sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Missão do Japão 14/09/2025: 24º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Jo 3,13-17) Homilia



Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

A liturgia deste domingo nos coloca diante do mistério da Cruz: um mistério de amor que se abaixa, serve e se entrega totalmente para salvar toda a humanidade. É este o coração da nossa fé: o Filho do Homem foi levantado na cruz para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna (Jo 3,15).

Na primeira leitura (Nm 21,4b-9), o povo de Israel, cansado e impaciente no deserto, murmura contra Deus e contra Moisés. Como consequência, surgem serpentes venenosas que trazem morte. Mas Deus, em sua misericórdia, oferece um sinal de salvação: uma serpente de bronze levantada num poste. Quem a olhasse com fé, era curado. Esse episódio prefigura o que aconteceria na cruz: Jesus, elevado do chão, se tornaria o novo sinal de salvação para todos os que olharem para Ele com fé.

Na segunda leitura (Fl 2,6-11), São Paulo canta o grande hino da humildade de Cristo: “Ele, sendo de condição divina, não se apegou à sua igualdade com Deus, mas esvaziou-se, assumindo a condição de servo... humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Aqui está o núcleo do Evangelho: Deus se abaixa para nos levantar. A glória de Jesus não está no poder que domina, mas no amor que serve até o fim. Por isso Deus o exaltou e lhe deu o Nome que está acima de todo nome.

E no Evangelho (Jo 3,13-17), Jesus diz a Nicodemos: “Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna”. A cruz, que era instrumento de tortura, tornou-se o trono da misericórdia. O Pai não enviou o Filho para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.

Queridos irmãos, a cruz de Cristo nos ensina três caminhos fundamentais para a nossa vida cristã:

  1. Humildade: Jesus se abaixa, renuncia a todo prestígio, e se faz um de nós. Quem contempla a cruz não pode continuar vivendo no orgulho. Somos chamados a descer também: a reconhecer nossa pequenez e nossa necessidade de Deus.

  2. Serviço: Jesus não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida. A cruz nos convida a amar de forma concreta, gastando nossas forças em favor dos irmãos, sobretudo dos mais pobres e esquecidos.

  3. Entrega confiante: na cruz, Jesus coloca sua vida inteiramente nas mãos do Pai. Também nós somos chamados a confiar que nossas dores, quando unidas à cruz, se transformam em vida nova.

A cruz é, portanto, um sinal universal de salvação: nela Jesus abre os braços para acolher todos os povos, sem distinção de raça, cultura ou condição social. Diante dela, não há privilégios nem exclusões: há apenas filhos e filhas amados, salvos pelo sangue do Cordeiro.

Celebrar este domingo é deixar-nos transformar por esse amor que se faz humilde, servo e entregue. Que ao contemplarmos a cruz, não a vejamos como derrota, mas como vitória: a vitória do amor que salva e reconcilia o mundo.

Que o Senhor Crucificado e Glorioso nos dê a graça de viver com humildade, servir com generosidade e entregar nossa vida por amor, para que também nós sejamos sinais de salvação no mundo.

Amém.

sábado, 6 de setembro de 2025

Missão do Japão 07/09/2025: 23º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 14,25-33) Homilia


 

Homilia: O Custo do Discipulado

Caros irmãos e irmãs em Cristo,

A liturgia da Palavra deste 23º Domingo do Tempo Comum nos coloca diante de uma verdade desafiadora e, talvez, desconfortável: o seguimento de Jesus tem um custo. Não é um caminho fácil, nem um passeio tranquilo. É uma jornada que exige de nós uma decisão radical, uma renúncia, um "deixar tudo" por amor a Ele.

Na primeira leitura, do livro da Sabedoria, somos convidados a refletir sobre a nossa capacidade de compreender a vontade de Deus. O autor sagrado nos diz que "o que está no céu, quem pode perscrutar? E o que vós quereis, quem pode conhecer, se vós não lhes derdes a Sabedoria?" (Sb 9, 13-14). A sabedoria de que fala o texto não é a inteligência humana, mas sim o dom do Espírito Santo que nos permite enxergar o mundo e a nossa vida com os olhos de Deus. É essa sabedoria que nos capacita a discernir e a abraçar a proposta de Jesus.

A segunda leitura, da carta de São Paulo a Filêmon, nos apresenta um exemplo concreto de renúncia e de perdão. Paulo pede a Filêmon que receba Onésimo, um escravo fugitivo, não mais como escravo, mas como um irmão muito amado. Paulo, que está preso, renuncia ao seu próprio direito e se coloca no lugar de Onésimo, pedindo a Filêmon que "receba-o como se fosse a mim mesmo" (Fm 12,17). É um ato de amor radical, de identificação com o outro, de esvaziamento de si. Paulo nos mostra que a renúncia de que fala Jesus não é uma negação de nós mesmos, mas uma entrega, um "dar-se" por amor aos outros.

O evangelho de Lucas é o ápice desta reflexão. Jesus fala abertamente sobre o que é preciso para ser seu discípulo: "Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo" (Lc 14, 26). A palavra "odiar" usada por Jesus, em grego, tem um sentido hiperbólico. Não significa um sentimento de aversão, mas sim uma prioridade absoluta. Jesus nos diz que, para segui-lo, Ele precisa ser o primeiro, o mais importante de tudo em nossa vida, acima de qualquer laço familiar, amizade ou até mesmo da nossa própria vontade.

A seguir, Jesus nos convida a "tomar a sua cruz e segui-lo" e a "renunciar a todos os bens" (Lc 14, 27.33). Ele nos coloca diante de um desafio: o de calcular o custo. Ele usa a imagem de quem quer construir uma torre ou de um rei que vai para a guerra. É preciso planejamento, é preciso saber se temos os recursos necessários para a empreitada. No nosso caso, o recurso principal é a nossa total entrega a Ele.

