Em sua viagem à Madagascar (África) o Papa Francisco realizou uma visita à Cidade da Amizade
(Akamasoa) fundada pelo Pe. Pedro Opeka, CM, onde vivem milhares de famílias
pobres tiradas de lixões. Ali o Padre ofereceu-lhes vida digna com trabalho
educação e moradia.
Num
primeiro momento o Pontífice se encontrou com mais de oito mil crianças e
jovens em uma quadra coberta, a quem lhes disse: “Queridos jovens de Akamasoa, desejo
dirigi-lhes uma mensagem especial: nunca cruzem os braços diante dos efeitos
nefastos da pobreza, nem jamais sucumbam às tentações do caminho fácil ou do fecha-se
em se mesmo”.
Vale
salientar que além das autoridades eclesiásticas e civis, também estava ali
presente o Superior Geral da Congregação da Missão Pe. Tomaž Mavrič, CM que oportunamente
saudou o Santo Padre e o acompanhou durante esta visita.
Ver a seguir, a mensagem completa dirigida aos
jovens:
É uma grande alegria poder encontrar-me com o padre
Pedro Opeka, CM. Conhecemo-nos na universidade de teologia por volta de 1968, época
em que ele não gostava tanto de estudar, quanto de trabalhar.
É uma grade alegria para mim, poder encontrar-lhes
nesta grande obra. Akamasoa é a expressão da presença de Deus em meio a seu povo
pobre; não uma presença esporádica, circunstancial, é a presença de um Deus que
decidiu viver e permanecer sempre em meio de seu povo.
Nesta tarde são numerosos no coração desta “Cidade
da amizade”, que construíram com suas mãos e que —não duvido— seguirão construindo
para que muitas famílias possam viver com dignidade. Ao ver seus rostos
radiantes, dou graças ao Senhor que escutou o clamor dos pobres e que manifestou
seu amor com sinais concretos como a criação deste povo.
Seus gritos que surgem da impotência de viver sem
teto, de ver crescer seus filhos na desnutrição, de não ter trabalho, pelo
olhar indiferente - para não dizer desprezível - de tantos, transformaram-se em
cantos de esperança para vocês e para todos os que os veem. Cada canto destes bairros,
cada escola ou dispensário são um hino de esperança que desmente e silencia
toda fatalidade. Digamos com força: “a pobreza não é uma fatalidade!”
Com efeito, este povo possui uma longa história
de valentia e ajuda mútua. Este povo é o resultado de muitos anos de trabalho árduo.
Nos cimentos encontramos uma fé viva que se traduziu em atos concretos, capaz
de “mover montanhas”. Uma fé que permitiu ver possibilidade, onde só se via
precariedade; ver esperança, onde só se via fatalidade; ver vida onde tantos
anunciavam morte e destruição.
Recordem-se do que escreveu o apóstolo São Tiago:
“a fé sem as obras é completamente morta” (Tg 2,17). Os cimentos do trabalho mancomunado
e o sentido de família e de comunidade possibilitaram que se restaure artesanal
e pacientemente a confiança não só em vocês, senão entre vocês, o que lhes
permitiu serem os primeiros protagonistas e artesãos desta história.
Uma educação em valores que possibilitou as
primeiras famílias iniciar a aventura com o padre Opeka puderam transmitir o tesouro
enorme do esforço, a disciplina, a honestidade, o respeito a si mesmo e aos demais.
E vocês puderam compreender que o sonho de Deus não é só o progresso pessoal,
mas principalmente o comunitário, que não há pior escravidão - como nos lembrava
o padre Pedro, que viver cada um só para si.
Queridos jovens de Akamasoa, desejo dirigi-lhes
uma mensagem especial: nunca cruzem os braços diante dos efeitos nefastos da
pobreza, nem jamais sucumbam às tentações do caminho fácil ou do fechar-se em se
mesmo. Obrigado, Fanny, por esse bonito testemunho que nos deu em nome dos jovens
do povo.
Queridos jovens: o trabalho realizado por seus
pais, agora toca a vocês continuar. E encontrarão a força para realizá-lo em sua
fé e no testemunho vivo plasmado por aqueles que os antecederam em suas vidas.
Deixem que floresçam em vocês os dons que o Senhor lhes deu. Peçam-lhe que os
ajude a colocar-se ao serviço de seus irmãos e irmãs com generosidade.
