seres
humanos batizados e chamados à vida, ao amor e à justiça em, com e por Jesus
Cristo.
5. O teólogo belga, Padre Dominicano, Edward Schillebeeckx nos ajuda a alisar
as leituras sobre a ressurreição. Ele está convencido de que, depois da morte de cruz, para reconhecer
Jesus como o Vivente, os discípulos passaram por uma “experiência de conversão”.
Os discípulos vivenciaram
os dois momentos históricos: a morte de
Jesus (medo, dispersão e abandono) e a pregação apostólica (coragem, reunião e
testemunho fiel), o que fez com que eles voltassem ao caminho, vivessem a fé
e anunciassem o Cristo vivo. De fato, o seguimento a Jesus é atitude essencial
do ser cristão no Novo Testamento, de maneira que eles teriam que fazer uma
retomada do ‘ser discípulo’.
Para que isso
ocorresse, os discípulos teriam passado pela experiência da “graça e do perdão” de Jesus, podendo,
assim, voltar a reunir-se como comunidade de fé, reassumindo a comunhão atual
com Jesus Cristo, confessando-o como sua salvação definitiva, que não terminou
com a morte, mas que continua com o Vivente Ressuscitado.
6. Este é o convite que a Igreja nos faz
continuamente. Especialmente na quaresma somos chamado à conversão, logo ao
arrependimento (e perdão dos pecados pelo sacramento da reconciliação), para
seguir unido a Jesus Cristo e desfrutar de sua companhia, testemunhando-O com
palavras e obras e levando também aos outros, aonde quer que a gente vá, a
alegria da páscoa, por meio de nosso amor que se efetiva pela caridade.
Louvado seja
Nosso Senhor Jesus Cristo. Para sempre
seja louvado!