O que significa "renunciar a todos os bens"?

A renúncia de que fala Jesus não é uma negação do mundo, mas uma priorização. Não se trata de abandonar nossos bens, nossa família, nossa vida, mas de colocá-los sob a perspectiva de Cristo. Ele deve ser o centro de tudo. A renúncia não é um fim em si mesma, mas um meio para um fim maior: a plena comunhão com Deus.

Quando Jesus nos pede para renunciar a tudo, Ele não está pedindo para que vivamos na miséria ou que sejamos insensíveis aos nossos familiares. Pelo contrário, Ele nos convida a nos libertarmos das amarras que nos impedem de amá-lo e de amar o próximo de forma genuína e desinteressada.

A renúncia é um ato de liberdade. É dizer "sim" a Jesus, mas para isso, é preciso ter a coragem de dizer "não" a tudo que nos afasta d'Ele. É ter a sabedoria de que fala o livro da Sabedoria: a sabedoria que nos permite discernir e escolher o que realmente importa.

O desafio de hoje

Neste 23º Domingo do Tempo Comum, somos convidados a olhar para a nossa própria vida e a nos perguntarmos: O que ocupa o primeiro lugar no meu coração? A quem eu estou servindo? Minha vida é um reflexo do Evangelho ou das lógicas do mundo?

Que a Virgem Maria, a primeira e a mais perfeita discípula, nos ajude a abraçar a cruz de Cristo, a renunciar a tudo que nos impede de segui-lo e a caminhar com coragem na construção do Reino de Deus. Amém.

sábado, 30 de agosto de 2025

Missão do Japão 31/08/2025: 22º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 14,1.7-14) Homilia



Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

As leituras deste domingo nos convidam a refletir sobre a humildade, a confiança em Deus e a verdadeira alegria que nasce quando aprendemos de Jesus a viver de forma simples e desprendida.

O livro do Eclesiástico nos recorda: “Quanto mais importante fores, mais te humilha e encontrarás graça diante do Senhor” (Eclo 3,19). Essa sabedoria nos lembra que o caminho da vida cristã não é o da exaltação pessoal, mas o do serviço humilde. É nesse espírito que queremos também olhar hoje para a vocação do catequista: homens e mulheres que, com simplicidade, colocam sua vida a serviço da formação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos. O catequista não é alguém que “se coloca à mesa principal”, mas que serve, que se abaixa, que escuta, que caminha junto.

A Carta aos Hebreus, por sua vez, nos faz enxergar que não fomos chamados para uma experiência de medo ou de angústia, mas para a comunhão com Deus no Cristo vivo. A fé não é peso, nem motivo de ansiedade; é encontro com Aquele que nos acolhe na “assembleia dos primogênitos” (Hb 12,23). Quantas vezes, no mundo de hoje, vivemos angustiados, ansiosos, tentando conquistar lugares de destaque, reconhecimento ou segurança que nunca parecem suficientes! Mas a fé nos recorda que nosso lugar verdadeiro já está garantido: é junto de Deus, que nos chama filhos.

O Evangelho de Lucas nos mostra Jesus diante de um banquete. Ele observa como todos querem os primeiros lugares. E, com sabedoria, ensina: “Quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar” (Lc 14,10). E mais ainda: “Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos” (Lc 14,13). É a lógica do Reino: não buscar a própria glória, mas servir e abrir espaço para os que não têm lugar.

Aqui encontramos também uma luz para nossa vida interior. A ansiedade que tantas vezes carregamos nasce, em grande parte, do medo de não ter lugar, de não sermos reconhecidos, de não sermos amados. Jesus nos liberta disso: Ele nos mostra que nosso valor não depende de aplausos ou de posições sociais, mas do amor gratuito do Pai. Aprender com Jesus é o caminho para curar a ansiedade. Nele, podemos descansar, porque Ele nos garante: “Quem se humilha será exaltado”.

O catequista, nesse sentido, é chamado a ser testemunha viva dessa paz em Cristo. Não é apenas alguém que ensina doutrina, mas alguém que mostra, com a própria vida, que seguir Jesus é aprender a confiar, a caminhar sem medo, a colocar tudo nas mãos de Deus. O catequista ajuda os irmãos a compreender que a fé não aumenta a ansiedade, mas a cura, porque nos dá uma certeza: Deus caminha conosco.

Por isso, queridos irmãos, neste domingo, a Palavra nos convida a três atitudes:

  1. Humildade – Reconhecer que não precisamos ocupar os primeiros lugares, porque o nosso lugar já está no coração de Deus.
  2. Confiança – Deixar que a fé cure nossa ansiedade, lembrando que não precisamos controlar tudo, pois Deus cuida de nós.
  3. Serviço – Como catequistas e discípulos, escolher o último lugar para dar lugar aos outros, especialmente aos mais pobres e esquecidos.

Que esta Eucaristia nos ajude a redescobrir a beleza da vocação de servir e de ensinar na humildade. Que cada catequista aqui presente se sinta fortalecido na missão de transmitir não apenas palavras, mas a paz de Jesus que acalma o coração ansioso. E que todos nós possamos aprender com Cristo a viver com simplicidade, confiando que quem se humilha será exaltado no Reino dos Céus.

Amém.

sábado, 23 de agosto de 2025

Missão do Japão 24/08/2025: 21º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 13,22-30) Homilia

 


Queridos irmãos e irmãs,

As leituras deste domingo nos colocam diante de duas grandes imagens: a universalidade da salvação, que Deus deseja estender a todos os povos, e a porta estreita, que exige esforço e fidelidade para ser atravessada. Essas duas imagens iluminam de maneira muito especial a nossa vocação como discípulos de Jesus, e hoje quero convidar a refletirmos sobre a vocação laical, tão essencial para a vida da Igreja.