Assim, Akamasoa não será apenas um exemplo
para as gerações futuras, senão muito mais, o ponto de partida de uma obra
inspirada em Deus que alcançará seu pleno desenvolvimento na medida em que
siga testemunhando seu amor às gerações presentes e futuras.
Rezemos para que em toda Madagascar e em outras
partes do mundo se prolongue o brilho desta luz, e possamos conseguir modelos
de desenvolvimento que privilegiem a luta contra a pobreza e a exclusão social
a partir da confiança, a educação, o trabalho e o esforço, que sempre são indispensáveis
para a dignidade da pessoa humana.
Queridos amigos de Akamasoa, querido padre
Pedro e seus colaboradores: Obrigado mais uma vez por seu testemunho profético
e seu testemunho gerador de esperança. Que Deus siga abençoando vocês.
Peço-lhes que, por favor, não se esqueçam de
rezar por mim.
Depois, o Padre
Opeka pegou carona no papamóvel e foi com o Papa Francisco a um lugar preparado
junto a um monumento construído em pedra que pesa 600 Kg, em homenagem ao
Sagrado Coração de Jesus, de onde o Pontífice fez a seguinte oração aos
trabalhadores que ali o esperavam:
Deus nosso Pai, criador do céu e da terra,
nós Vos damos graças por nos reunirdes aqui
como irmãos,
em frente desta pedreira britada pelo trabalho
do homem:
nós Vos pedimos por todos os trabalhadores.
Por aqueles que o fazem com as próprias mãos
e enorme esforço físico.
Preservai os seus corpos do desgaste excessivo:
que não lhes falte a ternura e a capacidade de
acariciar os seus filhos e jogar com eles.
Concedei-lhes o vigor da alma e a saúde do
corpo
para que não fiquem esmagados pelo peso da sua
tarefa.
Fazei que o fruto do trabalho lhes permita
Assegurar uma vida digna às suas famílias.
Que encontrem nelas, à noite, calor, conforto e
encorajamento,
e que juntos, reunidos sob o vosso olhar,
conheçam as verdadeiras alegrias.
Saibam as nossas famílias que a alegria de
ganhar o pão
é perfeita, quando este pão é partilhado.
Que as nossas crianças não sejam forçadas a
trabalhar,
possam ir à escola e continuar os seus estudos,
e os seus professores consagrem tempo a esta
tarefa,
sem precisarem doutras atividades para a
subsistência diária.
Deus da justiça, tocai os corações de
empresários e dirigentes: que eles provejam a tudo o que é necessário
para assegurar a quantos trabalham um salário
digno
e condições respeitosas da sua dignidade de
pessoas humanas.
Com paterna misericórdia, cuidai
daqueles que não têm trabalho,
e fazei que o desemprego, causa de tantas
misérias,
desapareça das nossas sociedades.
Possa cada um conhecer a alegria e a dignidade
de ganhar o pão
para o trazer para casa e sustentar os seus
queridos.
Criai entre os trabalhadores um espírito de
verdadeira solidariedade:
saibam velar uns pelos outros,
encorajar-se mutuamente, sustentar quem está
extenuado, levantar aquele que caiu.
Perante a injustiça, que o seu coração nunca
ceda ao ódio,
ao rancor, à amargura, mas mantenha viva a
esperança
de ver um mundo melhor e trabalhar por ele.
Que saibam, juntos e de forma construtiva,
fazer valer os seus direitos
e que as suas vozes e o seu clamor sejam
atendidos.
Deus nosso Pai, Vós destes, como protetor
aos trabalhadores do mundo inteiro, São José,
pai adotivo de Jesus, esposo corajoso da Virgem
Maria:
a Ele, entrego todos que trabalham aqui, em
Akamasoa,
e todos os trabalhadores de Madagáscar,
especialmente aqueles
que levam uma vida precária e difícil.
Que Ele os guarde no amor do vosso Filho
e os sustente na sua vida e na sua esperança.
Amém!
O que se
nota no apostolado do Papa Francisco, além da acolhida, alegria e misericórdia,
é uma verdadeira aporofilia (do grego άπορος + φιλία = amizade/amor ao pobre), características
encontradas em Cristo, São Vicente e em teologias como a Africana ou da América
Latina. Que o Senhor conduza nosso Pontífice a fim de que ele continue nos
guiando com sua sabedoria, serviço e espiritualidade.
Fonte: Vatican News
Vídeo resumo:
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