quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Três Encontros de Jovens (Modelo dos Jesuítas)

 


OS AMIGOS

Disse a raposa ao Pequeno Príncipe: Só é possível conhecer aquilo que se cativa. As pessoas não têm mais tempo de se conhecerem. Elas compram as coisas prontas nas lojas, mas como não existe loja de amigos, as pessoas não têm mais amigos. Se você quiser uma amiga, cativa-me (A. Saint-Exupéry)

ABERTURA AO OUTRO

Um dos maiores tesouros que encontra- remos numa caminhada são os amigos. A proposta do silencio e da solidão da caminhada não impede que se façam amigos. Sto. Inácio de Loyola não quis levar ninguém consigo em sua caminhada à Jerusalém porque queria ter só a Deus por companhia. Na volta começou a buscar companheiros porque descobriu que, quanto mais se busca a Deus, no silencio interior, mais estamos preparados para acolher e ouvir as pessoas. Em peregrinações costuma ocorrer que quanto menor o grupo, mais necessidade se tem de partilhar com os companheiros. Isso porque o peregrino não é um solitário, mas alguém que tem o que dizer, alguém que tem uma experiência a ser compartilhada.

A origem do ambiente de companheirismo e de amizade que existe em peregrinações é a experiência de se sentir na mesma altura que o outro. Reconhecer no outro a mesma condição e a pertença a um mesmo espaço. O contrário disso é submissão ou dominação.

Estamos acostumados a uma sociedade de classes, de relações entre superiores e subordinados, de rivalidades e competitividades que nos custa reconhecermo-nos como iguais e peregrinos na mesma jornada dessa vida. A caminhada nos oferece essa chance de sermos não rivais, mas companheiros numa mesma situação. Numa autêntica caminhada não existem privilégios. Quando alguém precisa de ajuda, ali está o outro, mesmo que seja um desconhecido. E quando há uma aproximação, existe uma identificação de um com o outro e isso pode gerar uma grande amizade.

Uma pessoa autossuficiente está incapacitada para uma caminhada. Quem está cheio de si mesmo, não sabe escutar, nem ajudar, nem aceitar ajuda, nem expressar-se, pode até fazer uma boa caminhada, um bom esporte, mas não fez uma caminhada, pois perdeu o mais importante, que é a oportunidade de fazer uma experiência do outro.

QUEM ENCONTRA UM AMIGO ENCONTRA UM TESOURO

"O óleo perfumado alegra o coração, a doçura da amizade consola a alma. Não deixes teu amigo, nem o de teu pai, nem vás à casa de teu irmão no dia da aflição: mais vale um amigo próximo que um irmão afastado. (Pr. 27-10)

Pense em seus amigos. Quantas horas você gasta com eles? Como eles preenchem sua vida? Procure alguém que não conheça ainda muito bem e caminhe um pouco com ele, partilhando a experiência vivida até aqui.

 

 

 

O CAMINHO

Tomar a decisão de fazer uma caminhada supõe a opção de pôr-se em marcha: a partir deste momento você é um peregrino, alguém que, ainda que tenha uma meta (sabe para onde vai), sabe que somente a atingirá se Deus quiser. Enquanto isso, vive o provisório, confia na providência e na solidariedade dos outros.

 

POR-SE EM MARCHA

Todos nossos projetos nascem de uma decisão. As raízes dessas decisões podem ser muito diversas: conseguir um benefício pessoal, solucionar um problema, aprender algo novo, iniciar uma nova etapa da vida.... Da mesma maneira, os motivos pelos quais você decidiu fazer essa caminhada pode ser diferente dos motivos dos outros: alguns buscam poder refletir sobre a vida, outros, fazer amigos, muitos buscam uma aventura ou um passeio, outros querem dar graças a Deus por algo que aconteceu. Muitos fazem a caminhada por um voto ou para pagar uma promessa. Qual o seu motivo?