No livro do profeta Isaías (Is 66,18-21), o Senhor anuncia que reunirá todas as nações e línguas, e que todos verão a sua glória. É uma visão de esperança: ninguém está excluído do convite de Deus. O próprio Senhor suscita missionários, pessoas comuns, vindas de diferentes povos, que serão enviados para anunciar sua glória até os confins da terra. Aqui já vemos que a missão não é privilégio apenas de alguns, mas é tarefa de todos os batizados. Cada leigo e leiga, com sua vida, é chamado a ser sinal da presença de Deus no mundo.

A carta aos Hebreus (Hb 12,5-7.11-13) nos recorda que seguir Jesus não é caminho de facilidades. É um caminho que exige disciplina, perseverança e confiança no Pai que nos corrige por amor. Para o leigo e para a leiga, isso se concretiza na fidelidade no cotidiano: no trabalho, na família, no estudo, no cuidado com os filhos, na honestidade diante das tentações da corrupção, na solidariedade diante das necessidades dos mais pobres. É ali, na vida comum, que se passa pela porta estreita.

E no evangelho (Lc 13,22-30), Jesus nos alerta que entrar no Reino não depende apenas de palavras ou de aparência de religiosidade. Muitos dirão: “Comemos e bebemos contigo, e tu ensinaste em nossas praças”. Mas Jesus responde: “Não sei de onde sois”. O que decide é o compromisso real com a vida nova do Evangelho. A porta é estreita porque exige coerência, conversão, amor que se traduz em atitudes.

Irmãos e irmãs, essa mensagem fala diretamente da vocação laical. A Igreja não é feita só de padres, religiosos ou bispos. O Concílio Vaticano II nos lembrou que a maior parte da Igreja é formada pelos leigos e leigas, e que sua missão é “consagrar o mundo a Deus a partir de dentro”. São vocês, leigos e leigas, que estão no coração das realidades humanas — na política, na economia, na educação, na cultura, na saúde, na vida das famílias — e que ali podem testemunhar Cristo, sendo sal, luz e fermento.

A porta estreita, para o leigo, não está em deixar o mundo, mas em viver o mundo segundo o Evangelho. É ser empresário com honestidade, trabalhador com dignidade, estudante com dedicação, mãe e pai com amor generoso, jovem que não se deixa seduzir pelas falsas promessas de sucesso fácil, idoso que transmite a fé com sabedoria. A santidade laical não está em fazer coisas extraordinárias, mas em viver com fidelidade as pequenas coisas de cada dia, unidas a Cristo.

Queridos irmãos, se a Igreja deseja ser realmente missionária, deve valorizar e formar cada vez mais os seus leigos e leigas. Vocês não são meros ajudantes do padre, mas protagonistas da missão. Como ouvimos em Isaías, Deus envia “a uns como sacerdotes e levitas”, mas envia a todos, em sua diversidade, como missionários do Reino.

Peçamos hoje ao Senhor a graça de sermos fiéis à nossa vocação batismal. Que os leigos e leigas, fortalecidos pela Eucaristia, iluminem com o Evangelho os espaços onde os padres e religiosos não conseguem chegar. E que, juntos, possamos atravessar a porta estreita, confiando que Aquele que nos chama é também Aquele que nos sustenta.

Amém.

sábado, 16 de agosto de 2025

Missão do Japão 10/08/2025: 19º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 12,49-53) Homilia



Queridos irmãos e irmãs,

Hoje a Palavra de Deus nos fala de algo que, à primeira vista, pode soar duro: o conflito, a divisão, a cruz. Jesus nos diz: “Eu vim trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49). O fogo de Cristo não é destruição, mas é purificação, é ardor de amor, é luz que desinstala. Esse fogo incomoda, porque queima o que é falso, ilumina o que está escondido e exige de nós decisões.

Na primeira leitura, vemos o profeta Jeremias sendo perseguido porque anunciava a verdade de Deus. Jogaram-no dentro de uma cisterna, onde poderia morrer, mas ele permaneceu fiel à sua missão. Jeremias nos ensina que seguir a vontade de Deus nem sempre traz aplausos: às vezes traz incompreensão, rejeição e até perseguição.

A carta aos Hebreus nos convida a olhar para Jesus, que enfrentou a cruz sem desistir, e a correr com perseverança a corrida da fé. É como se dissesse a nós: “Não desanimem, mesmo quando vierem as dificuldades. Lembrem-se de Cristo, que suportou tudo por amor a vocês”.

O Evangelho vai além: Jesus nos adverte que sua presença provoca escolhas e, por isso, divisões. Não se trata de um Jesus que deseja briga nas famílias, mas de um Jesus que nos obriga a decidir: ou seguimos o caminho do amor, da justiça e da verdade, ou preferimos a comodidade, a mentira e o egoísmo. Essa escolha muitas vezes gera conflitos até dentro de casa, porque nem todos aceitam viver de acordo com o Evangelho.

Queridos irmãos, sei que muitos de vocês aqui, vivendo no Japão, conhecem bem o que é esse conflito interior:

  • de um lado, a luta pelo sustento, pelo trabalho, pela adaptação a uma cultura diferente;
  • de outro, o desejo de manter a fé, as raízes, os valores que aprendemos no Brasil e que sustentam nossa vida.

Às vezes, a fé católica pode ser motivo de divisão até dentro da própria família ou com amigos: alguns não entendem por que ainda vamos à missa, por que ensinamos os filhos a rezar, por que preferimos a simplicidade do Evangelho a tantos valores consumistas da sociedade. Mas Jesus nos diz hoje: “Não tenham medo de assumir a verdade, mesmo que cause divisão. O fogo do amor de Deus vale mais do que qualquer aprovação humana.”

Assim como Jeremias não desistiu, mesmo no fundo da cisterna, e como Jesus não voltou atrás diante da cruz, também nós somos chamados a viver firmes na fé. A nossa missão, aqui no Japão, é ser testemunhas desse fogo do amor de Cristo, mesmo em meio a desafios e incompreensões.

