Concelebração com o Pe. Marcelo, CM no ponto de apoio do Clube de Futebol Remo |
Uma experiência de fé, religiosidade popular que permeia toda
cultura de uma cidade, ou até de um Estado da Federação. Belém no Pará é todo
Círio, todo o ano, mas especialmente em outubro, quando os populares e
visitantes do Brasil e do mundo acorrem à Cidade das Mangueiras para viver na
pele, no espírito e na alma, toda a mística que envolve o Círio de Nossa
Senhora de Nazaré. Em 2024 eu tive a alegria de participar do círio, uma
experiência que ficará marcada em meu coração por toda a minha vida.
Caminhos que levam à cidade de Belém
A maior do Brasil: O Círio de Nazaré é considerada a maior procissão católica do
Brasil e a terceira, do mundo, com quase 2 milhões de fiéis. Em 2023, a festa
foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações
Unidas. Em segundo lugar vem a procissão da Virgem de Zapopan no Estado de
Jalisco (México), com mais de 2 milhões de pessoas, e em primeiro lugar a
procissão do Nazareno Negro na cidade de Manila (Filipinas) com uns 5 milhões
de peregrinos. A palavra "círio" vem do latim cereus, que
significa "vela grande". Inicialmente, a procissão do Círio de Nazaré
era realizada à noite, por isso o uso das velas ou círios. Hoje, as velas são
símbolos da fé dos promesseiros, que são os pagadores de promessas.
Transladação: Missa e Caminhada na noite que antecede o Círio
Um pouco de história: Tudo começou por volta de 1700, quando um morador de Belém,
Plácido, encontrou a imagem de Nossa Senhora de Nazaré em meio à mata. O achado
rapidamente atraiu devotos, e em 1793 foi realizada a primeira grande
procissão, que partiu do santuário em direção ao Palácio do Governo. Hoje, o
Círio de Nazaré é uma das maiores manifestações religiosas do Brasil, reunindo
milhões de fiéis em outubro.
Fluvial e Círio com diferentes membros da Família Vicentina e do Clero
O Manto de N. Sra. de Nazaré: Há quem diga que a imagem de Nossa
Senhora de Nazaré foi encontrada sem manto, enquanto outros relatos falam de um
tecido azul brilhante. Polêmicas à parte, o manto se tornou um dos símbolos
mais aguardados a cada ano. Nomes como irmã Alexandra, da Congregação Filhas de
Sant'Ana, e Esther Paes França, ex-aluna do Colégio Gentil Bittencourt, que fez
19 mantos que marcaram a história dessa tradição, hoje uma responsabilidade de
estilistas, homens e mulheres, contratados pela Basílica.
Manto 2024, que servirá de base para o cartaz e camisetas do Círio de 2025
Gastronomia do Círio: A culinária do Círio é um dos maiores símbolos da festa
religiosa em Belém. O tucupi, de origem indígena, acompanha um dos pratos mais
esperados almoço do Círio, uma tradição que atravessa gerações e carrega a
essência da cultura local desde o século XIX. Outras iguarias que não podem
faltar na mesa: maniçoba e farinha de mandioca.
Comidas, Círio Profano e Círio de Nazaré. Acima a paróquia São Raimundo Nonato. Nesta época o movimento nas paróquias cai, Tudo é Círio: Catedral e Basílica de Nazaré
Memória de Nazaré: O espaço Memória de Nazaré, no complexo da Basílica
Santuário, guarda um acervo que conta a história de uma das maiores
manifestação de fé católica do mundo. São centenas de objetos carregados de
histórias, como réplicas de casas e barcos, que expressam a gratidão dos fiéis.
Após o Círio, muitos desses objetos carregados durante a procissão são
selecionados para integrar o acervo do museu, mantido por monitores que também
explicam os ícones da festa, como a corda e a berlinda, aos visitantes.
Santa Maria de Belém é a padroeira da Cidade de Belém. Missas e festas!
