Queridos irmãos e irmãs,
Hoje a Igreja celebra uma festa muito
especial, que talvez à primeira vista pareça distante de nós: a Dedicação da
Basílica de São João de Latrão, em Roma. Mas esta festa, na verdade, fala
de nossa própria fé, da nossa comunhão com toda a Igreja e da presença de
Deus em meio ao seu povo.
1. O
significado da Basílica do Latrão
A Basílica de São João de Latrão é a catedral
do Papa, o bispo de Roma, e, portanto, a igreja-mãe de todas as
igrejas do mundo.
Foi construída no início do século IV, quando o imperador Constantino
concedeu liberdade aos cristãos para viverem sua fé publicamente. Até então, os
cristãos celebravam escondidos, em casas e catacumbas.
Constantino doou à Igreja um terreno da
família Laterani, e ali se ergueu a primeira basílica cristã oficial, dedicada
ao Santíssimo Salvador. Mais tarde, foram acrescentadas as devoções a São
João Batista e São João Evangelista, daí o nome Basílica de São
João de Latrão.
Durante séculos, ela foi residência dos
papas, local de grandes concílios e sinal visível da unidade da
Igreja. Por isso, celebramos hoje não apenas um edifício, mas a
comunhão viva entre todas as igrejas e comunidades cristãs do mundo, unidas
ao sucessor de Pedro.
2. O templo
que dá vida – como na visão de Ezequiel
A primeira leitura (Ez 47,1-2.8-9.12)
nos apresenta uma imagem belíssima:
do lado direito do templo de Jerusalém brota uma fonte de água que corre
e faz viver tudo por onde passa — até o mar morto se torna fecundo!
Essa água é símbolo da graça de Deus,
que jorra de Cristo, o novo templo.
Dele nasce a vida que transforma o deserto em jardim, a morte em esperança.
Hoje, essa água também brota do templo
espiritual da Igreja, que somos todos nós.
Cada paróquia, cada comunidade, cada coração fiel é chamado a ser canal
dessa água viva, que purifica, consola e renova.
Zelar pela Casa de Deus, portanto, é cuidar
para que a graça continue fluindo, para que estejamos sempre abertos à ação
do Espírito e sejamos fontes de vida para o mundo.
3. “O zelo
por tua casa me consumirá” – o templo purificado por Jesus
No Evangelho (Jo 2,13-22), Jesus sobe a
Jerusalém e encontra o templo transformado em mercado.
Tomado por um zelo ardente pela casa do Pai, Ele expulsa os vendedores e
diz:
“Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!”
O gesto de Jesus não é apenas um ato de
correção moral, mas um sinal profético: o verdadeiro templo não será
mais de pedra, mas o seu próprio corpo, entregue por amor na cruz.
A partir da morte e ressurreição de Cristo, nós
nos tornamos o templo onde Deus habita. Por isso, São Paulo nos recorda na
segunda leitura:
“Vós sois o templo de Deus, e o Espírito de Deus habita em vós.”
Zelar pela casa de Deus é, antes de tudo, zelar
pelo nosso coração, mantendo-o puro, limpo de todo egoísmo, de toda
ganância, de tudo o que impede a presença do Senhor.
4. Como os
fiéis podem zelar pela Casa de Deus
Celebrar esta festa é renovar nosso
compromisso de cuidar, com amor, da Igreja que é de pedra e da Igreja
viva que somos nós:
- Zelar pela Igreja-edifício:
- cuidar com reverência do templo onde celebramos;
- respeitar o espaço sagrado, a liturgia e os momentos de oração;
- participar ativamente da vida paroquial, com gratidão e
colaboração.
- Zelar pela Igreja-povo:
- cultivar a comunhão e o perdão;
- ser presença fraterna, solidária, servidora;
- viver de modo que o Evangelho se torne visível em nossas atitudes.
- Zelar pelo templo do coração:
- buscar a confissão e a oração;
- afastar tudo o que suja a alma;
- permitir que o Espírito Santo faça morada em nós.
5.
Conclusão
A festa da Dedicação da Basílica de Latrão nos
convida, portanto, a agradecer a Deus pelo dom da Igreja, por termos uma
casa de oração onde podemos celebrar e nos encontrar com Ele.
Mas nos chama também a sermos templos vivos, luminosos e acolhedores,
por onde passa a água viva do amor de Cristo.
Que o zelo do Coração de Jesus também
nos consuma — não de raiva ou impaciência, mas de amor apaixonado por Deus e
pela sua casa.
E que cada um de nós possa dizer: “Senhor, fazei do meu coração uma morada
pura para o vosso Espírito.”
Oração final:
Senhor Jesus, templo verdadeiro do Pai, purificai o nosso coração de tudo o que
o afasta de vós.
Fazei-nos servidores fiéis da vossa Igreja, cuidando com amor de vossa casa e
construindo, com nossa vida, um templo espiritual onde reine a paz, a comunhão
e o amor.
Amém.












