Meus irmãos e minhas irmãs em Cristo, a liturgia deste trigésimo Domingo
do Tempo Comum nos convida a um profundo exame de consciência sobre a nossa
postura diante de Deus. As leituras de hoje, especialmente o Evangelho de
Lucas, nos apresentam um contraste claro entre duas formas de se apresentar a
Deus: a soberba autojustificação e a humilde súplica.
1.O Perigo da Autojustificação
O Evangelho (Lc 18, 9-14) nos conta a Parábola do Fariseu e do
Publicano. O Fariseu entra no Templo e, em sua oração, faz uma longa lista de
suas boas obras: ele é observante, justo, casto e, o mais grave, ele se compara
favoravelmente com os outros, dizendo: "Eu não sou como este
publicano!"
Esta é a armadilha da soberba. O Fariseu não está rezando para Deus; ele está rezando para si
mesmo, como um auditório para a sua própria virtude. Ele se esquece
de que tudo o que possui – a justiça, a observância – é, em última análise, um presente, uma graça. Ele se esquece da verdade que o
Eclesiástico nos recorda: "O Senhor é o que ouve a súplica do
oprimido e não a despreza" (Eclo 35,18 - a passagem que antecede a
leitura oficial).
A humildade, meus irmãos, não é fingimento de fraqueza; é a verdade sobre a nossa condição diante da infinita
santidade de Deus.
2.A Oração que Agarra a Graça: A Voz do Pobre
Em contraste, temos o Publicano. Ele não ousava levantar os olhos ao
céu. Ele batia no peito, um sinal universal de dor e arrependimento sincero. A
sua oração é curta, mas é a oração mais poderosa que um ser humano pode
oferecer: “Ó Deus, tem piedade de mim, pecador!”
Esta não é a oração de quem merece; é a oração de quem precisa. É a oração do pobre de espírito, daquele que
reconhece a sua dívida e a sua incapacidade de se salvar por mérito próprio.
Ele se coloca exatamente no lugar que o Senhor espera: dependente da
Misericórdia.
Jesus encerra a parábola com a sentença definitiva: “Eu vos digo que este desceu justificado para casa, e não aquele.”
Justificado. A palavra que significa "declarado justo" por Deus. A
justificação não veio das obras do Fariseu, mas da humildade e da súplica do Publicano. O Senhor não despreza a oração do
pobre, Ele a acolhe, pois nela reconhecemos a nossa total dependência d’Ele.
3.Olhando para o Encontro Definitivo com Deus
Esta dinâmica de humildade e dependência nos prepara para o nosso encontro definitivo com o Senhor, sobre o qual nos fala
São Paulo na sua segunda carta a Timóteo (2Tm 4,6-8).
Paulo está no fim da sua jornada. Ele não se vangloria das suas
conversões ou dos seus milagres. Pelo contrário, ele diz: "Eu já estou sendo oferecido em libação, e a hora da minha
partida está próxima. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a
fé."
Paulo resume a sua vida não como um Fariseu contando méritos, mas como
um servo fiel que gastou tudo o que tinha por amor ao Mestre. O seu foco não
está no que ele fez, mas no que o Senhor lhe reservou: "a coroa da justiça".
A coroa de Paulo não foi conquistada com altivez, mas através da
fidelidade na luta e na aceitação da dor (a libação/oferenda). O nosso encontro
final com Cristo será marcado por esta mesma pergunta: Você lutou? Você
guardou a fé? E, fundamentalmente, você se apresentou a Ele com a
verdade da sua alma?
Se nos apresentamos com a presunção de mérito, como o Fariseu, corremos
o risco de não receber nada. Se nos apresentamos com a humildade do Publicano,
reconhecendo a nossa necessidade de perdão e de graça, encontramos o caminho
para a justificação, o mesmo caminho que levou Paulo à sua recompensa.
4.Conclusão e Exortação
Irmãos e irmãs, que a celebração desta Missa seja para nós um ato de
purificação.
- Pratiquemos
a Humildade: Olhemos para a nossa vida e reconheçamos que toda a nossa força, união,
trabalho, virtude são dádivas que requerem gratidão e serviço, e não
arrogância.
- Reaprendamos
a Oração do Pobre: Nos momentos de luta, de dúvida ou de pecado, abandonemos a
autosuficiência e voltamo-nos para o altar com o coração do Publicano:
"Deus, tem piedade de mim!"
Se vivermos assim, com a humildade que nos torna capazes de receber a
Graça, podemos, com São Paulo, aguardar com confiança o dia em que ouviremos a
voz do Senhor dizer: "Vem, bom e fiel servo! Recebe a coroa que te
estava reservada." Amém.

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