OS AMIGOS
Disse a raposa ao
Pequeno Príncipe: Só é possível conhecer aquilo que se cativa. As pessoas não
têm mais tempo de se conhecerem. Elas compram as coisas prontas nas lojas, mas
como não existe loja de amigos, as pessoas não têm mais amigos. Se você quiser
uma amiga, cativa-me (A. Saint-Exupéry)
ABERTURA AO OUTRO
Um dos maiores tesouros que encontra- remos numa caminhada
são os amigos. A proposta do silencio e da solidão da caminhada não impede que
se façam amigos. Sto. Inácio de Loyola não quis levar ninguém consigo em sua
caminhada à Jerusalém porque queria ter só a Deus por companhia. Na volta
começou a buscar companheiros porque descobriu que, quanto mais se busca a
Deus, no silencio interior, mais estamos preparados para acolher e ouvir as
pessoas. Em peregrinações costuma ocorrer que quanto menor o grupo, mais
necessidade se tem de partilhar com os companheiros. Isso porque o peregrino
não é um solitário, mas alguém que tem o que dizer, alguém que tem uma
experiência a ser compartilhada.
A origem do ambiente de companheirismo e de amizade que
existe em peregrinações é a experiência de se sentir na mesma altura que o
outro. Reconhecer no outro a mesma condição e a pertença a um mesmo espaço. O contrário
disso é submissão ou dominação.
Estamos acostumados a uma sociedade de classes, de relações
entre superiores e subordinados, de rivalidades e competitividades que nos
custa reconhecermo-nos como iguais e peregrinos na mesma jornada dessa vida. A
caminhada nos oferece essa chance de sermos não rivais, mas companheiros numa
mesma situação. Numa autêntica caminhada não existem privilégios. Quando alguém
precisa de ajuda, ali está o outro, mesmo que seja um desconhecido. E quando há
uma aproximação, existe uma identificação de um com o outro e isso pode gerar
uma grande amizade.
Uma pessoa autossuficiente está incapacitada para uma
caminhada. Quem está cheio de si mesmo, não sabe escutar, nem ajudar, nem
aceitar ajuda, nem expressar-se, pode até fazer uma boa caminhada, um bom
esporte, mas não fez uma caminhada, pois perdeu o mais importante, que é a
oportunidade de fazer uma experiência do outro.
QUEM ENCONTRA UM AMIGO
ENCONTRA UM TESOURO
"O óleo perfumado alegra o coração, a doçura da
amizade consola a alma. Não deixes teu amigo, nem o de teu pai, nem vás à casa
de teu irmão no dia da aflição: mais vale um amigo próximo que um irmão
afastado. (Pr. 27-10)
Pense em seus amigos. Quantas horas você gasta com eles? Como
eles preenchem sua vida? Procure alguém que não conheça ainda muito bem e
caminhe um pouco com ele, partilhando a experiência vivida até aqui.
O CAMINHO
Tomar a decisão de
fazer uma caminhada supõe a opção de pôr-se em marcha: a partir deste momento
você é um peregrino, alguém que, ainda que tenha uma meta (sabe para onde vai),
sabe que somente a atingirá se Deus quiser. Enquanto isso, vive o provisório, confia
na providência e na solidariedade dos outros.
POR-SE EM MARCHA
Todos nossos projetos nascem de uma decisão. As raízes dessas
decisões podem ser muito diversas: conseguir um benefício pessoal, solucionar
um problema, aprender algo novo, iniciar uma nova etapa da vida.... Da mesma
maneira, os motivos pelos quais você decidiu fazer essa caminhada pode ser
diferente dos motivos dos outros: alguns buscam poder refletir sobre a vida,
outros, fazer amigos, muitos buscam uma aventura ou um passeio, outros querem
dar graças a Deus por algo que aconteceu. Muitos fazem a caminhada por um voto
ou para pagar uma promessa. Qual o seu motivo?
