Há
momentos, instantes, nos quais nossas emoções (as mais elementares e ao mesmo
tempo intensas) se condensam como se quisessem dizer-nos a grito quem somos, e
devolver nossa essência, cotidianamente esquecida. Para mim, o começo de uma
grande viagem está entre esses momentos mágicos de reencontro.
Na
porta, antes de embarcar, nos cabe fazer as últimas ligações: à mamãe, a pessoa
que amamos... Os olhos se enchem de lágrimas e a voz fica muda por momentos até
a iminência de um adeus (o avião já está à espera de sua carga humana diante do
paredão de vidro). Num ato de reflexo, o coração se comprime então subitamente,
como se quisesse criar lugar para as emoções que estão por chegar e deixar para
trás tudo o que não seja imprescindível. Depois da última checagem em terra, na
passarela estreita, resta, já tão só, o eco certeiro de um amor desgarrado.
No
interior do avião, a poltrona prevista para o passageiro parece proporcional ao
espaço que fora reduzida a bagagem das emoções; e assim, entre o nosso acento e
o do que vai a frente, começamos a observar com um cúmplice olhar os rostos dos
desconhecidos que nos acompanham: Quem são? Viajam para ver a família, por um
amor, a negócios ou em busca de uma nova vida talvez?! Não o sabemos e pouco
importa, porque a 11.000 metros de altura e sobre um oceano que separa
continentes, todos temos em comum algo essencial: a condição de valentes
aventureiros, de nômades expostos, que nos faz quase iguais (ao menos por umas
horas).
Na
chegada, quando se abrem as portas e recolhemos nossas bagagens de mão, o
sorriso amável das aeromoças é o último gesto com sabor a lar. Com cada passo
deixamos um pouco mais atrás o mundo de onde viemos e vamos nos adentrando
noutro, novo, ainda por conhecer. Antes do tchau definitivo, uma última olhada
a fuselagem. As cores da bandeira se escrevem em nossa lembrança como uma
promessa: a de voltar, algum dia, em um avião como esse a nossa vida de sempre.
Se
resolvermos agora dar o passo seguinte, o decisivo, já estamos prontos para
vibrar...
Tradução
do original em espanhol: “Momentos Mágicos” de Plablo Olsson. Revista Iberia Airlines, edição setembro de 2012