A Berlinda e a Corda: A berlinda do Círio de Nazaré é uma caixa de vidro e madeira onde é transportada a imagem de Nossa Senhora de Nazaré durante a procissão. Atualmente, a berlinda é colocada sobre um carro com pneus e puxada por uma corda conduzida por devotos. Ela começou a ser utilizada em 1855, substituindo o palanquim, uma carruagem puxada por cavalos ou bois. Em 1880, o Bispo Dom Macedo Costa fez uma berlinda para levar a imagem sozinha, logo (1926), a berlinda foi transformada em andor. A berlinda atual foi confeccionada, em 1964, pelo escultor João Pinto e é esculpida em cedro-vermelho. A corda também é um dos símbolos da festa religiosa e é utilizada nas procissões do Círio e da Trasladação. A corda é feita de fibras vegetais, como o sisal, a malva e a juta, e tem 800 metros de comprimento e 50 milímetros de diâmetro. A corda é dividida em duas partes iguais de 400 metros. Durante a procissão a mesma é atrelada a estruturas metálicas chamadas de estações (cinco), que conectam a corda em um sistema de aros e ganchos. No início de cada uma das estações colocam-se os Evangelizadores da Corda que estimulam os promesseiros com orações, cânticos e palavras de ordem. Pegar um pedaço da corda é considerado um troféu e um reconhecimento da promessa paga naquele ano. Ainda que para e evitar que a corda seja cortada antes do fim da procissão pelos promesseiros, são realizadas campanhas de conscientização pelos Barnabitas, responsáveis pela Basílica de Nazaré.
Túmulo de Dom Vicente Joaquim Zico, CM em destaque na Catedral de Belém por sua fama de santidade |
Catedral de Belém |
Impressões pessoais: Durante a passagem da berlinda, um misto de emoção, fé e
devoção invade os fiéis que rezam à Virgem, o mar de mãos é incrível, como que
querendo tocar aquela que é toda cheia da Graça de Deus. O recorrido principal:
Translado e Círio, percorre as vias: Av. N. Sra. de Nazaré, Av. Presidente
Vargas, Blvd. Castilhos França, Av. Portugal e R. Padre Champagnat,
especialmente ornamentadas com palanques e galpões disputado por populares e
famosos (cantores, atores e políticos), que cantam em louvor a Mãe de Deus e
Nossa - Escute as canções no site. Aos promesseiros ou aos demais
fiéis que seguem a procissão são ofertados pelos voluntários água e ânimo, em
uma cidade de clima normalmente abafado e quente. A cada passo da caminhada se
vê confetes, fogos de artifícios e vivas à Senhora da Berlinda.
Muitos foram os momentos especiais vividos por mim neste
círio: a acolhida dos meus amigos e também dos coirmãos da Congregação da
Missão; caminhar ao lado de Nossa Senhora de Nazaré na berlinda com os irmãos
no presbitério; segurar e conseguir quatro pedaços da corda que levei aos meus
coirmãos de comunidade em Belo Horizonte e concelebrar com o Pe. Régis Teles,
CM para a Família Vicentina que esteve presente no Fluvial em um barco de
quatro andares portando um público de mais de mil fiéis.
Estando ali você percebe como a festa é múltipla. Há o Círio
Profano, com desfile de artistas locais, caracterizados de personagens reais ou
fictícios: o Auto do Círio. No barco que estive, tinha quatro andares; se no
“térreo” a programação era católica, com missa e músicas religiosas, nos
andares um, dois e três ouvia-se MPB, Caribó&Calypso e Pop Rock,
respectivamente. Os evangélicos, espíritas e membros de religiões de matriz
africana também não ficam de fora da força do Círio, ajudando para que os
peregrinos estejam alimentados e hidratados.
Concelebrei com o Pe. Régis Teles, CM no barco da Família Vicentina |
Que Nossa Senhora de Nazaré continue abençoando o amado povo
paraense e que o louvor a Deus e a Jesus Cristo, dado por meio de Maria de
Nazaré, continue animando, fortalecendo e trazendo vida a todos os devotos de
Nossa Senhora!
Os seguranças da Guarda, o mar de mãos, os balcões e a alegria de acompanhar a passagem de Nossa Senhora de Nazaré. |