Peçamos a Maria, nossa Mãe, que também enfrentou muitas incompreensões, que nos ajude a guardar a fé com coragem. Que possamos ser luz para nossos filhos, esperança para os irmãos que sofrem e testemunho de um cristianismo vivo, que não se envergonha do Evangelho.

Amém.

sábado, 9 de agosto de 2025

Missão do Japão 10/08/2025: 19º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 12,32-48) Homilia



Queridos irmãos e irmãs,

A Palavra de Deus deste domingo nos convida a colocar o nosso coração onde está o verdadeiro tesouro. E, ao contrário do que o mundo nos oferece, esse tesouro não é ouro, não é fama, não é poder. É a confiança em Deus — confiança que gera paz, que dá sentido à vida e que nos move a colaborar com o Reino.

Na primeira leitura (Sb 18,6-9), o autor recorda a noite da libertação do povo de Israel. Antes mesmo de verem o milagre, eles já acreditavam. A confiança os fez vigiar e estar prontos, porque sabiam que Deus é fiel às suas promessas. É a mesma confiança que hoje Deus nos pede: a certeza de que, mesmo quando a noite parece longa, a sua salvação virá.

Na segunda leitura (Hb 11,1-2.8-19), ouvimos a belíssima definição de fé: "Fé é o fundamento da esperança, é a certeza a respeito do que não se vê". Abraão é apresentado como o modelo dessa confiança. Ele deixou a sua terra sem saber para onde ia. Ele se manteve fiel mesmo quando tudo parecia impossível — até entregar Isaac, confiando que Deus poderia restituí-lo. Essa fé não é passiva, mas uma confiança que age, que caminha, que arrisca porque sabe em quem colocou sua esperança.

No Evangelho (Lc 12,32-48), Jesus começa com palavras de imensa ternura: "Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino". Aqui está o centro: nosso maior tesouro é o próprio Reino de Deus, e ele já nos foi dado como dom. Mas, se já é dom, também é tarefa: Jesus nos pede vigilância e prontidão. Ele nos chama a estar com a cintura cingida e as lâmpadas acesas, como servos que esperam seu Senhor chegar para poder abrir-lhe a porta sem demora.

E aqui está o equilíbrio: de um lado, confiamos plenamente no amor do Pai, sem medo; de outro, trabalhamos com empenho, como administradores fiéis que cuidam da casa, porque um dia o Senhor nos pedirá contas. A confiança verdadeira não nos deixa acomodados, mas nos torna responsáveis.

O desafio para nós hoje é este:

  • Onde está o nosso tesouro? Em coisas que passam ou naquilo que permanece para a vida eterna?
  • Vivemos confiando que o Reino já está em nossas mãos ou deixamos o medo nos paralisar?
  • Estamos apenas esperando passivamente ou colaborando ativamente para que o Reino cresça?

Confiar em Deus é libertador, porque nos tira da lógica da ansiedade e da ganância. Mas também é desafiador, porque nos obriga a colocar os pés no caminho e as mãos na obra. O verdadeiro discípulo não é só aquele que espera, mas aquele que vigia trabalhando.

Peçamos hoje ao Senhor que nos dê a mesma confiança de Abraão, a mesma vigilância dos servos fiéis, e que possamos, quando Ele chegar, ser encontrados cuidando da sua obra com amor e generosidade.

Assim, quando o Mestre vier, não será para nos surpreender, mas para nos acolher e nos sentar à sua mesa, porque reconheceu em nós administradores dignos de confiança.

Amém.


sábado, 2 de agosto de 2025

Missão do Japão 03/08/2025: 18º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 12,13-21) Homilia



“Vaidade das vaidades: buscai as coisas do alto”

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Neste 18º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus nos confronta com três grandes tentações que atravessam a existência humana: a vaidade, a ganância e o apego excessivo às coisas deste mundo. Mas, ao mesmo tempo, nos oferece um caminho libertador: o esforço por buscar as coisas do alto, onde está Cristo.

1. “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Ecl 1,2)

Assim começa a primeira leitura, com palavras duras e provocantes. O autor do Eclesiastes — chamado “Qohélet” — nos fala da frustração de quem investe toda sua energia nas obras da terra, mas não encontra nelas um sentido duradouro. Ele diz: "Mesmo à noite o seu coração não repousa." Ou seja, quem vive apenas correndo atrás de resultados, poder, prazer ou acúmulo de bens, vive inquieto, insatisfeito e, no fim, frustrado.

Quantas pessoas hoje vivem mergulhadas no ativismo, na competição, nos títulos, nas aparências, nos seguidores de redes sociais... mas se sentem vazias por dentro! O mundo promete muito, mas entrega pouco. Tudo passa, tudo cansa, tudo é vaidade.

2. “Buscai as coisas do alto, onde está Cristo” (Cl 3,1)

Na segunda leitura, São Paulo nos oferece o antídoto para essa vaidade que consome: viver como ressuscitados com Cristo. Ele diz com clareza: "Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus." E isso quer dizer que o verdadeiro sentido da nossa vida não está neste mundo passageiro, mas no alto, em Deus.

Mas atenção: buscar as coisas do alto não significa desprezar o mundo, fugir das responsabilidades ou negar as alegrias da vida. Significa, sim, viver neste mundo com os olhos e o coração voltados para Deus, buscando o que tem valor eterno: a justiça, a caridade, o perdão, a comunhão, a solidariedade, o amor.

3. “Louco! Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida” (Lc 12,20)

O Evangelho é direto e inquietante. Jesus conta a parábola de um homem rico, que teve uma colheita tão grande que precisou construir armazéns maiores. Ele achava que, com tanto acúmulo, finalmente poderia descansar e dizer a si mesmo: “Tens uma boa reserva para muitos anos: descansa, come, bebe, aproveita!” Mas Deus lhe diz: “Louco! Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que acumulaste?

