“Vaidade das vaidades: buscai as coisas do alto”
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Neste 18º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de
Deus nos confronta com três grandes tentações que atravessam a existência
humana: a vaidade, a ganância e o apego excessivo às coisas deste mundo.
Mas, ao mesmo tempo, nos oferece um caminho libertador: o esforço por buscar
as coisas do alto, onde está Cristo.
1. “Vaidade
das vaidades, tudo é vaidade” (Ecl 1,2)
Assim começa a primeira leitura, com palavras
duras e provocantes. O autor do Eclesiastes — chamado “Qohélet” — nos fala da
frustração de quem investe toda sua energia nas obras da terra, mas não
encontra nelas um sentido duradouro. Ele diz: "Mesmo à noite o seu
coração não repousa." Ou seja, quem vive apenas correndo atrás de
resultados, poder, prazer ou acúmulo de bens, vive inquieto, insatisfeito e, no
fim, frustrado.
Quantas pessoas hoje vivem mergulhadas no
ativismo, na competição, nos títulos, nas aparências, nos seguidores de redes
sociais... mas se sentem vazias por dentro! O mundo promete muito, mas
entrega pouco. Tudo passa, tudo cansa, tudo é vaidade.
2. “Buscai
as coisas do alto, onde está Cristo” (Cl 3,1)
Na segunda leitura, São Paulo nos oferece o
antídoto para essa vaidade que consome: viver como ressuscitados com Cristo.
Ele diz com clareza: "Vós morrestes e a vossa vida está escondida com
Cristo em Deus." E isso quer dizer que o verdadeiro sentido da nossa
vida não está neste mundo passageiro, mas no alto, em Deus.
Mas atenção: buscar as coisas do alto não
significa desprezar o mundo, fugir das responsabilidades ou negar as alegrias
da vida. Significa, sim, viver neste mundo com os olhos e o coração
voltados para Deus, buscando o que tem valor eterno: a justiça, a caridade, o
perdão, a comunhão, a solidariedade, o amor.
3. “Louco!
Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida” (Lc 12,20)
O Evangelho é direto e inquietante. Jesus
conta a parábola de um homem rico, que teve uma colheita tão grande que
precisou construir armazéns maiores. Ele achava que, com tanto acúmulo,
finalmente poderia descansar e dizer a si mesmo: “Tens uma boa reserva para
muitos anos: descansa, come, bebe, aproveita!” Mas Deus lhe diz: “Louco!
Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que
acumulaste?”
Essa parábola não condena o trabalho, nem o
planejamento ou o progresso material, mas sim a ilusão de que a vida
consiste apenas em acumular bens, como se fôssemos senhores do tempo e da
morte. Jesus termina com uma advertência clara: "Assim acontece com
quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus."
Aplicações
práticas para hoje:
Vivemos em uma cultura marcada pelo consumismo,
pela comparação constante e pela idolatria do sucesso. Quantas vezes
deixamos de cultivar os bens do espírito por causa da correria em busca do “ter
mais”?
Quantas famílias vivem divididas por heranças,
bens ou disputas de poder? Como o homem do evangelho, que chega a Jesus
pedindo: “Mestre, manda meu irmão repartir comigo a herança” — vemos o
quanto a ganância pode ferir até os laços mais sagrados.
Somos convidados hoje a fazer uma pergunta
séria: “Para quem estou vivendo? O que estou buscando? Qual é o sentido da
minha vida?”
Conclusão:
ser rico diante de Deus
Queridos irmãos, a liturgia de hoje nos chama
a uma conversão interior, a um desapego libertador, a um novo olhar sobre a
vida. Quem vive apenas para si, perde a si mesmo. Mas quem busca as coisas
do alto, encontra paz, sentido e plenitude.
Sejamos ricos não de coisas, mas de fé. Não
de aparências, mas de amor. Não de vaidades, mas de graça. Que a Eucaristia
que celebramos nos fortaleça nesse caminho. E que, como nos diz o Salmo,
saibamos contar os nossos dias e assim alcançar um coração sábio.
Amém.
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