A atual Casa Mãe da Congregação da Missão celebra nesse 2018 seus 200 anos. Um dos pontos altos da festa se deu em 21 de maio, dia em que pela primeira vez a Igreja celebrou a “Bem-aventurada Virgem, Mãe da Igreja” - título recém decretado pelo Papa Francisco. Constou na programação uma missa presidida pelo Superior Geral, Pe. Tomaž Mavrič, CM que se deu na capela de São Vicente, onde Pe. Christian Bad, CM abril, oficialmente, o colóquio, cujo tema: “200 anos da Casa Mãe: no coração da cidade, um coração missionário”, logo fez-se uma breve visita aos altares dos santos Regis Clet e Gabriel Perboyre, bem como ao relicário de São Vicente de Paulo, quando todos foram convidados a se dirigirem à sala Baude, passando pela sala de comunidade, onde estavam expostas algumas fotos e cartas originais de uma amostra realizada pela Sociedade de São Vicente de Paulo e as Filhas da Caridade na ONU, em Genebra, ano passado. Uma vez na sala de conferência, os mais de cem ouvintes: leigos, Filhas da Caridade, Missionários Vicentinos e amigos que frequentam a Capela, foram saudados pela entusiasmada Ir. Michelle Marvaud, FC, que cerimoniou o encontro, no qual mais de dez oradores discursaram sobre personagens ilustres da Casa.
Tomando a palavra, Pe. Christian Mauvais, CM, Provincial da França, recordou novembro de 1817, data em que os missionários chegaram ao 6º arrondissement de Paris; insistiu que o colóquio fazia memória ao passado, mas também queria fazer refletir sobre o futuro, graças ao dinamismo dos missionários que já passaram por ali. “A Casa da rue de Sèvres, 95,” matizou ele, “continua assumindo o desafio da formação (Universidade Saint John, acolhida de missionários que fazem especializações em Paris, abertura de espaço para a biblioteca de estudos agostinianos); também empreende iniciativas de solidariedade como o espaço que permite co-habitar pessoas em situação de indigência; bem como, o futuro espaço de lar diurno para mulheres em situação de rua e a abertura de um lar infantil”. E concluiu sua fala manifestando o seguinte desejo: “que os membros da Casa Mãe, escutando a história, resgatem o sentido missionário desses padres, para que o São Lázaro de nossos dias siga tendo um coração que bate por Jesus e assim traga mais vida à nossa casa”.
Outra vez com a palavra, Ir. Marvaux recordou que os personagens que seriam tratados no colóquio, foram missionários vicentinos que perfilam a história da Congregação despois da Revolução Francesa; alguns, durante as revoltas de 1830, e outros viram as duas guerras mundiais; de forma que o recorte vai de 1787 a 1956.
Pe. Luigi Mezzadri, CM introduziria as falas seguintes, mas por problema de transporte, não pode chegar a tempo, de modo que, o texto por ele escrito, foi lido. Nele, Pe. Mezzadri esclareceu que antes de chegar a esta Casa Mãe, a Congregação viveu sua primeira crise no marco da luta contra o jansenismo, época em que a comunidade contava com numerosos coirmãos nos seminários, mas a recepção das bulas papais contra as ideias de Cornelius Jansenius (Bispo de Ypres), originou fortes tensões na Igreja da França, vários bispos se posicionaram a favor ou contra da ordenação de candidatos ao sacerdócio, dos quais não se pudesse assegurar a retidão doutrinal de seus professores. O que levou ao fechamento de seminários e despertou temores entre os coirmãos poloneses e italianos, considerando que toda a Congregação poderia ser afetada com um conflito que era essencialmente francês. Mas como nem o direito nem os costumes exigiam que a Casa Geral fosse transferida à Roma e, dado que as relíquias do Fundador e o maior número de missionários estavam na França, tudo levou a manter a Casa Geral em Paris, decisão essa, homologada pela Assembleia Geral de 1724.
Dos personagens destacados, dois eram superiores gerais: padres Jean-Baptiste Étienne (1801-1874), considerado por alguns, como o segundo fundador após São Vicente, pelo expressivo crescimento da Congregação, e Eugène Boré (1809-1878), orientalista de renome e de fino sentido político, que levou as Filhas da Caridade à Turquia, para quem o Sultão construiu o Hospital da Paz sede das mesmas até hoje. Sete sacerdotes, dentre eles os padres: São João Gabriel Perboyre (1802-1840), primeiro santo da China; Armand David (1826-1900), naturalista que ajudou a descobrir mais de 200 espécies vegetais e animais, inclusive o panda gigante chinês; Guillaume Pouget (1847-1933), especialista em exegese bíblica, que adotou o método histórico-crítico em seus escritos, influenciando inclusive os textos do Vaticano II; Fernand Portal (1855-1926), aberto ao ecumenismo, à formação e à juventude, e Charles François Jean (1874-1955), profundo conhecedor de antigas línguas bíblicas e culturas afins, chegando a cunhar o conceito “contexto bíblico”, para explicar a cultura inerente à revelação. E finalmente um irmão coadjutor: François-Casimir Carbonnier (1787-1873), exímio pintor que revestiu as paredes da Casa Mãe com sua arte, de quem um dia se referiu François Morlot, Cardeal de Paris: “É necessário ser um santo para idealizar tais cenas".
Visita ao Pe. Vandeir quando o mesmo estudava em Paris |
Essa abertura da Casa Mãe alcança muitos missionários que oportunamente passam pela mesma, já seja para encontros formativos, CIF’s ou outros estudos que demandam longa permanência, como é o caso do Pe. Vandeir Barbosa, CM que viveu ali até o ano passado, concluindo seu Mestrado em Cristologia pela Universidade Católica de Paris, quem nos falou da experiência de ser parte direta desses 200º aniversário: “A Casa Mãe da CM para mim, no tempo em que fiz parte da comunidade como padre, estudando e exercendo o ministério, é um lugar de relacionamento com e de abertura à riqueza de diferentes culturas, - éramos treze nacionalidades diferentes na comunidade local, tendo como língua em comum o francês -, de abertura às vivências do carisma vicentino, de aprendizado e de estudos, de contato geográfico-espiritual e cultural com lugares onde Vicente passou, residiu ou inspirou algo. É uma das experiências mais valiosas e que me ajudará por toda a minha vida enquanto homem e padre da CM. Percebo também que esforços vem sendo feitos diante dos desafios atuais do mundo e do contexto francês para tornar a Casa Mãe cada vez mais acolhedora e capaz de viver de maneira criativa e fiel o carisma de São Vicente de Paulo.”
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