Essa parábola não condena o trabalho, nem o planejamento ou o progresso material, mas sim a ilusão de que a vida consiste apenas em acumular bens, como se fôssemos senhores do tempo e da morte. Jesus termina com uma advertência clara: "Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus."

Aplicações práticas para hoje:

Vivemos em uma cultura marcada pelo consumismo, pela comparação constante e pela idolatria do sucesso. Quantas vezes deixamos de cultivar os bens do espírito por causa da correria em busca do “ter mais”?

Quantas famílias vivem divididas por heranças, bens ou disputas de poder? Como o homem do evangelho, que chega a Jesus pedindo: “Mestre, manda meu irmão repartir comigo a herança” — vemos o quanto a ganância pode ferir até os laços mais sagrados.

Somos convidados hoje a fazer uma pergunta séria: “Para quem estou vivendo? O que estou buscando? Qual é o sentido da minha vida?”

Conclusão: ser rico diante de Deus

Queridos irmãos, a liturgia de hoje nos chama a uma conversão interior, a um desapego libertador, a um novo olhar sobre a vida. Quem vive apenas para si, perde a si mesmo. Mas quem busca as coisas do alto, encontra paz, sentido e plenitude.

Sejamos ricos não de coisas, mas de fé. Não de aparências, mas de amor. Não de vaidades, mas de graça. Que a Eucaristia que celebramos nos fortaleça nesse caminho. E que, como nos diz o Salmo, saibamos contar os nossos dias e assim alcançar um coração sábio.

Amém.

sábado, 26 de julho de 2025

Missão do Japão 27/07/2025: 17º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 11,1-13) Homilia



Tema: O poder da oração, da intercessão e da perseverança diante de Deus Pai.


Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

A liturgia deste 17º Domingo do Tempo Comum nos convida a refletir sobre um dos grandes tesouros da vida cristã: a oração. Mas não qualquer oração; somos chamados hoje a compreender a força da intercessão, a importância da perseverança e a confiança na bondade do Pai que nos escuta sempre.

1. Abraão: um intercessor ousado e perseverante

Na primeira leitura (Gn 18,20-32), vemos uma cena impressionante: Abraão dialoga com Deus como um amigo, intercedendo pelo povo de Sodoma. Ele sabe da gravidade do pecado daquela cidade, mas intercede com coragem, humildade e insistência. De cinquenta justos, chega até dez. Essa passagem nos mostra que a oração pode mover o coração de Deus, porque o Senhor é justo, mas também é misericordioso.

Abraão nos ensina que a oração de intercessão é um ato de amor e de fé. Ele não pede nada para si, mas roga pelos outros. Ele acredita que a presença de poucos justos pode salvar muitos pecadores. Não é isso que Jesus fez por nós? E não é isso que somos chamados a fazer também — interceder pelo mundo, pelos pecadores, pelos nossos irmãos, até mesmo por aqueles que não conhecemos?

2. Jesus ensina a orar: com confiança, insistência e intimidade

No Evangelho (Lc 11,1-13), os discípulos pedem a Jesus: “Senhor, ensina-nos a orar”. E Ele ensina a oração do Pai-Nosso, que é mais do que uma fórmula: é um modelo de relação com Deus como Pai, com simplicidade e confiança.

Jesus nos convida a pedir, buscar, bater. Parece uma repetição? Sim! Porque a oração cristã não é mágica nem imediatismo. É perseverança, relação constante, intimidade que amadurece com o tempo.

E Ele garante: “Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”. Eis o segredo: Deus não nos dá qualquer coisa, Ele nos dá o melhor — o Espírito Santo, a força do amor, o dom maior!

3. A cruz: lugar da oração que nos redime

Na segunda leitura (Cl 2,12-14), São Paulo lembra que, pelo batismo, morremos com Cristo e ressuscitamos com Ele. E como isso aconteceu? “Deus vos deu a vida com Cristo, perdoando todos os pecados”. Essa é a resposta à oração de Abraão: Deus perdoou, não por causa de dez justos, mas por causa de um — Jesus Cristo, o Justo!

A cruz é o maior ato de intercessão. Ali, Jesus orou por nós, entregou-se por nós, perseverou até o fim por amor. A oração do cristão, portanto, não é vazia nem isolada — ela está unida à oração de Cristo, que intercede por nós junto do Pai.

Conclusão: Orai sem cessar

Queridos irmãos, somos chamados hoje a redescobrir o valor da oração na nossa vida.

  • Rezar é conversar com Deus como Abraão, com ousadia e confiança.

  • É pedir com insistência como Jesus ensinou, com fé e perseverança.

  • É viver em comunhão com Cristo, cuja oração na cruz nos deu a vida nova.

Rezemos por nós, mas também pelos outros. Pelos que perderam a fé, pelos que sofrem, pelos que não sabem mais o que pedir. E nunca deixemos de rezar. Porque quem bate, a porta será aberta; quem busca, encontrará; e quem pede, receberá. Deus é Pai, e Pai não decepciona seus filhos.

Amém.

sábado, 19 de julho de 2025

Missão do Japão 20/07/2025: 16º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 10,38-42) Homilia



Tema: “A melhor parte: escutar o Senhor”


Queridos irmãos e irmãs em Cristo,


Neste 16º Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus nos conduz ao coração da verdadeira hospitalidade e da escuta atenta ao Senhor. As três leituras nos falam sobre acolhida, serviço e contemplação. Mas, sobretudo, o Evangelho nos provoca com uma cena conhecida, muitas vezes mal interpretada, entre as irmãs Marta e Maria. Não se trata de contrapor ação e oração, mas de mostrar o que deve ser o centro da vida cristã.