A todos, no entanto, se repete o chamado de Deus a Abraão: Sai da terra (Gn 12). Sair da terra é deixar as seguranças que se tem e confiar sempre no Senhor. É um chamado exigente porque não se pode. Caminhar e continuar em casa ao mesmo tempo. Para caminhar é preciso sair, deixar algo. Os que preferem continuar em casa e nunca deixar nada, não perdem suas seguranças, mas também não descobrem nada de novo.

Somente somos capazes de sair, ou de deixar algo, se for para buscar algo maior. Nesta 1 Caminhada inaciana você é convidado(a) a caminhar com o Senhor, buscando-o em cada passo da estrada. O objetivo não é o chegar, mas ser conduzido por Deus. Você deixou sua terra por uma tarde e esperamos que você faça a experiência de desprendimento e de confiança no Senhor.

 

SAI DA TUA TERRA

O Senhor disse a Abrão: "Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti." "Abrão partiu como o Senhor The tinha dito, e Lot foi com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos, quando partiu de Hară. Tomou Sarai, sua mulher, e Lot, filho de seu irmão, assim como todos os bens que possuíam e os escravos que tinham adquirido em Hara, e partiram para a terra de Canaã. (Gn 12, 1-5a).

Que coisas você tem que abandonar para "sair de sua terra"? Olhe para o caminho, contemple seu trajeto e pense consigo enquanto caminha: De onde saio e o que busco?

 

 

AS PEDRAS DO CAMINHO

O esforço de cada passo o leva a conhecer seus próprios limites. Não fazemos a caminhada que queremos e sim a que podemos. Caminhando descobrimos nossa indigência radical. Não somos máquinas, mas pessoas com capacidades reduzidas.

 

ACEITAR SEUS LIMITES

Muitos se perguntam se serão capazes de chegar ao topo do morro. A maior parte das vezes o que preocupa é a preparação física, mas o segredo para conseguir a meta desejada é o interior de cada um: quem tem força interior, chega. Não podemos encarar a caminhada como uma versão caminhante da "São Silvestre". Não se deve pensar em recordes, velocidade ou competição. Quem pensa e age assim dá as costas ao espírito da caminhada e não aproveita seus frutos. Também não devemos sentir inveja uns dos outros por alguém caminhar mais rápido, ou ter menos dificuldades que outros. Na caminhada cada um tem seu ritmo e suas dificuldades próprias e é preciso aprender com elas.

Essas dificuldades são como as pedras do caminho, isto é, tudo o que desanima e dificulta a caminhada. Muitas pedras são existentes e outras nós mesmos vamos colocando, das quais a principal é o medo.

O importante diante das dificuldades é que vamos nos conhecendo em nossas limitações, vamos aprendendo a necessitar dos outros e aprendendo que não somos onipotentes independentes. Todos e necessitamos de ajuda para superar nossas próprias limitações.

Numa caminhada se sofre. Não é o objetivo, nem o que pretendemos, mas o sofrimento é parte de sua lógica, da mesma forma como está presente na vida. As dificuldades nos ensinam a descobrir nosso próprio ritmo e a valorizar a prudência, a humildade e a ajuda dos outros. Ao mesmo tempo nos revelam aquilo que somos realmente capazes. A superação das pedras dá um sabor especial à chegada, mas também nos torna mais humildes ao saber que não realizamos nossa tarefa sozinhos, mas tivemos que confiar em outros e sobretudo confiamos na ajuda e providência de Deus.

 

CONFIAR EM DEUS

30Os jovens se fatigam e cansam, os moços chegam a tropeçar, 31mas os que confiam no Senhor se revigoram e criam asas como águias, correm sem cansaço e caminham sem fatiga. (Is 40, 30-31)

Quais são os maus momentos que você já teve que superar em sua vida? Você se lembra que coisas ou pessoas te ajudaram?

Você é capaz de conversar com seus amigos/as sobre suas dificuldades? Se sente ajudado e apoiado ao revelar-se com problemas?

Você é capaz de rezar e confiar seus problemas a Deus?

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