A todos, no entanto, se repete o chamado de Deus a Abraão: Sai da terra (Gn 12). Sair da terra é
deixar as seguranças que se tem e confiar sempre no Senhor. É um chamado
exigente porque não se pode. Caminhar e continuar em casa ao mesmo tempo. Para
caminhar é preciso sair, deixar algo. Os que preferem continuar em casa e nunca
deixar nada, não perdem suas seguranças, mas também não descobrem nada de novo.
Somente somos capazes de sair, ou de deixar algo, se for para
buscar algo maior. Nesta 1 Caminhada inaciana você é convidado(a) a caminhar
com o Senhor, buscando-o em cada passo da estrada. O objetivo não é o chegar,
mas ser conduzido por Deus. Você deixou sua terra por uma tarde e esperamos que
você faça a experiência de desprendimento e de confiança no Senhor.
SAI DA TUA TERRA
O Senhor disse a Abrão: "Deixa tua terra, tua
família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti
uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte
de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te
amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti." "Abrão
partiu como o Senhor The tinha dito, e Lot foi com ele. Abrão tinha setenta e
cinco anos, quando partiu de Hară. Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho de seu
irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido
em Hara, e partiram para a terra de Canaã. (Gn 12, 1-5a).
Que coisas você tem que abandonar para "sair de sua
terra"? Olhe para o caminho, contemple seu trajeto e pense consigo
enquanto caminha: De onde saio e o que busco?
AS PEDRAS DO CAMINHO
O esforço de cada passo o leva a conhecer seus
próprios limites. Não fazemos a caminhada que queremos e sim a que podemos.
Caminhando descobrimos nossa indigência radical. Não somos máquinas, mas
pessoas com capacidades reduzidas.
ACEITAR SEUS LIMITES
Muitos se perguntam se serão capazes de chegar ao topo do
morro. A maior parte das vezes o que preocupa é a preparação física, mas o
segredo para conseguir a meta desejada é o interior de cada um: quem tem força
interior, chega. Não podemos encarar a caminhada como uma versão caminhante da
"São Silvestre". Não se deve pensar em recordes, velocidade ou
competição. Quem pensa e age assim dá as costas ao espírito da caminhada e não
aproveita seus frutos. Também não devemos sentir inveja uns dos outros por
alguém caminhar mais rápido, ou ter menos dificuldades que outros. Na caminhada
cada um tem seu ritmo e suas dificuldades próprias e é preciso aprender com
elas.
Essas dificuldades são como as pedras do caminho, isto é,
tudo o que desanima e dificulta a caminhada. Muitas pedras são existentes e
outras nós mesmos vamos colocando, das quais a principal é o medo.
O importante diante das dificuldades é que vamos nos
conhecendo em nossas limitações, vamos aprendendo a necessitar dos outros e
aprendendo que não somos onipotentes independentes. Todos e necessitamos de
ajuda para superar nossas próprias limitações.
Numa caminhada se sofre. Não é o objetivo, nem o que
pretendemos, mas o sofrimento é parte de sua lógica, da mesma forma como está
presente na vida. As dificuldades nos ensinam a descobrir nosso próprio ritmo e
a valorizar a prudência, a humildade e a ajuda dos outros. Ao mesmo tempo nos
revelam aquilo que somos realmente capazes. A superação das pedras dá um sabor
especial à chegada, mas também nos torna mais humildes ao saber que não
realizamos nossa tarefa sozinhos, mas tivemos que confiar em outros e sobretudo
confiamos na ajuda e providência de Deus.
CONFIAR EM DEUS
30Os jovens se fatigam e cansam, os
moços chegam a tropeçar, 31mas os que confiam no Senhor se revigoram
e criam asas como águias, correm sem cansaço e caminham sem fatiga. (Is 40,
30-31)
Quais são os maus momentos que você já teve que superar em
sua vida? Você se lembra que coisas ou pessoas te ajudaram?
Você é capaz de conversar com seus amigos/as sobre suas
dificuldades? Se sente ajudado e apoiado ao revelar-se com problemas?
Você é capaz de rezar e confiar seus problemas a Deus?