 

1. A hospitalidade de Abraão (Gn 18,1-10a)

Na primeira leitura, vemos Abraão acolhendo três homens misteriosos junto ao carvalho de Mambré. Ele se apressa, prepara alimento, oferece descanso... Essa atitude generosa revela um coração atento ao outro. Mais que isso, Abraão, sem saber, acolhe o próprio Deus. E a promessa de um filho, mesmo em idade avançada, brota dessa acolhida generosa. Quando abrimos nossa casa e nosso coração, Deus age e faz nascer o impossível.


2. O serviço missionário de Paulo (Cl 1,24-28)

São Paulo nos mostra que seguir Cristo implica sofrimento e doação. Ele não se gloria de si, mas da missão de anunciar Cristo, “esperança da glória”. Paulo é um homem de ação intensa, mas sabe que essa ação tem uma fonte: o mistério escondido em Deus e revelado em Cristo. Toda missão precisa brotar de uma experiência profunda de fé. Caso contrário, vira ativismo vazio.

 

3. Marta e Maria: duas atitudes, um chamado (Lc 10,38-42)

O Evangelho nos apresenta duas irmãs: Marta, ativa e preocupada com os afazeres da casa; Maria, sentada aos pés de Jesus, escutando sua palavra. Muitos já entenderam esse texto como um elogio à vida contemplativa e uma crítica à vida ativa. Mas o que Jesus diz a Marta não é uma rejeição de seu serviço, e sim uma correção de sua inquietação interior: “Marta, Marta! Andas agitada e preocupada com muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte”.

Maria representa o coração que para e escuta. Marta representa o coração ansioso que serve, mas que, por vezes, esquece para quem serve. A correção de Jesus não é contra o serviço, mas contra o serviço que perdeu o foco.


4. A mensagem central: servir a partir da escuta

Jesus nos ensina que o verdadeiro discipulado começa na escuta. Antes de fazer, é preciso estar com Ele. Antes de agir, é preciso silenciar o coração para discernir o que Ele quer. Marta não está errada por servir, mas por ter perdido a paz. E essa paz só vem quando colocamos a Palavra de Deus no centro da vida.

Em tempos de tanto barulho, correria e pressão, quantos de nós vivemos como Marta: agitados, sobrecarregados, tentando dar conta de tudo, até das coisas de Deus! Mas talvez estejamos esquecendo de ser Maria: de sentar, escutar, acolher a presença do Senhor.


Conclusão

Queridos irmãos, a Palavra de hoje nos convida a unir Marta e Maria dentro de nós. Precisamos servir, sim — como Abraão, como Marta, como Paulo. Mas esse serviço só será fecundo se nascer da escuta, da intimidade com Jesus, como Maria.

Não se trata de escolher entre uma ou outra, mas de encontrar o equilíbrio: ação com contemplação, serviço com oração. Que possamos hoje escolher “a melhor parte” — não para fugir das tarefas da vida, mas para realizá-las com mais sentido, mais paz e mais amor.

Amém.

sábado, 12 de julho de 2025

Missão do Japão 13/07/2025: 15º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 10,25-37) Homilia



A misericórdia que nos faz próximos

Meus irmãos e minhas irmãs,

A liturgia deste 15º Domingo do Tempo Comum nos convida a uma profunda reflexão sobre a caridade e a misericórdia como caminhos para alcançar a vida eterna. O centro da Palavra de hoje é a conhecida parábola do Bom Samaritano, contada por Jesus em resposta à pergunta de um doutor da Lei: "Quem é o meu próximo?".

1. A Palavra está perto de ti

Na primeira leitura (Dt 30,10-14), ouvimos que a Lei de Deus não está longe nem inacessível. Ela está muito próxima, "em tua boca e em teu coração, para que a ponhas em prática". Essa Palavra é viva e ativa, e nos convida a colocá-la em ação, especialmente na forma como tratamos o nosso próximo. O seguimento a Deus não é feito de teorias distantes ou de mandamentos complicados, mas de atitudes simples e concretas, especialmente de amor ao próximo.

2. Cristo, rosto da misericórdia do Pai

Na segunda leitura (Cl 1,15-20), São Paulo nos apresenta um hino belíssimo sobre Jesus Cristo. Ele é o rosto visível do Deus invisível, aquele que reconciliou todas as coisas pelo sangue da cruz. Essa reconciliação é o gesto supremo de amor e misericórdia. Ao contemplar Cristo, vemos não só a grandeza de Deus, mas também o seu coração cheio de compaixão por todos os que sofrem. Jesus é o verdadeiro Bom Samaritano da humanidade, que se inclina sobre nós em nossas feridas, cuida de nós e nos oferece a salvação.

3. O bom samaritano e a caridade que nos identifica como cristãos

No Evangelho (Lc 10,25-37), Jesus não apenas responde à pergunta do doutor da Lei com uma parábola, mas inverte a lógica da pergunta. Em vez de definir "quem é o próximo", Ele mostra como ser próximo de quem sofre.

O sacerdote e o levita passaram ao largo. Eram homens religiosos, conhecedores da Lei, mas se omitiram diante da dor. Já o samaritano – alguém desprezado pelos judeus – foi quem teve compaixão. Ele não apenas sentiu misericórdia, mas agiu com misericórdia: aproximou-se, cuidou, tratou, conduziu, pagou, comprometeu-se.

Esse é o modelo de caridade cristã: um amor que se traduz em ação concreta. Caridade não é apenas dar algo; é doar-se. É ver o outro, parar por ele, comprometer-se com ele.

Jesus termina dizendo: "Vai e faze tu a mesma coisa." Eis o chamado que ecoa hoje para cada um de nós. A vida eterna não se conquista por palavras ou títulos, mas pelo amor colocado em prática. A caridade é a identidade dos cristãos, a marca do verdadeiro discípulo de Cristo.

4. Aplicações para nossa vida hoje

  • Quem são os feridos que encontramos hoje à beira do caminho? Pode ser um morador de rua, um idoso abandonado, uma criança sem atenção, um jovem sem direção, uma pessoa da nossa casa que sofre em silêncio...

  • Estamos mais parecidos com o samaritano ou com os que passam ao largo?

  • Nossa fé se traduz em ações concretas de cuidado, atenção, empatia?

5. Conclusão

Queridos irmãos e irmãs, hoje a Palavra de Deus nos chama a viver a misericórdia como estilo de vida. Não basta sabermos que devemos amar o próximo; é preciso fazer-nos próximos de quem mais precisa.

Que possamos, fortalecidos pela Eucaristia, nos tornarmos samaritano para os outros. Que nossa caridade não seja ocasional, mas cotidiana. E que sejamos reconhecidos como discípulos de Jesus pelo nosso amor.

"Vai e faze tu a mesma coisa." Amém.

domingo, 6 de julho de 2025

Missão do Japão 06/07/2025: 14º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 10,1-12.17-20) Homilia



"A missão da Igreja como instrumento de paz entre os povos"


Queridos irmãos e irmãs,


Hoje, o Evangelho de Lucas nos apresenta um Jesus que envia seus discípulos em missão, dois a dois, a todas as cidades e lugares aonde Ele mesmo queria ir. É uma cena profundamente missionária, que nos interpela diretamente como povo de Deus em movimento — especialmente a nós, imigrantes brasileiros vivendo aqui no Japão.

Jesus envia os discípulos com um recado claro: “A paz esteja nesta casa.” A missão começa com a paz. E essa paz não é apenas ausência de guerra ou conflito, mas a presença ativa de Deus no meio do seu povo, transformando corações, reconstruindo vínculos e curando feridas.


1. Ser missionário em terra estrangeira

Vocês, irmãos e irmãs, que vivem longe da pátria, já sabem, na carne, o que é se sentir estrangeiro. Muitos de vocês saíram do Brasil em busca de melhores condições de vida, enfrentando a saudade, a diferença cultural, o idioma, o cansaço do trabalho. Mas saibam: vocês não estão aqui por acaso. Deus também os enviou em missão.

Como os setenta e dois discípulos do Evangelho, cada um de vocês é um sinal de que o Reino de Deus quer chegar ao coração do povo japonês. Por meio do seu testemunho, da sua solidariedade, da sua alegria de fé, vocês anunciam que Jesus está vivo e quer habitar também neste povo.


2. A missão da Igreja é construir pontes

A missão da Igreja no mundo, especialmente em contextos de migração e diversidade cultural, é ser ponte entre os povos. Onde há muros de preconceito, a Igreja planta o diálogo. Onde há medo do diferente, a Igreja semeia o respeito. Onde há solidão e desconfiança, a Igreja oferece comunhão e acolhida.

Aqui no Japão, vocês são Igreja viva, são o rosto de uma fé que ultrapassa fronteiras. Sua comunidade pode ser instrumento de paz, aproximando brasileiros e japoneses, mostrando que é possível viver juntos, aprender uns com os outros, rezar juntos, e cuidar uns dos outros.


3. A alegria da missão

No final do Evangelho, os discípulos voltam felizes: “Senhor, até os demônios se nos submetem por causa do teu nome!” Jesus escuta, mas convida a ir mais fundo: “Alegrai-vos antes porque vossos nomes estão escritos no céu.”

Não é o sucesso da missão que nos define, mas o fato de sermos amados e conhecidos por Deus. Nossa missão nasce desse amor e volta para esse amor. Mesmo que as dificuldades apareçam — e elas aparecem —, mesmo que a missão pareça difícil — e muitas vezes é —, nada pode apagar o fato de que pertencemos a Deus.


Queridos irmãos e irmãs,

Vocês são discípulos e missionários aqui no Japão. Sejam sinais de paz, acolhimento e esperança. O mundo precisa de testemunhos que unam, e não dividam. Que a Igreja, por meio de vocês, continue sendo um farol de luz na noite da migração, uma ponte de fraternidade entre os povos.

E nunca se esqueçam: Jesus caminha com vocês. Ele os enviou, e Ele mesmo quer passar por onde vocês passam. Levem a paz. Levem o amor. Levem o Reino de Deus.


Amém.

sábado, 21 de junho de 2025

Missão do Japão 22/06/2025: 12º Domingo do Tempo Comum | ANO C (Lc 9,18-24) Homilia



Meus irmãos e minhas irmãs,


O Evangelho deste domingo nos convida a refletir sobre uma pergunta fundamental para a nossa vida de fé:
“E vós, quem dizeis que eu sou?”

Essa pergunta que Jesus faz aos discípulos não é apenas uma curiosidade d’Ele, mas um chamado para que cada um deles – e cada um de nós hoje – se pergunte: quem é Jesus para mim?

É interessante perceber que, antes de fazer essa pergunta, Jesus estava em oração, a sós com Deus. É da intimidade com o Pai que brota essa questão essencial, que toca o mais profundo do coração humano.

Os discípulos começam respondendo com aquilo que escutam por aí:
— Uns dizem que és João Batista, outros, Elias, outros, algum dos antigos profetas que ressuscitou...
Mas Jesus quer mais. Ele não quer saber o que os outros dizem. Ele quer saber o que cada discípulo carrega no coração.

E Pedro, movido pelo Espírito, responde com firmeza:
“Tu és o Cristo de Deus.”
Pedro acerta, mas não entende ainda completamente. Porque, na cabeça dele – e dos outros – o Messias seria um rei poderoso, alguém que iria livrar o povo do domínio dos opressores, que restauraria Israel com força e glória.

Mas Jesus surpreende e desconcerta. Ele anuncia, pela primeira vez, algo que ninguém esperava:
“O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar.”
O Messias que eles esperavam não combina com o Messias que Deus quer.

O escândalo da cruz

A primeira leitura, do profeta Zacarias, já preparava o povo para isso. Ela fala de alguém que será transpassado, e que o povo olhará para ele com dor, como quem chora a morte de um filho único. E, no entanto, desse sofrimento, brota uma fonte de salvação, de purificação.

O sofrimento e a cruz, aos olhos do mundo, são fracasso. Mas, aos olhos de Deus, são caminho de vida, de redenção, de amor levado até o fim.

Seguir Jesus: um caminho de amor e entrega

Depois de anunciar a sua paixão, Jesus não deixa dúvidas sobre o que significa segui-lo:
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me.”
Não é um caminho fácil. Não é uma vida de facilidades, de milagres à disposição, de bênçãos automáticas. É um caminho de amor, de doação, de serviço.

Renunciar a si mesmo não significa negar quem somos, mas deixar de lado o egoísmo, o orgulho, o desejo de ser o centro de tudo. É colocar Deus no centro, e servir aos irmãos, especialmente os mais fracos e sofridos.

Tomar a cruz cada dia não é buscar sofrimento, mas é assumir, com amor e fé, as dificuldades que a vida traz — especialmente aquelas que vêm por causa do Evangelho: quando lutamos pela justiça, quando defendemos os pobres, quando somos fiéis à verdade, quando amamos mesmo sendo rejeitados.

Todos somos um só em Cristo

E aqui entra a belíssima segunda leitura, da Carta aos Gálatas, que completa essa reflexão:
“Vós todos sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo.”
E não há mais distinção: não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher. Todos somos um só em Cristo.
Esse é o horizonte do seguimento: uma humanidade reconciliada, sem divisões, sem discriminação, onde todos se reconhecem irmãos, filhos e filhas do mesmo Deus.

Conclusão: quem é Jesus para mim?

Queridos irmãos, hoje Jesus continua nos perguntando:
“E para você, quem sou eu?”
Será que Jesus é só uma ideia? Uma tradição? Um costume de ir à missa de vez em quando?
Ou Ele é, de fato, o centro da minha vida? O Senhor, o Salvador, aquele que me ama, que me chama a amar, servir, carregar a cruz com fé, esperança e amor?

Que essa Eucaristia nos fortaleça. Que olhando para Jesus, o Cristo que dá a vida por amor, também nós tenhamos coragem de segui-lo, tomando nossa cruz de cada dia, certos de que quem perde sua vida por Ele, na verdade, a encontra em plenitude.

Amém.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Missão do Japão 15/06/2025: Solenidade da Santíssima Trindade | ANO C (Jo 16,12-15) Homilia



Queridos irmãos e irmãs,

Hoje celebramos um dos maiores mistérios da nossa fé: o mistério da Santíssima Trindade — um só Deus em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

Muitos podem se perguntar: “Como entender esse mistério?” Na verdade, não se trata de entender completamente, mas de acolher com amor esse Deus que se revela a nós como comunhão, amor e relação. Mesmo assim, a Igreja, ao longo da história, tem usado muitas comparações para nos ajudar a compreender um pouco mais.

1. Deus é como o Sol: luz, calor e energia.

O Sol é um só, mas dele vêm três realidades que experimentamos: a luz que ilumina, o calor que aquece e a energia que dá vida. Assim é Deus:

  • O Pai é a fonte, como o Sol em si.
  • O Filho é a luz, que ilumina o mundo e nos mostra o caminho.
  • O Espírito Santo é o calor e a energia, que aquece os corações e impulsiona a vida da Igreja.

São três manifestações inseparáveis, mas é um só Sol, como é um só Deus.

2. A Sabedoria do Pai, a Graça do Filho e o Amor do Espírito (Pr 8,22-31; Jo 16,12-15)

Na primeira leitura, vemos a Sabedoria de Deus, presente desde a criação. Essa sabedoria é expressão do amor do Pai, que cria tudo com cuidado e beleza.

No evangelho, Jesus diz que o Espírito nos conduzirá à verdade completa, porque tudo que o Filho tem vem do Pai, e tudo que o Espírito comunica vem do Filho. É uma comunhão perfeita onde ninguém guarda nada para si. É como uma fonte de amor que transborda constantemente.

3. Deus é como a água: líquido, vapor e gelo.

Água é sempre água, mas pode se manifestar em três formas:

  • Líquido que sacia e lava.
  • Vapor que sobe, envolve e aquece.
  • Gelo que sustenta, refresca e dá forma.

Assim é Deus: um só na essência, três nas formas de se manifestar e agir no mundo.

4. Trindade: uma família perfeita de amor

Quando olhamos para uma família onde há amor verdadeiro — pais, filhos e irmãos —, vemos ali um reflexo da Trindade. O amor não existe sozinho. O amor precisa de alguém para amar e alguém que responda a esse amor.

O Pai ama o Filho, o Filho ama o Pai, e o amor entre eles é tão perfeito, tão pleno, que é o Espírito Santo.

5. O que isso tem a ver conosco? (Rm 5,1-5)

Na segunda leitura, São Paulo nos lembra que, justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio de Jesus Cristo, e o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo.

Isso quer dizer que a Trindade não é um mistério distante, teórico ou abstrato. A Trindade habita em nós! Cada vez que amamos, que perdoamos, que servimos, que buscamos a paz, tornamo-nos reflexo desse Deus que é amor, comunhão e unidade.

Conclusão:

Celebrar a Santíssima Trindade é celebrar que Deus não é solidão, Deus é comunhão. E nós, criados à imagem e semelhança desse Deus, somos chamados a viver também em comunhão — na família, na comunidade, na Igreja, no mundo.

Onde houver amor, unidade e partilha, aí está Deus presente.

Que possamos, ao fazer o sinal da cruz — em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo —, lembrar que carregamos em nós esse mistério de amor que nos dá vida, sentido e missão.

Amém.